domingo, 26 de fevereiro de 2012

Desprezo


Não sei se é comum acontecer com pessoas da minha idade, mas não tenho nenhuma dificuldade em desprezar algo que por muitos anos me causou alegria.
Vários prazeres eu deixei pelo caminho da minha existência, sem o menor sacrifício. O último deles foi o futebol - após a eliminação do meu ex-Bota dos jogos da Taça Guanabara.
“Loco” pela vergonhosa cobrança de um pênalti, desliguei a televisão e chamei o técnico para desconectar o sinal da minha TV do grupo de assinantes do meu condomínio.
Bendito pênalti perdido pelo “Loco”!
Ganhei paz, tranquilidade, e, principalmente, tempo para ler, pelo menos, os livros que Papai Noel me deu no Natal.
Viciado em programas esportivos, além de assistir aos jogos do Fogão, era obrigado a “secar” seus adversários.
Em caso de vitória, uma enormidade de tempo eu perdia - ouvia mesas redondas de vários canais de TV e até replay dos jogos. Este tempo perdido só foi avaliado e percebido com a vergonhosa derrota.
Lambendo as feridas abertas por aquele pênalti perdido, vejo que fiz um bom negócio, em todos os sentidos, inclusive monetários.
Ganhei espaço para outros prazeres e, principalmente, fiquei livre da obrigatoriedade de assistir aos infinitos jogos - quase diários -, verdadeiros consumidores de tempo que, com toda a certeza, será, de agora em diante, melhor aproveitado.
Na pior das hipóteses, voltarei a curtir o ócio.
É irracional sofrer e estimular as suprarrenais por causa de um desses milionários do futebol.  Não fazem nada que justifique o ganho de tanto dinheiro em seus holerites e as homenagens recebidas - até da Academia Brasileira de Letras - pelo exemplo de vencer na vida sem ter nunca lido um livro.
Sei que certas coisas só acontecem ao Botafogo, mas tudo na vida tem um limite.
Colocar um “Loco” para decidir um jogo, foi a gota d’água na paciência deste velho ex-torcedor.
Temo por uma recaída, mas vou apelar aos meus santos para me livrar desse mal.  
A decisão está tomada: desprezo pelo futebol e agregação de novos prazeres. 
Narasimha Rao, ex-primeiro ministro indiano, ajudou-me na decisão em relação ao meu ex-Fogão: “Decisões são mais fáceis quando não há mais escolhas.”

Gabriel Novis Neves    
24-02-2012

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