Vou
deixar a mentira, que é doce, para as festas do Rei Momo, onde tudo são
fantasias e ilusões nos três dias oficiais do nosso carnaval.
A
verdade é azeda. Os homens do poder que o digam: não suportam ouvi-la.
A
verdade não é filha do preconceito, imaginação ou delírio, mas fatos que
marcaram o triste ano de 2011 - e que muitos nem mais se recordam devido à
abundância desses acontecimentos - onde providências não foram tomadas por quem
de direito.
Quando
criança, bastava acordar com uma simples febre virótica, para que a minha mãe
procurasse os conselhos do “seo’ Campos ou “seo” Vieira, donos de farmácias
próximas à minha casa.
Com
o envelope manipulado de salofeno, um pozinho branco, as providências estavam
tomadas e o moleque curado.
O
Brasil precisa de uma mãe cuidadosa com a saúde dos seus filhos.
“A
inflação oficial fechou 2011 em 6.5%, a maior em sete anos.” Não providenciaram
nem um envelope do salofeno para baixá-la. Pelo contrário, o divulgado pelo
governo é que não existe inflação no Brasil, e os salários dos pequenos
funcionários terão um reajuste virtual.
Essa
regra de aumento dos funcionários sem QI (quem indica), não vale para os
servidores públicos responsáveis pela feitura e fiscalização das leis.
Para
esse seleto grupo de brasileiros, que “não são qualquer um,” tudo é permitido.
Recebem supersalários, não respeitam o teto constitucional referente ao valor
máximo que um funcionário público pode receber, além de um sem número de outras
vantagens, como aposentadorias integrais por exercício de um cargo
comissionado, às vezes, por menos de trinta dias.
“As
chuvas, com o rompimento de um dique, paralisaram 80% da economia do norte do
Rio de Janeiro.” O governo federal ajudou o Estado do ministro das chuvas
destinando 90% do seu orçamento para o ensolarado Pernambuco.
O
pior, ou melhor - nem sei mais -, com o conhecimento de todos, inclusive da
presidente da República, segundo depoimento do ministro no Congresso em férias,
com plenário lotado, o que demonstra grande poder de mobilização do Palácio do
Planalto.
Se
essa mobilização fosse feita com essa eficiência para aliviar a situação dos
desabrigados pelas enchentes, o quadro seria de menor sofrimento.
A
mídia grande deu amplo destaque à prisão do presidente da Beija-Flor, que mora
na Avenida Atlântica no Rio de Janeiro - no apartamento tríplex que foi do
doutor Roberto Marinho.
As
enchentes têm todos os anos e essas prisões acontecem sempre antes do Carnaval.
Com certeza, no dia dos desfiles, todos esses beneméritos da alegria do povo e
do turismo, estarão no Sambódromo recebendo homenagens das nossas mais altas
autoridades.
“Após
um Natal abaixo do esperado pelo varejo, consumidores vão às compras em busca
de liquidação.”
“Uma
pesquisa da FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), mostra que,
adquirir um apartamento de oitenta metros quadrados, com sala e dois quartos na
Cidade Maravilhosa custa 10% mais caro que na Cidade Luz.”
“Morar
no Rio de Janeiro é mais caro que em Paris, São Paulo e Buenos Aires. No Brasil
o metro quadrado mais caro é: Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo
Horizonte, Recife, Fortaleza e Salvador.”
“Só
agora o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, está pronto para receber o
primeiro voo do maior avião do mundo operado pelos Emirados Árabes.”
Finalmente
a mais azeda das notícias: “Os brasileiros se mostraram menos solidários em
2011”. Pelo menos é o que indica a pesquisa World Giving Index, publicada pela
Charites Aid Foundation e que ouviu cento e cinqüenta mil pessoas.
“Nela,
o Brasil caiu de 76ª para 85ª posição na lista dos 153 países cujos habitantes
mais contribuíram com tempo ou dinheiro para causas sociais.”
Realmente
a verdade é azeda.
Gabriel
Novis Neves
14-01-2012
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