Ibrahim
Sued foi um famoso colunista social que mandou neste país nos anos dourados.
Cunhou inúmeras frases, que até hoje circulam pela comunicação escrita e
falada.
Como
poucos, soube fazer amigos e explorar a vaidade humana. Tinha excelentes
fontes. A sua coluna, no jornal de maior prestígio no Rio de Janeiro, era muito
lida, e chegou a fazer, provisoriamente, um presidente da República em plena
revolução.
Essa
informação me foi contada pelo ministro da Justiça da época. Era adorado e
temido. Uma notinha na coluna do Ibrahim era motivo de festa e de status.
A
sua fama era tanta, que o sambista Jorge Veiga gravou um sucesso homenageando o
Ibrahim.
O
colunista terminava as suas notinhas diárias com um bordão criado por ele:
“Gente fina é outra coisa”.
O
ex-governador de Mato Grosso veio a Cuiabá receber o novo ministro dos
Esportes, que fez questão de visitar as doze cidades sede para acompanhar o
desenvolvimento das obras da Copa 2014.
A
imprensa local estava ansiosa pela oportunidade de entrevistar o antigo
governador, não com relação ao campo de futebol, menos ainda sobre o puxadinho
do aeroporto.
Há
tempos corre pela cidade que o Estado está quebrado. Um membro do primeiro
escalão do governo atual, em conversa com jornalistas, admitiu que o governo
atual recebeu uma herança maldita, escondida durante a quarentena, e agora
revelada pelo corte de mais de um bilhão no orçamento do exercício financeiro
iniciado.
O
Estado está sem pagar os prestadores de serviços executados, sem previsão de
recebimento, e o resultado está à vista de todos.
Os
empreiteiros, em sua maioria, pararam com as obras. Os hospitais deixaram de
realizar procedimentos, como é o dramático caso dos pacientes com câncer. O ano
letivo em muitos municípios teve o seu início adiado por falta de salas de
aula.
Não
há dinheiro, é o que mais se ouve nas redondezas do poder.
O
governador atual tem um excepcional controle emocional, e um estômago que nada
lhe faz mal.
Sabe
tim-tim por tim-tim, por que estamos assim. Mesmo provocado, prefere o silêncio
comprometedor a esclarecer porque vamos mal das finanças. É um político
conciliador, que cede para conquistar novos espaços. Ninguém chega ao cargo que
chegou por sorte. É mérito para o poder.
Na
visita ao novo campo de futebol da cidade, construído onde foi implodido o
Verdão, na brecha da visita, os jornalistas cercaram o ex-governador,
forçando-o a responder as perguntas da pauta da mídia.
Inteligente
e objetivo, logo na primeira pergunta o entrevistado desmoronou todas as
demais:
“O
meu governo terminou no dia 31 de março de 2010. Esse problema que o Estado
enfrenta com o caixa do tesouro vazio, aconteceu após a minha saída”.
E
continuou: “Em outras palavras, não tenho nada com o que hoje acontece - após
quase dois anos da minha saída do governo. Quando deixei o cargo as finanças
estavam em perfeito equilíbrio”.
Com
relação aos precatórios, o ex-governador esclareceu que: “minha orientação foi
uma. Se estourou o escândalo, batizado de cartas marcadas, não tenho
conhecimento. Quem comandou as negociações da compra dos maquinários, não fui
eu.”
Finalizando
ele declarou: “O meu governo escolheu como transporte modal para Cuiabá o BRT,
que era totalmente financiado pelo governo federal e aprovado pela FIFA. Se
trocaram por um sistema três vezes mais caro, e, se para a implantação do VLT,
há necessidade de pegar dinheiro emprestado, isso não é comigo”.
A
entrevista acabou por aí.
Acontece
que o líder do governo na Assembléia Legislativa, soltou os cachorros em cima
do ex-governador. Pela primeira vez, em nove anos, alguém teve a petulância de
contestar publicamente o governo passado.
O
governador atual ficou na sua, de Santo da Paz. O ex, por sua vez, foi
duramente atingido pelas palavras que o deputado líder jogou no ventilador.
Gente
fina é outra coisa.
Gabriel
Novis Neves
06-02-2012
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