Desliguei
a televisão após assistir ao noticiário e lamentei a partida para o plano
espiritual do velho Chico. Esse genial nordestino – multimídia da alegria – há
meses lutou pela vida em uma UTI.
Como
fará falta ao Brasil a sua irônica crônica social! Ele encantou gerações com
seus personagens de fino humor e irreverência.
Casamenteiro,
bom reprodutor da espécie humana, fez de tudo em comunicação e arte. Artista
completo, de sofisticada sensibilidade e afinidade com o “entender gente”.
O
turbulento momento político em que vivemos neste país republicano foi
magistralmente sintetizado pelo Chico ao interpretar uma velhinha em um
programa de televisão.
O
diálogo entre o entrevistador e a velhinha foi mais ou menos este:
- Qual a profissão da senhora? - indaga o jornalista.
-
Puta, responde a velhinha.
Desconcertado
com a resposta, o repórter formula novamente a pergunta.
- Já disse: puta! P-U-T-A, entendeu?
O
moço engoliu seco e continuou a entrevista:
- E a profissão dos seus pais?
- Meu pai era prático de farmácia e a minha mãe era professora.
- A senhora tem irmãos?
- Tenho só três irmãs.
- E a profissão delas?
- Todas são professoras.
- Então a senhora é a única da família que escolheu essa profissão?
- Sim.
- Como a senhora explica a sua escolha em meio a uma família de professoras?
- Questão de sorte, né? – a velhinha respondeu sorrindo escondida atrás do
leque, disfarçando a sua alegria por ter escolhido uma profissão que lhe
garantiu uma aposentadoria digna.
A
nossa política está como a velhinha do Chico.
Quando
perguntam a minha opinião sobre esses escândalos que pipocam em todo o país,
beneficiando sempre uma minoria, respondo que tudo é uma questão de sorte.
Há
trinta anos o ministro da Fazenda, representando os homens de dinheiro, comprou
por aqui um mandato para uma vaga no Congresso Nacional.
Passado
alguns anos o nosso governador, como manda a tradição, foi à Brasília de pires
na mão pedir o apoio do parlamentar.
Ele
ouviu a ladainha e disse que não devia nada ao Estado, pois comprou uma eleição
superfaturada.
O
raio cai sim duas vezes em um mesmo local.
A
gente deste Estado despejou milhares de votos em um candidato para defender
nossos interesses junto ao governo Federal.
Mato
Grosso, a última vez que teve um político ministro foi no governo Sarney. Somos
periféricos do poder e sofremos muito com isso.
“Quem
não é visto, não é lembrado”, e os grandes recursos federais são drenados para
regiões com poder político.
A
bola foi colocada na marca do pênalti para um político daqui chutar e fazer um
gol para o carente Estado de Mato Grosso sair dessa humilhante situação social
por que passa, embora seja grande contribuidor de dinheiro para o Tesouro
Nacional.
O
nosso representante não aceitou o cargo de ministro, preferindo continuar
cuidando dos seus interesses pessoais.
O
poder funciona como etiqueta para certos políticos invadir gabinetes
privilegiados e resolver seus problemas privados.
E
o povo que os elegeu, que se dane.
Escolher
representantes políticos para cuidar dos interesses da nossa gente é “questão
de sorte,” como diria Chico Anysio.
Gabriel
Novis Neves
23-03-2012
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