Acordei
bem, considerando os indicadores das minhas funções vitais. Sabia onde estava,
respirava normalmente, não sentia nenhuma dor física e era mais um dia que
estava nascendo.
Ainda
escuro, me preparo e vou para a academia de ginástica, por honra da firma.
Quando moço, via o dia amanhecer lendo alguma coisa, ouvindo noticiário da
televisão e o movimento de uma casa com três pequenas crianças e uma mãe
superproterora. Regina transferiu para essas crianças até a sua última célula.
Agora
faço todo esse preparo em silêncio e vou para a malhação. Esteiras e máquinas
as mais diferentes, para reforçar velhos músculos para segurar a pesada
estrutura óssea do velho cronista da padaria.
Na
volta da puxada aula de ginástica, ao desfazer o nó do cadarço do meu tênis,
sinto que me faltava não sei o quê.
Uma
tristeza aguda desabou sobre mim sem motivo algum. O dia não é de nenhuma data
especial, o silêncio em minha casa chega a me incomodar, não ouço vozes e
forças não tive para ligar a televisão para ver e ouvir desgraças.
Não
consigo dominar o meu pensamento, que insiste em me lembrar de frases do
passado: “Não gostaria de deixar essas crianças. Queria ficar mais tempo com
elas. Sei que vou morrer.”
O
que está acontecendo comigo nesta manhã? Tentei sair desse poço de emoções,
onde muita água engoli na angústia vivida.
Ensinaram-me
que o tempo é o melhor remédio que existe. Acreditava no poder da milagrosa
fórmula do tempo para a cura, especialmente para os males da alma.
A
minha concepção atual, é que o tempo ameniza, mas não cura. Fico a pensar na
existência da cura. O seu diagnóstico diferencial tem que ser feito com o tempo
do nosso ciclo vital.
Tenho
receio dos fazedores de milagres, e hoje são tantos, com os mais diferenciados
equipamentos e nomes sofisticados, que os pobres não entendem e nem acesso têm
a eles.
São
verdadeiras fábricas de curas mercantilizadas. Toda doença hoje, com um bom
cartão de crédito, é curada, como se isso fosse simples e fácil.
Tentam
fazer o mesmo os comerciantes da felicidade. Por que o meu cérebro resolveu me
presentear com essas recordações sem me avisar, para que eu, pelo menos, me
preparasse para recebê-las?
O
pensamento é indomável. Saí de casa para o trabalho com a pergunta que não sei
responder.
O
que é isso?
Gabriel
Novis Neves
16-01-2012
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