quinta-feira, 22 de março de 2012

BOQUINHA


Foram necessários dez anos para que o povo mato-grossense entendesse o significado - surgido como novidade por aqui - da “quebra de paradigmas" em política.
Estávamos acostumados com lorotas do tipo: cinquenta anos em cinco, a vassoura, caçador de marajás, governo já, carta aos brasileiros, tudo pelo social. E tantas e tantas outras anedotas, que essa quebra de paradigmas soou como a queda do muro de Berlim.
Ledo engano. O longo mandato restaurou privilégios, tudo era negociado e, no mais, o governo transcorreu na “mais perfeita harmonia e paz”.
Final triste desse período, quando os ratos, como sempre, abandonam o navio prestes a perder o poder.
Digo até, melancólico, com o aparecimento dos primeiros escândalos do novo modelo de governar com as palmas das mãos.
Não houve legado e ninguém hoje tem coragem de falar em quebra de paradigmas. Virou maldição. Coisa feia! Coisa que não se faz, e não deve ser repetida. 
Mas, tudo ficou em casa, mesmo com posições difíceis de serem explicadas. Deixa pra lá, tudo passou, diziam-se nas esquinas.
Quebra de paradigmas ficou sem tradução oficial, embora os estudiosos e pesquisadores tivessem números convincentes e explicações aceitáveis.
Toda a mídia nacional comenta hoje o rompimento de um pequeno partido de sete senadores que pertencia à base de sustentação do governo.
O jornalista Merval Pereira, do jornal O Globo e do canal pago GloboNews, diz que o motivo do rompimento é que esse partido queria uma “boquinha” no governo.
“Boquinha”, no linguajar político, significa emprego para a curriola do político, incluindo nesse pacote os indispensáveis “laranjas”.
Esse pessoal da “boquinha” não está nem um pouco interessado em discutir soluções para os graves e urgentes problemas nacionais.
O ministério desse partido dos sete senadores foi o único a ser totalmente varrido pela presidente.
Os outros ministros, pelos mesmos motivos, “pediam” para sair.  Recebiam elogios na despedida, e um companheiro do mesmo partido assumia a sua função.
Ficou mal perante a opinião pública essa “discriminação,” repercutindo como falta gravíssima cometida por essa gente.
Os jornalistas políticos que fazem cobertura do Senado Federal e da Presidência da República, afirmam que o líder do grupo dos sete foi várias vezes ao planalto “negociar” a “boquinha” no governo.
A palavra “negociar” chamou a atenção, pois em política, apesar de tudo ser negociado, especialmente as suplências de senadores, ninguém fala. Quem já foi suplente sabe como é.
O eleitor diz que aí tem.
Comentam que a política é um imenso balcão de negócios, onde tudo tem um preço. Então é melhor jogar os escrúpulos fora e falar a linguagem da “boquinha”, que é negociar em benefício próprio, e que se danem os pobres.
Na entrada para a política todos alegam ter uma profissão. Bastou entrar nela e, com raríssimas exceções, só encontramos empresários de sucesso.
Esse milagre existe em todo o país e nos diferentes níveis de poder.
O empresário faz o que sabe: negociar - que tanto espantou os jornalistas.
Mato Grosso está mal na fotografia, e agora no Jornal Nacional. A declaração de rompimento dos sete com o governo fica na dependência de uma “boquinha”.
Que saia justa vestiu o porta voz do grupo!
Se voltar, como todos esperam, à base de sustentação do governo, é por que todos estão com a boca cheia de benefícios pessoais.
Será difícil depois de todo esse rolo justificar que o retorno ao governo foi motivado pela crise internacional.
A situação do partido que perdeu a “boquinha” nos transportes é a seguinte: “Se ficar o bicho come e se correr o bicho pega.”
Que situação! “Boquinha” faz bem, mas causa mal à biografia.

Gabriel Novis Neves           
15-03-2012

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