domingo, 25 de março de 2012

CHICO ANYSIO


Desliguei a televisão após assistir ao noticiário e lamentei a partida para o plano espiritual do velho Chico. Esse genial nordestino – multimídia da alegria – há meses lutou pela vida em uma UTI.
Como fará falta ao Brasil a sua irônica crônica social! Ele encantou gerações com seus personagens de fino humor e irreverência.
Casamenteiro, bom reprodutor da espécie humana, fez de tudo em comunicação e arte. Artista completo, de sofisticada sensibilidade e afinidade com o “entender gente”.
O turbulento momento político em que vivemos neste país republicano foi magistralmente sintetizado pelo Chico ao interpretar uma velhinha em um programa de televisão.
O diálogo entre o entrevistador e a velhinha foi mais ou menos este:
  - Qual a profissão da senhora? - indaga o jornalista.
  - Puta, responde a velhinha.
Desconcertado com a resposta, o repórter formula novamente a pergunta.
  - Já disse: puta! P-U-T-A, entendeu?
O moço engoliu seco e continuou a entrevista:
   - E a profissão dos seus pais?
   - Meu pai era prático de farmácia e a minha mãe era professora.
   - A senhora tem irmãos?
   - Tenho só três irmãs.
   - E a profissão delas?
   - Todas são professoras.
    - Então a senhora é a única da família que escolheu essa profissão?
    - Sim.
    - Como a senhora explica a sua escolha em meio a uma família de professoras?
    - Questão de sorte, né? – a velhinha respondeu sorrindo escondida atrás do leque, disfarçando a sua alegria por ter escolhido uma profissão que lhe garantiu uma aposentadoria digna.
A nossa política está como a velhinha do Chico.
Quando perguntam a minha opinião sobre esses escândalos que pipocam em todo o país, beneficiando sempre uma minoria, respondo que tudo é uma questão de sorte.
Há trinta anos o ministro da Fazenda, representando os homens de dinheiro, comprou por aqui um mandato para uma vaga no Congresso Nacional.
Passado alguns anos o nosso governador, como manda a tradição, foi à Brasília de pires na mão pedir o apoio do parlamentar.
Ele ouviu a ladainha e disse que não devia nada ao Estado, pois comprou uma eleição superfaturada.
O raio cai sim duas vezes em um mesmo local.
A gente deste Estado despejou milhares de votos em um candidato para defender nossos interesses junto ao governo Federal.
Mato Grosso, a última vez que teve um político ministro foi no governo Sarney. Somos periféricos do poder e sofremos muito com isso.
“Quem não é visto, não é lembrado”, e os grandes recursos federais são drenados para regiões com poder político.
A bola foi colocada na marca do pênalti para um político daqui chutar e fazer um gol para o carente Estado de Mato Grosso sair dessa humilhante situação social por que passa, embora seja grande contribuidor de dinheiro para o Tesouro Nacional.
O nosso representante não aceitou o cargo de ministro, preferindo continuar cuidando dos seus interesses pessoais.
O poder funciona como etiqueta para certos políticos invadir gabinetes privilegiados e resolver seus problemas privados.
E o povo que os elegeu, que se dane.
Escolher representantes políticos para cuidar dos interesses da nossa gente é “questão de sorte,” como diria Chico Anysio.

Gabriel Novis Neves
23-03-2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.