quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

É OUTRA COISA


Ibrahim Sued foi um famoso colunista social que mandou neste país nos anos dourados. Cunhou inúmeras frases, que até hoje circulam pela comunicação escrita e falada.
Como poucos, soube fazer amigos e explorar a vaidade humana. Tinha excelentes fontes. A sua coluna, no jornal de maior prestígio no Rio de Janeiro, era muito lida, e chegou a fazer, provisoriamente, um presidente da República em plena revolução.
Essa informação me foi contada pelo ministro da Justiça da época. Era adorado e temido. Uma notinha na coluna do Ibrahim era motivo de festa e de status.
A sua fama era tanta, que o sambista Jorge Veiga gravou um sucesso homenageando o Ibrahim.
O colunista terminava as suas notinhas diárias com um bordão criado por ele: “Gente fina é outra coisa”.
O ex-governador de Mato Grosso veio a Cuiabá receber o novo ministro dos Esportes, que fez questão de visitar as doze cidades sede para acompanhar o desenvolvimento das obras da Copa 2014. 
A imprensa local estava ansiosa pela oportunidade de entrevistar o antigo governador, não com relação ao campo de futebol, menos ainda sobre o puxadinho do aeroporto.
Há tempos corre pela cidade que o Estado está quebrado. Um membro do primeiro escalão do governo atual, em conversa com jornalistas, admitiu que o governo atual recebeu uma herança maldita, escondida durante a quarentena, e agora revelada pelo corte de mais de um bilhão no orçamento do exercício financeiro iniciado.
O Estado está sem pagar os prestadores de serviços executados, sem previsão de recebimento, e o resultado está à vista de todos.
Os empreiteiros, em sua maioria, pararam com as obras. Os hospitais deixaram de realizar procedimentos, como é o dramático caso dos pacientes com câncer. O ano letivo em muitos municípios teve o seu início adiado por falta de salas de aula.
Não há dinheiro, é o que mais se ouve nas redondezas do poder.
O governador atual tem um excepcional controle emocional, e um estômago que nada lhe faz mal. 
Sabe tim-tim por tim-tim, por que estamos assim. Mesmo provocado, prefere o silêncio comprometedor a esclarecer porque vamos mal das finanças. É um político conciliador, que cede para conquistar novos espaços. Ninguém chega ao cargo que chegou por sorte. É mérito para o poder.
Na visita ao novo campo de futebol da cidade, construído onde foi implodido o Verdão, na brecha da visita, os jornalistas cercaram o ex-governador, forçando-o a responder as perguntas da pauta da mídia.
Inteligente e objetivo, logo na primeira pergunta o entrevistado desmoronou todas as demais:
“O meu governo terminou no dia 31 de março de 2010. Esse problema que o Estado enfrenta com o caixa do tesouro vazio, aconteceu após a minha saída”.
E continuou: “Em outras palavras, não tenho nada com o que hoje acontece - após quase dois anos da minha saída do governo. Quando deixei o cargo as finanças estavam em perfeito equilíbrio”.
Com relação aos precatórios, o ex-governador esclareceu que: “minha orientação foi uma. Se estourou o escândalo, batizado de cartas marcadas, não tenho conhecimento. Quem comandou as negociações da compra dos maquinários, não fui eu.”
Finalizando ele declarou: “O meu governo escolheu como transporte modal para Cuiabá o BRT, que era totalmente financiado pelo governo federal e aprovado pela FIFA. Se trocaram por um sistema três vezes mais caro, e, se para a implantação do VLT, há necessidade de pegar dinheiro emprestado, isso não é comigo”.
A entrevista acabou por aí.
Acontece que o líder do governo na Assembléia Legislativa, soltou os cachorros em cima do ex-governador. Pela primeira vez, em nove anos, alguém teve a petulância de contestar publicamente o governo passado.
O governador atual ficou na sua, de Santo da Paz. O ex, por sua vez, foi duramente atingido pelas palavras que o deputado líder jogou no ventilador.
Gente fina é outra coisa.

Gabriel Novis Neves
06-02-2012

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