Não
sei se é comum acontecer com pessoas da minha idade, mas não tenho nenhuma
dificuldade em desprezar algo que por muitos anos me causou alegria.
Vários
prazeres eu deixei pelo caminho da minha existência, sem o menor sacrifício. O
último deles foi o futebol - após a eliminação do meu ex-Bota dos jogos da Taça
Guanabara.
“Loco”
pela vergonhosa cobrança de um pênalti, desliguei a televisão e chamei o
técnico para desconectar o sinal da minha TV do grupo de assinantes do meu
condomínio.
Bendito
pênalti perdido pelo “Loco”!
Ganhei
paz, tranquilidade, e, principalmente, tempo para ler, pelo menos, os livros
que Papai Noel me deu no Natal.
Viciado
em programas esportivos, além de assistir aos jogos do Fogão, era obrigado a
“secar” seus adversários.
Em
caso de vitória, uma enormidade de tempo eu perdia - ouvia mesas redondas de
vários canais de TV e até replay dos jogos. Este tempo perdido só foi avaliado
e percebido com a vergonhosa derrota.
Lambendo
as feridas abertas por aquele pênalti perdido, vejo que fiz um bom negócio, em
todos os sentidos, inclusive monetários.
Ganhei
espaço para outros prazeres e, principalmente, fiquei livre da obrigatoriedade
de assistir aos infinitos jogos - quase diários -, verdadeiros consumidores de
tempo que, com toda a certeza, será, de agora em diante, melhor aproveitado.
Na
pior das hipóteses, voltarei a curtir o ócio.
É
irracional sofrer e estimular as suprarrenais por causa de um desses
milionários do futebol. Não fazem nada que justifique o ganho de tanto
dinheiro em seus holerites e as homenagens recebidas - até da Academia
Brasileira de Letras - pelo exemplo de vencer na vida sem ter nunca lido um
livro.
Sei
que certas coisas só acontecem ao Botafogo, mas tudo na vida tem um limite.
Colocar
um “Loco” para decidir um jogo, foi a gota d’água na paciência deste velho
ex-torcedor.
Temo
por uma recaída, mas vou apelar aos meus santos para me livrar desse
mal.
A
decisão está tomada: desprezo pelo futebol e agregação de novos prazeres.
Narasimha
Rao, ex-primeiro ministro indiano, ajudou-me na decisão em relação ao meu
ex-Fogão: “Decisões são mais fáceis quando não há mais escolhas.”
Gabriel
Novis Neves
24-02-2012
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