sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O QUE É?


Acordei bem, considerando os indicadores das minhas funções vitais. Sabia onde estava, respirava normalmente, não sentia nenhuma dor física e era mais um dia que estava nascendo.
Ainda escuro, me preparo e vou para a academia de ginástica, por honra da firma. Quando moço, via o dia amanhecer lendo alguma coisa, ouvindo noticiário da televisão e o movimento de uma casa com três pequenas crianças e uma mãe superproterora. Regina transferiu para essas crianças até a sua última célula.
Agora faço todo esse preparo em silêncio e vou para a malhação. Esteiras e máquinas as mais diferentes, para reforçar velhos músculos para segurar a pesada estrutura óssea do velho cronista da padaria.
Na volta da puxada aula de ginástica, ao desfazer o nó do cadarço do meu tênis, sinto que me faltava não sei o quê.
Uma tristeza aguda desabou sobre mim sem motivo algum. O dia não é de nenhuma data especial, o silêncio em minha casa chega a me incomodar, não ouço vozes e forças não tive para ligar a televisão para ver e ouvir desgraças.
Não consigo dominar o meu pensamento, que insiste em me lembrar de frases do passado: “Não gostaria de deixar essas crianças. Queria ficar mais tempo com elas. Sei que vou morrer.”
O que está acontecendo comigo nesta manhã? Tentei sair desse poço de emoções, onde muita água engoli na angústia vivida.
Ensinaram-me que o tempo é o melhor remédio que existe. Acreditava no poder da milagrosa fórmula do tempo para a cura, especialmente para os males da alma.
A minha concepção atual, é que o tempo ameniza, mas não cura. Fico a pensar na existência da cura. O seu diagnóstico diferencial tem que ser feito com o tempo do nosso ciclo vital.
Tenho receio dos fazedores de milagres, e hoje são tantos, com os mais diferenciados equipamentos e nomes sofisticados, que os pobres não entendem e nem acesso têm a eles.
São verdadeiras fábricas de curas mercantilizadas. Toda doença hoje, com um bom cartão de crédito, é curada, como se isso fosse simples e fácil.
Tentam fazer o mesmo os comerciantes da felicidade. Por que o meu cérebro resolveu me presentear com essas recordações sem me avisar, para que eu, pelo menos, me preparasse para recebê-las?
O pensamento é indomável. Saí de casa para o trabalho com a pergunta que não sei responder.
O que é isso?

Gabriel Novis Neves
16-01-2012

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