“É
um pequeno mamífero marsupial preto e branco de hábitos noturnos. No Brasil o
seu nome varia por regiões, onde é chamado por mucura, raposa, taibu, taraca,
ticoca, sarigué, sariguê, sariguele, sauê, micuê e habita desde o sul dos
Estados Unidos até a América do Sul.
Na
natureza tem como principal predador, o gato-do-mato, enquanto nas grandes
cidades, são frequentemente atropelados por terem a visão ofuscada pelos faróis
e por terem pouca mobilidade, exceto nas árvores.
Os
gambás não vivem em grupos, mas na época da reprodução, eles formam casais e
constroem ninhos com folhas e galhos secos em buracos de árvores.
Boêmios
saem dos seus esconderijos ao escurecer para a caça e coleta de alimentos.
Alimentam-se praticamente de tudo: raízes, frutas, insetos, moluscos,
crustáceos, serpentes, lagartos e aves (ovos, filhotes e adultos).
Os
gambás produzem um líquido fétido das glândulas axilares. Esse líquido é
utilizado pelo animal como defesa.
Na
fase do cio a fêmea exala esse odor para atrair os machos. Fingem-se de mortos
até que o atacante desiste. Tem predileção por sangue”.
Esse
é o perfil do personagem deste artigo.
Saía
do meu edifício para a caminhada do medo, quando encontrei o porteiro do meu
edifício no meio da rua. Quando me viu, ele colocou as mãos na cabeça e disse:
“Se o senhor tivesse chegado um minuto antes teria a oportunidade de ver um
espetáculo.”
O
porteiro falava com tanta emoção que eu não tinha a mínima ideia do espetáculo
que acabara de perder. Perguntei o que havia acontecido que o fez abandonar a
sua cabine de trabalho e fosse para o meio da rua.
“Doutor:
o senhor perdeu. Um cachorro quase pega um gambá. Ele não é bom para correr, e
o que o salvou foi aquela grade. Ele subiu como um foguete e se o senhor se
aproximar poderá fotografá-lo”.
“Mas,
será que ele não se assustará com a minha presença?” – indaguei.
“Doutor
– me explicou o porteiro - enquanto o cachorro estiver embaixo, ele não desce”.
Aproximei-me
do belo animal e ele até posou para as fotos. O porteiro, satisfeito, tinha
toda a razão. Brincou comigo e com ar maroto perguntou-me: “ainda sai hoje?”
“Até
as onze horas estará divertindo o pessoal que acorda tarde” - respondi.
Gostaria
de entender a linguagem do gambá, para perguntar o que fazia na rua àquela
hora, onde os primeiros raios de sol estavam brotando e o dia clareando.
Mau
cheiro não senti, o que me leva a crer que estava diante de um gambá macho. O
que o teria feito perder a hora de voltar para o seu esconderijo e, “escoltado”
por um cachorro com cara de pouco amigo, ser obrigado a se refugiar no muro?
Lembrei-me
da minha infância onde esses animais, não raro, trafegavam pela nossa casa da
Rua do Campo. Papai sempre parava de ler o Jornal do Brasil do Rio de Janeiro e
avisava mamãe: “Irene, passou um gambá por aqui”.
Nunca
mais me esqueci de uma cena fantástica de um aviso de mau pressentimento.
Mamãe, antes de o dia clarear totalmente, ia ao imenso quintal da nossa casa
levar alimento para a turma de aves do galinheiro, fazia a limpeza e recolhia
os ovos das galinhas poedeiras.
Era
comum ela retornar do quintal revoltada: “Gambá fez um estrago essa noite!” - e
lamentava o desaparecimento de frangos, pintinhos e ovos quebrados.
Volto
ao Gambá do século XXI. O que fazia na rua esse animal bonito, fora dos seus
hábitos? Será que o bonitão não fedido e bem nutrido estava ficando com a filha
do cachorro que, com ódio o perseguia para esganá-lo?
Após
a desistência do cachorro, como disse o porteiro, ele desceu do muro e
desapareceu para, com toda a certeza, sair à noite mais comportado e com hora
certa para voltar para casa.
Gabriel
Novis Neves
08-01-2012
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