quinta-feira, 1 de março de 2012

Prédios públicos


Quem caminha pelas ruas e avenidas de Cuiabá, logo percebe que os prédios mais suntuosos são aqueles que abrigam os burocratas desta nação.
Foram construídos com o dinheiro arrecadado dos muitos impostos do povo trabalhador - lógico. A manutenção dos prédios também é feita com o dinheiro do contribuinte.
Estes prédios estão espalhados por toda a cidade. Além, é claro, daquele conjunto de instalações, algumas muito luxuosas, que ocupa uma enorme área nos arredores da cidade, e que recebeu o nome de Centro Político e Administrativo (CPA).
O único prédio nesse privilegiado complexo de edifícios que não vingou, e que seria o principal para a população, é o do Hospital Central de Cuiabá.
Suas obras estão paralisadas há um quarto de século. Às vezes, como agora, alguém acende uma vela sinalizando que um milagre poderá transformar o esqueleto em um corpulento prédio digno dos seus vizinhos.
A vela deste santo ano de 2012 atente pelo nome de PPP (Parcerias Públicas Privadas).
Mas, logo ela se apagará. Nenhum dos nossos milionários empresários se interessou pela parceria – afinal essa construção é obrigação do Estado.
Os turistas “estrangeiros” é que gostam de fotografar os nossos imponentes prédios públicos - após saber o preço dos mesmos.
No meu quadrado de exercícios matinais, passo por alguns deles, e a atenção do pedestre é sempre desviada para o cheiro de dinheiro que exalam, (dinheiro do contribuinte).
A moda agora é envelopá-los em verdadeiras caixas de blindex, exteriorização da nossa riqueza. Até as calçadas são diferentes dos padrões da região. É sempre bom um toque de arte no piso que antecede a entrada desses verdadeiros palácios.
O que é mais triste e revoltante é encontrar, ao lado dessas obras que dignificam a nossa querida cidade, um enorme terreno público abandonado. Há anos que esse terreno está entregue aos mosquitinhos da dengue – que construíram ali, uma enorme fazenda para sua reprodução.
Nesse terreno funcionava uma escola estadual do ensino básico.  Foi demolida. Para a população foi prometido que, em poucos meses seria construído outro prédio – mais moderno e adequado para o ensino-aprendizado. Só que esses meses se transformaram em anos – longos anos.  
É oportuno recordar que a ex-escola está agora instalada em um prédio alugado e que o terreno baldio fica localizado na área mais nobre da cidade. Vale ressaltar também que o valor financeiro do metro quadrado deste terreno é, proporcionalmente, equivalente ao metro quadrado de Ipanema, no Rio de Janeiro.
Não sou absolutamente contra a construção de prédios públicos que possuam uma arquitetura bonita. Só que, para mim, o bonito não está necessariamente ligado ao caro, suntuoso ou imponente.
O chocante nesta história toda é verificar que, no entorno do terreno abandonado, existe muitos investimentos caros em obras para repartições públicas.
Esse terreno baldio, onde gerações de crianças aprenderam o bê-á-bá, e hoje conseguiram a sua inclusão social, fica localizado em frente a um prédio de uma secretaria estadual de vida limitada.
Com o dinheiro aplicado nas intermináveis reformas pelo qual este prédio já passou - inclusive com a instalação de um relógio que incomodou até a ESPN BRASIL, daria para, tranquilamente, ter sido construída a escola nova prometida.
Que é intrigante e constrangedor a locação de recursos financeiros para obras públicas imponentes em detrimento das obras sociais necessárias e primordiais para a população, lá isto é.
Um esclarecimento não faria mal a ninguém. Ainda mais considerando as reformas permanentes desses santuários burocráticos.

Gabriel Novis Neves
16-02-2012

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