Essa
expressão foi criada por Nelson Rodrigues no início dos anos cinquenta.
Significa coisa clara e patente.
Refere-se
a tudo que é “lugar comum, que é banal, não original, enfim a tudo aquilo que é
visto à primeira vista e que não exige criatividade, renovação.”
Custei
muito a entender o Nelson Rodrigues. Achava que escrevia ficção, e não, a vida
como ela é.
Estudante
no Rio, eu lia tudo do Anjo Pornográfico e assistia, quando a mesada permitia,
às suas peças de teatro.
Não
tenho receio algum de chamá-lo de gênio, ele que foi um dos autores mais
polêmicos do Brasil. Fez muitas coisas boas, e outras nem tanto assim, mas o
saldo da sua extensa obra lhe é favorável.
Vestido
de Noiva, encenada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, mudou a história da
dramaturgia brasileira.
Nelson,
na sua coluna “Confissões” no Jornal O Globo, despertava compaixão, amor e
ódio. É a gloria de todo escritor, pois “toda unanimidade é burra”, segundo o
autor maldito - como era chamado pelos seus desafetos.
Ali
nasceu o óbvio ululante, e o escritor que criticava e elogiava sem demagogia
nem troca de favores.
Nelson
escrevia porque precisava da escrita como do oxigênio para viver. Ganhou
dinheiro sem fazer concessões. Os seus artigos eram materiais de consumo.
Nelson
dizia que “o trágico da nossa época ou, melhor dizendo, do Brasil atual (1950),
é que o idiota mudou até fisicamente. Não faz apenas o curso primário, como no
passado. Estuda, forma-se, lê, sabe. Nas recepções do Itamaraty, as casacas
vestem os idiotas. E mais: eles têm as melhores mulheres e usam mais
condecorações do que um arquiduque austríaco.” Esse texto pode perfeitamente ser
utilizado nos dias de hoje.
O
que diferencia o gênio dos demais mortais, é que a sua obra não envelhece. Está
sempre atualizada.
Hoje,
temos escritores que criticam (poucos) e os que elogiam (muitos). Como
proliferaram os idiotas em todo o mundo! Têm curso superior com pós-graduação.
Só usam produtos de grife para esconderem a sua idiotia. Estão em todos os
lugares, e se acham, como todo idiota, que nasceram com o poder do óbvio
ululante (enxergarem as coisas claras).
Prepotentes,
presunçosos e vaidosos, dominam o cenário político e social. E, como os
idiotas, são insensíveis. Também, se não fossem, não seriam idiotas.
Para
que não pairem dúvidas sobre o significado do óbvio ululante, citarei alguns
fatos, dentre muitos, acontecidos em janeiro de 2012.
-
Dilma elogia Haddad como o grande ministro da educação do Brasil. É obvio
ululante, pois o mesmo é candidato da presidente à prefeitura de São Paulo.
-
No Rio, o governador do Estado cumprimenta a presidente por ter vetado a emenda
constitucional 29, que destinava mais recursos para a saúde pública. Isto
porque, para o Rio, existem recursos especiais para a saúde pública, força
nacional para a segurança pública e vistas grossas para a administração atual.
-
O sindicato dos empreiteiros de Mato Grosso afirma que o Estado não paga a
execução das obras contratadas. Alguma dificuldade em entender por que um
grande número de obras está paralisado?
-
O Governo Federal deverá liberar R$ 423 milhões do FGTS para o VLT de Cuiabá. O
Estado completará com empréstimos de, aproximadamente, R$ 700 milhões. No
momento o cofre do Tesouro do Estado está vazio. Todo mundo sabe da situação
financeira do Estado, e o corte inicial de mais de R$1 bilhão no seu orçamento.
-
Em Mato Grosso, 42% de empresas fecharam as suas portas em 2011, conforme
levantamento da Junta Comercial de MT (Jucemat).
É
obvio ululante que ficarei por aqui. Os médicos de Várzea Grande estão em
greve.
Gabriel
Novis Neves
19-01-2012
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