quarta-feira, 27 de maio de 2015

PRECONCEITO


Amparados por leituras especializadas, aliadas às experiências vivenciadas, é que podemos almejar a um relativo autogerenciamento vivencial.
São tantas as barreiras que enfrentamos durante a nossa existência, que muitos partem desta vida sem conquistarem o troféu tão perseguido da liberdade.
A liberdade de poder viver conforme nossos desejos e valores, sem que fiquemos reféns da opinião e compreensão dos outros.
E esta liberdade se perde, em grande parte, devido a fortes preconceitos, tão fortemente enraizados em nosso ser, que nos tornamos prisioneiro dele.
Desde muito cedo sofremos frustrações e discriminações. Uns mais, outros menos, dependendo de múltiplos fatores, que podem ir da cor da pele ao saldo bancário.
Com esse adubo atingimos a maturidade sem perceber nossas imperfeições e limitações emocionais.
Surpreendemo-nos quando alguém, mais esclarecido com relação a conduta e ao comportamento humano, nos revela que somos preconceituosos, por exemplo.
Em rápido retrospecto não aceitamos tal diagnóstico, baseados na nossa história de vida. Entretanto, desconhecemos que só é preconceituoso quem é vítima de preconceito e o aceita, em vez de confrontá-lo e liberar-se dele. A área de conforto não permite uma luta de resultados imprevisíveis para vencê-lo.
Está explicado a não explorada origem de sofrimentos existenciais, caminho para as patologias de fundo social.
Só a idade madura, ou o despojamento em conhecer melhor essa complexa mistura de matéria e emoção  de que somos feitos, aliados ao meio em que fomos criados, poderá, de alguma forma, fazer-nos  entender  o mecanismo dos preconceitos a que fomos submetidos.
Quanto menor e mais provinciano o lugar onde fomos criados, maior o número de preconceitos desenvolvidos e transmitidos.
Ao contrário das grandes cidades, em que tudo é muito avaliado e as discussões filosóficas são mais frequentes, inclusive no meio familiar, nas cidades menores é menor o estímulo ao diálogo e, dessa forma, vão se fixando preconceitos recebidos e automaticamente transmitidos - até porque o diálogo é considerado uma intimidade desnecessária.
Não é disseminado o hábito de não prejulgar  e, assim, dogmas e mitos se alastram automaticamente.
Talvez, numa velhice saudável, aumentem os questionamentos com relação a si mesmo e ao outro.
Possivelmente seja esta a fórmula mais fácil para rever conceitos arcaicos que nos foram empurrados sem a nossa aquiescência.
Isso jamais ocorrerá com os preconceituosos de carteirinha que, incapazes de questionar a sua miséria existencial, tornam-se insuportáveis donos da verdade, tão frequentes, infelizmente, no nosso dia a dia.

Gabriel Novis Neves
23-05-2015

terça-feira, 26 de maio de 2015

Verdade


A nossa educação vai de mal a pior.
Múltiplos fatores compõem os ingredientes do atraso nacional. Seria estafante enumerá-los, sendo a maioria do conhecimento público.
Esse processo “maligno” talvez tenha início logo nos primeiros dias da vida extrauterina.
Embora nessa idade a criança não possua ainda capacidade de entender a falta da verdade nas relações entre pais e filhos, é intuída desde muito cedo.
Educadores modernos e mais esclarecidos recomendam que, mesmo nesses primeiros dias, há necessidade dos pais conversarem com os seus filhos transmitindo todo seu amor e usando sempre a verdade.
De tanto ouvir o certo, essa criança, ao adquirir seu poder cognitivo, dificilmente se surpreenderá ou ficará traumatizada com aquilo que desde cedo se acostumou a ouvir.
Como exemplo, poderei citar o caso das crianças adotadas.
Seus pais não biológicos, apesar de todo o amor dedicado a elas, têm dificuldades em saber se dizem a verdade sobre a sua origem genética ou não.
Em que fase da vida dessa criança seria o momento ideal para a revelação?
Pesquisas apontam que muitos pais preferem esconder dos seus filhos não biológicos a sua correta identidade.
Quando a criança fica sabendo sobre a sua origem real, o trauma é muito intenso.
Outros deixam para o tal momento oportuno, que é inoportuníssimo quando adulto o filho descobre que seus pais são mentirosos, numa hipócrita situação de falsa proteção.
A criança tem de ouvir desde o início que ela não saiu da barriga da mamãe, mas, é tão querida e amada como se assim o fosse.
A mania de esconder a verdade das crianças parece fazer parte da nossa cultura.
Isso é comum numa educação onde é descoberta pelos filhos a mentira como modo de vida, não só com relação a ela, criança, mas, principalmente, no relacionamento pouco afetuoso e, até mesmo, distante entre os pais, entre os circunstantes e entre os ditos amigos da família.
Os resultados dessa farsa cotidiana serão a falta de intimidade e o aparecimento de adultos distantes e igualmente hipócritas.
A família deixa de cumprir o seu papel precípuo, onde os problemas e dúvidas de todos deveriam ser discutidos abertamente.
Quando as novelas de televisão, em horário nobre, há anos vêm questionando sobre adoção de crianças, fica nítido o preconceito que jamais deveria existir sobre o filho não biológico.
Uma reflexão sobre esse assunto torna-se imperativa.
Os pais deveriam aprender a dizer sempre o “sim” aos seus filhos, como início do diálogo.
Daí surgiria os argumentos que poderiam levar a um “não” antes de qualquer reflexão conjunta, mas sempre muito discutida, nunca por imposição.
A educação necessita urgentemente da reformulação de conceitos no sentido de preparar um adulto verdadeiro, cônscio de seus direitos e deveres, e não mais um fantoche habilitado para a mentira e para a hipocrisia.
O início tem de ser em casa, sem artifício da mentira, incompatível com a educação. Só a verdade, desde sempre, salvará as nossas crianças.
Educar é muito mais do que propiciar colégios caros e alimentação de qualidade.
É preciso que filhos crescidos não experimentem esse verdadeiro estranhamento familiar, hoje tão frequente nos lares modernos.
Só se pode amar a quem se conhece verdadeiramente, o resto é puro comércio e seus slogans exaltando o “Dia dos Pais” e o “Dia das Mães” como símbolos falsos de um amor fabricado para ser consumido.

Gabriel Novis Neves
19-05-2015

NOVO HOSPITAL


Notícia ruim é o que não falta quando o assunto é saúde pública.
Foi inaugurado em nossa capital o prédio reformado do velho Hospital Neurológico Egas Muniz, no bairro do Quilombo.
A hotelaria ficou chique, digno de hotel cinco estrelas.
O ruim é que logo após a sua inauguração o nosocômio foi fechado, para reabrir somente quando o governo federal decidir repassar recursos permanentes para o seu custeio.
Sabemos que essa liberação poderá demorar meses, e a garantia de um apoio permanente é uma aposta.
O único hospital público federal e de ensino aqui existente está sucateado, exatamente por falta de investimentos financeiros.
Em inauguração de hospital a má notícia é que não existe ainda formado, treinado e contratado o corpo clínico e administrativo.
A referência do hospital são seus profissionais, e não, a hotelaria.
A dificuldade do governo é tão grande para captar bons profissionais, que a única Unidade de Pronto Atendimento (UPA) inaugurada há dois anos até hoje não funcionou na sua plenitude.
Não é atrativo, profissionalmente, trabalhar em prédio ‘novo’ e bonito, mas sem as mínimas condições de trabalho, e honorários sempre abaixo do mercado de trabalho.
O paciente quando procura um serviço de saúde prioriza a qualificação dos seus profissionais.
A hotelaria de luxo é dispensável. Torna-se obsoleta em curto prazo de tempo, e necessita de permanente manutenção e reposição dos equipamentos.
Não é isso que acontece nos órgãos públicos.
Sem robustos financiamentos públicos para a alta complexidade, o ‘jeitinho’ são as liminares judiciais.
Mesmo hospitais internacionalmente reconhecidos cientificamente pela excelência do seu atendimento, como o Sírio Libanês e Albert Einstein em São Paulo, para citar os preferidos pelos políticos, precisam de incentivos oficiais (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e de particulares para sobreviverem com qualidade.
Vamos torcer para que o nosso São Benedito consiga transpor essa barreira de incompreensão do poder público com a saúde para oferecer serviços médicos de ‘gente rica para uma população pobre’.

Gabriel Novis Neves
24-05-2015

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Mundo cartesiano


Não, realmente o mundo do tempo cronometrado, dos compromissos, dos relógios, não é o mundo ideal.
Talvez, por essa razão, quando estamos em férias a vida se torna tão mais prazerosa e lenta.
Bem, isto para aqueles que conseguem se desconectar de suas excessivas responsabilidades.
O mundo cartesiano foi feito para aprisionar as pessoas nos seus devidos papéis, sempre dentro de um mínimo de tempo para pensar, tornando-as cada vez mais automatizadas.
Raramente paramos para um questionamento sobre como estamos usando o nosso tempo, nos agradando ou não.
Talvez, por isso mesmo, a noite seja um espaço tão fascinante.
É a hora em que podemos nos desvencilhar de todas as nossas máscaras, de nosso aprendizado de vida estruturada, dos compromissos com o estabelecido e mergulharmos no que verdadeiramente nos agrada.
É justo o momento em que o ócio criativo tem condição de se manifestar, acalentado pelo silêncio da madrugada.
Assusta-me ver pessoas que, mesmo em férias, não desgrudam um só momento de seus relógios, de seus Smartphones, como se as tarefas a serem cumpridas, mesmo inexistentes, permanecessem o foco de suas atenções, impedindo assim que o pleno exercício do lazer seja desfrutado.
Esquecem-se de que, a rigor, o tempo não existe, ele é apenas uma invenção do homem na ânsia de transformar a natureza.
Somos a única espécie animal dedicada a transformar a natureza. Os nossos outros amigos apenas a desfrutam.
O mundo cartesiano tomou conta de tudo e é negado aos jovens o que há de mais precioso para o ser humano, a criatividade, o prazer sem culpa, sem risco, sem hora marcada.
Na impossibilidade de ver estrelas, estamos nos habituando a pedir socorro uns aos outros através de redes sociais, clamando por um pouco de atenção que esse mundo tão estereotipado nos impede que aconteça.
Falta-nos tempo para o outro e, principalmente, para nós mesmos.
Apenas na velhice, assim mesmo somente para alguns privilegiados, se consegue valorizar a dádiva do não ter horários nem compromissos, podendo assim desfrutar da natureza em toda a sua plenitude.
Para mim, o melhor da velhice é não ter horários.

Gabriel Novis Neves

20-05-2015

MEU AVÔ


“Pau que nasce torto, nunca mais se endireita”, sempre dizia meu avô.
Os mais antigos tinham o hábito de se comunicar por metáforas, “que é a transferência de sentido de um termo para outro, numa comparação implícita”.
São conceitos simples de serem entendidos e nunca esquecidos.
Vira e mexe estou envolvido nessas antigas expressões que moldaram o meu caráter.
Às vezes tento corrigir esses adágios aprendidos nos primeiros anos de vida, mas logo desisto pela impregnação que eles me produziram.
“Duas retas paralelas jamais se encontrarão”. Quem garante isso?
Pessoas não são iguais, mesmo pertencentes à mesma árvore genealógica. No entanto, encontramos muitos desiguais absolutamente semelhantes, como a ilusão da linha do horizonte tocando a terra.
Se tão diferentes em seus princípios tornam-se iguais, encontramos iguais totalmente desiguais, inviabilizando até o mais simples convívio social.
Assim como existe a reta curva, como no autódromo do Principado de Mônaco, onde se disputa a charmosa e riquíssima Fórmula 1, deve existir a curva reta em alguma arquitetura oriental.
É difícil encontrar desiguais iguais que se identifiquem a ponto de mesclarem suas desigualdades, transformando-se em seres iguais, ou em retas que se misturam.
Quando isso acontece, recordamos que duas linhas paralelas nunca se encontram...
Interessante é que as pessoas procuram para seus relacionamentos pessoas semelhantes, na ilusão de estarem escolhendo a correta e duradoura união.
A matemática da vida tem outras regras, não sabia o meu avô...

Gabriel Novis Neves
17-05-2015

Partidos políticos


Para que serve os nossos partidos políticos quando estamos mergulhados em imensa crise econômica e moral?
Só agora a população brasileira descobriu a sua ‘utilidade’ pelo generoso aumento de recursos concedido pelo governo ao Fundo Partidário.
O Ministro da Fazenda adota a política do arrocho fiscal e pede a compreensão da nossa exausta população, o executivo corta recursos da educação e ‘investe’ nos partidos políticos.
Passeatas populares, caminhadas, panelaços, campanhas pelas redes sociais, tudo sem participação dos políticos e de seus respectivos partidos são sinais de impaciência de uma nação em desespero, cuja leitura o governo não consegue, ou não quer, entender.
Há necessidade urgente de novos rumos para a nossa arcaica política.
Virou ‘negócio de ocasião’ criar uma sigla partidária para receber ‘bolsa’ do governo, chamada de Fundo Partidário.
No momento existe uma lista de mais de vinte agremiações políticas solicitando seu registro no Tribunal Federal Eleitoral para se juntar aos mais de trinta existentes.
Temos até especialistas em criação dessas inúteis agremiações, como o ex-prefeito de São Paulo.
Trata-se de um ‘investimento’ altamente lucrativo, sem os riscos que normalmente outra empresa enfrentaria.
A finalidade desses anões partidários, que nem representantes possuem no Congresso Nacional, vão além da ‘bolsa’ - vão até aos segundos de televisão comercializados durante as campanhas eleitorais.
Outros possuem pontos de representantes sem ideologia, cuja única função é negociar seus votos.
Os maiores partidos representam o poder e interesses de grandes grupos econômicos e sindicatos. O povo não reconhece nos atuais partidos e nos políticos seus legítimos porta-vozes em Brasília.
O pior é que para ocupar uma cadeira no Congresso, Assembleias e Câmara de Vereadores, seus membros são eleitos pelo povo.
Pesquisas recentes demonstram que a maioria da nossa população não se lembra em quem votou na última eleição.
O que fazer com os partidos diante da crise que envolve o nosso país?
Uma metamorfose é necessária para criar uma agenda positiva de trabalho, com o único objetivo de alcançar o nosso já tardio desenvolvimento social e econômico.

Gabriel Novis Neves
20-05-2015

sexta-feira, 22 de maio de 2015

MEIO-IRMÃO


Relevante o fato de ter aumentado em 528% o número de reproduções assistidas nos últimos dezoito anos pelo mundo.
Os bancos americanos de sêmen são atualmente verdadeiros templos da reprodução.
No início, a grande procura era feita por relações homoafetivas femininas que queriam ter os seus rebentos sem a participação da figura masculina.
Um doador, dentro dos padrões desejados em termos de compleição física e mental, chega a receber cem dólares por doação. Basta que ele se adeque a padrões preestabelecidos. 
Na maior parte dos países essas doações são sigilosas e o material recolhido passa a ser catalogado por número.
Dessa forma permanece oculta a identidade do doador, mantendo-se em conta somente as suas características genéticas.
Atualmente, países como a Alemanha, Inglaterra e a Noruega, aboliram o anonimato e isso vem causando algumas discussões éticas e que começam a chegar ao Brasil.
Através da mídia, sempre precursora dos modismos de cada geração e suas implicações na sociedade, já assistimos a novelas que já discutem abertamente os diferentes tipos de família que vêm se formando nos tempos modernos.
Agora surge a polêmica sobre os irmãos numerados dos doadores de sêmen.
O ser humano tem necessidade de saber das suas origens, mesmo que oriundo de vários tipos de reprodução.
Esses questionamentos, que estão apenas começando e que já compõem até enredo de novela, são sinais de um novo tempo despontando.
Imaginando que alguém possa ter até quinhentos ou mais irmãos, que rumo tomará as relações familiares?
Os laços afetivos, com certeza, começam a aparecer como mais importantes que os laços sanguíneos.
Nem o filósofo Aldous Huxley conseguiu ir tão longe com suas fartas elucubrações sobre o futuro no seu fantástico “Admirável Mundo Novo”.
Um trabalho a mais para as futuras gerações: buscar seus inúmeros meios-irmãos, se é que até lá isso ainda terá alguma importância.

Gabriel Novis Neves
16-05-2015

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Ética em política


Grandes jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo publicaram importante matéria sobre o Brasil.
Por se tratar de assunto interessante vou transcrever trechos relevantes dessa entrevista com o ex-presidente do Uruguai.
Em livro, Mujica relata a dois jornalistas do seu país uma conversa que teve com o Presidente Lula sobre o ‘mensalão’.
Segundo o líder uruguaio, o petista disse, ao se referir ao esquema de corrupção, que esta era a única forma de governar o Brasil.
Os jornalistas Andrés Dauza e Ernesto Tulbovitz afirmam no livro “Uma ovelha negra no poder” que, num diálogo com o ex-presidente do Uruguai José Mujica, o ex-presidente Lula disse que “a única forma de governar o Brasil” era lidando com “muitas coisas imorais” e “chantagens”.
De acordo com o que Mujica narrou - segundo os autores, o ex-presidente brasileiro “viveu todo esse episódio com angústia e um pouco de culpa”.
“Neste momento, eu tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens”, teria dito Lula a Mujica.
O livro em breve será lançado no Brasil.
Esse tema já está sendo desmentido pelo presidente uruguaio nas mais recentes entrevistas, em que alega terem sido distorcidas as suas declarações.
Os autores dizem que o Brasil é um país em que a corrupção está incorporada ao modo de governar, e que sempre foi dessa maneira, mesmo com a alternância de partidos no poder.
Dizem, ainda, que denúncias mancharam “todos os governos”, incluindo os de Lula e o de Dilma.
Deixando de lado um pouquinho a matéria transcrita do livro uruguaio, as novidades do momento são as seguintes.
“Governistas exigem setenta cargos para aprovar a MP (Medida Provisória) de ajuste fiscal”.
“Planalto fez negociação aberta de nomeações, já tendo encaminhado pedidos para a Casa Civil. A longa lista aguarda liberação de Mercadante”.
“Um quarto da base aliada traiu governo Dilma em votação”.
“Manifestantes jogam para o ar imitações de notas de dólares com os rostos de Dilma e Lula”.
Com essas notícias fica difícil prever dias melhores para a nossa nação, que vive uma das suas piores crises morais e econômicas.
Estamos sem rumo, como um barco à deriva, onde os poderes constituídos não se entendem, gerando um clima de intranquilidade à nossa gente.
Os postos de trabalho diminuíram, o crescimento está estagnado, a classe média desorientada, a crise já atingiu, inclusive, milhões de “bolsistas”.
Os impostos estão insuportáveis e a classe política alienada, tirando proveito próprio para si e suas tribos.
Vivemos a “paciência: uma forma menor de desespero, disfarçada em virtude” - Ambrose Bierce, jornalista e escritor americano.

Gabriel Novis Neves
18-05-2015

quarta-feira, 20 de maio de 2015

CRIAR FILHOS


Nada a ver com criar pessoas belas, saudáveis, educadas e até, razoavelmente, agradáveis.
Seguramente, a criação familiar tradicional está bem distante dessas possibilidades.
Com padrões e arquétipos baseados no autoritarismo, no sucesso a qualquer preço e na repetição dos dogmas e mitos sociais, educacionais e religiosos vigentes, o que a sociedade vem fazendo é produzir em massa seres sem autoconfiança, despidos de criatividade, com baixa autoestima nítida e, no geral, automatizados, muito pouco interessantes.
Exatamente por não lhes ser permitida a liberdade do existir, por serem incentivados a dissimularem os seus próprios sentimentos e ações, nunca se mostrando como realmente são, as  pessoas vão se tornando falsas, desenergizadas, nada autênticas, na tentativa de obedecer a padrões  uniformes de comportamento considerado aceitável pela sociedade.
Enfim, filhos criados para ser motivo de orgulho para nós e nunca para eles mesmos.
Criar filhos é exatamente o contrário. É prepará-los para o mundo em que vão viver, e não, ficarem atados aos conceitos arcaicos de seus antecessores, ainda que tenhamos consciência que essa preparação para o voo livre de cada um é extremamente dolorosa para os pais.
Não precisamos de clones, mas sim, de pessoas sincronizadas com o seu tempo, carregadas de elevada autoestima.
Transmitir valores básicos de caráter e de convivência no dia a dia deve ser a única meta.
Somente o incentivo à capacidade de voar, esse exercício do existencialismo, é que vai propiciar a formação de pessoas mais criativas e seguras de si mesmas, aptas a esse mundo que, com certeza, será bem diferente do de seus pais.
Caso contrário, teremos seres inseguros, carentes, conflitados pelos valores estáticos de que foram vítimas.
Isso é bem observado em reuniões sociais costumeiras quando nos deparamos, na maioria das vezes, com um grande rebanho, em que todos se expressam e se comportam de uma mesma maneira, absolutamente monótona.
Por vezes, liberados através de uma maior ingestão alcoólica, podemos até pinçar alguém mais interessante, de conteúdo mais livre.
Pessoas um pouco mais diferenciadas, com uma maior carga energética, sentem-se absolutamente sós nesses conglomerados sociais tradicionais, sendo muitas vezes rotuladas de pretensiosas e antissociais. É a solidão na multidão.
Com certeza, essa repressão da humanidade tem sido enorme através dos séculos e somente agora, diante de pais jovens mais descolados, começamos a observar um movimento mais livre e mais leve nas organizações familiares modernas que se tornaram múltiplas na sua composição.
A aceitação de famílias homoafetivas pela sociedade é um passo à frente na busca pela verdade de cada indivíduo.
Ensinar a respeitar a opção do outro, seja ela cultural, política, religiosa ou sexual deveria ser a bíblia a ser seguida por pais e educadores.
Viva e deixe viver.

Gabriel Novis Neves
18-05-2015

terça-feira, 19 de maio de 2015

Prova


Uma das provas mais emocionantes, especialmente para os felizardos que estão na quarta idade, e pela possível surpresa dos resultados, é submeter-se a uma bateria de exames laboratoriais.
Depois dos cinquenta anos apresentamos alterações em nosso organismo consideradas normais.
Nossas artérias perdem a sua elasticidade juvenil tornando-se mais espessadas, com calcificações depositadas em suas paredes.
Por isso o coração precisa trabalhar com maior vigor para fazer o sangue circular.
A pele perde vitalidade dando lugar ao aparecimento de celulites, rugas e estrias.
O rosto fica com menos tecido gorduroso. Em algumas pessoas surgem buracos, hoje preenchidos pelos cuidadores da estética.
Óculos, atualmente mais decorativos, fazem parte da indumentária dessa faixa etária.
Atividades esportivas são substituídas por aulas de fisioterapia, pois os ossos tornam-se mais frágeis e as articulações mais sólidas.
O paciente responsável, anualmente, sabendo que essas alterações repercutem no aumento da pressão arterial, glicemia, gordura no sangue, diminuição acentuada da acuidade visual, faz seus exames de rotina, verdadeiras provas de saúde.
Mesmo pessoas assintomáticas sentem um friozinho na espinha quando o médico da sua confiança inicia a leitura dos resultados, verdadeiro ato de perícia médica para avaliar nossa saúde - o maior presente que recebemos.
A expressão dos doutores durante a interminável leitura é observada em seus mínimos detalhes pelos ansiosos clientes.
Pior é quando o paciente é médico e, antecipadamente, dá uma olhadela nos exames...
Passei por essa situação recentemente. Para meu alívio, confirmei que não tenho doenças, embora use medicamentos para controle da pressão arterial, anti-glicemiantes, antiplaquetários, redutores da gordura visceral e uma dieta de mil e quatrocentas calorias.
Não tenho doenças, apenas sou velho, tendo, portanto, de administrar o desgaste inevitável do meu organismo.
Já me acostumei a ouvir de amigos que há tempos não encontrava o famoso “como você está bem”!
As gentilezas como prioridade nos embarques de avião e sempre uma mão generosa a me ajudar subir um degrau, não mais me surpreendem.
Felizes daqueles que conseguem assumir que são velhos saudáveis após passar pela difícil prova dos exames clínicos e laboratoriais, o que lhes permite acreditar em um futuro, quem sabe, promissor.

Gabriel Novis Neves
07-05-2015

segunda-feira, 18 de maio de 2015

HIPOCRISIA


Diante dos inúmeros descompassos que regem o comportamento humano, a hipocrisia talvez seja um dos mais desprezíveis.
Seu irmão gêmeo, o cinismo, costuma acompanhá-la para exacerbar os seus malefícios.
Desde muito cedo convivemos com essa deformação quando vemos nossos pais, ou pessoas em quem confiamos, em diálogos que identificamos como não exatamente verdadeiros.
Quando inquiridos, justificam-se através das chamadas “mentiras sociais necessárias”.
A criança, no seu estado cristalino, vai rapidamente absorvendo esses comportamentos e chega à vida adulta com padrões totalmente falsos com relação a si mesmo e aos outros.
Daí, para o cinismo, é apenas um passo, ratificado por acharmos normal uma sociedade cínica e hipócrita.
A essa altura, já foram sedimentados os parentes próximos da hipocrisia e do cinismo, tais como: a mitomania (compulsão à mentira), a megalomania, a deturpação da amizade, sempre em níveis de toma lá dá cá, o amor como uma simples mercadoria a ser comprada e vendida.
Como se tudo isso já não bastasse, somos impregnados por mitos e dogmas que atravessam nações, países, o mundo enfim, tornando-nos seres alienados, incapazes de maiores questionamentos, quer no meio escolar, no familiar ou no social.
De repente nos deparamos como pessoas falsas, desagradáveis, de convívios difíceis em todos os setores, incapazes de manter um diálogo franco e aberto. Como consequência, a solidão, mesmo que na multidão.
Movidos quase sempre por interesses econômicos, esquecemo-nos totalmente do tripé “amor-compaixão-solidariedade”, única possibilidade de viabilizar o homem no planeta Terra.

Gabriel Novis Neves
11-05-2015

Desejo sexual


Angústias existenciais são as grandes responsáveis pela diminuição do desejo sexual.
O Brasil passa por momentos de profundo desencantamento em função de suas políticas equivocadas em todas as áreas.
Impressionante nos consultórios psiquiátricos, e também nos ginecológicos, o aumento do número de mulheres com queixas quanto à diminuição da libido de seus companheiros.
Sabemos que casamentos longos, na maioria das vezes, se tornam arrastados, caso as partes não se tornem criativas e, sobretudo, com muita cumplicidade.
As pequenas mágoas do dia a dia, associadas à própria rotina da instituição, têm um grande peso nesse processo.
O fato é que, até o início da revolução sexual dos anos sessenta, com o aparecimento das pílulas anticoncepcionais, as uniões matrimoniais ocorriam num clima em que as pessoas eram condicionadas a se unirem para constituir uma família, e não, para darem vazão aos seus instintos voluptuosos.
Os homens, figuras provedoras, podiam ter as aventuras extraconjugais que quisessem, e isso, além de aceito, era sinal de pujança.
A mulher moderna, inserida com um novo papel no mercado de trabalho, passou a exigir novos direitos e deveres, inclusive o de uma vida sexual plena e intensa.
Fato novo para os homens que passaram a se sentir acuados, inseguros e deprimidos diante desse novo modelo de fêmea.
Isso sem falar nas intensas propagandas que mostram homens sarados, atléticos, verdadeiros Apolos do mundo moderno em performances acrobáticas, impossíveis de serem conseguidas na vida real, ainda que mascaradas por substâncias químicas.
A verdade é que o gênero masculino passa por uma grave crise de identidade em função dessas transformações que as mulheres estão sofrendo após os quatro mil anos de repressão sofrida.
Não por acaso, a frequência dos consultórios terapêuticos, que era essencialmente de mulheres, já conta com um número equivalente de homens.
Sexo com parceiros antigos, e outros nem tanto, é o resultado da convivência no diário de muito carinho, confiança, amor e cumplicidade, e não, o simples ligar de uma máquina que deva funcionar ininterruptamente, ainda que sob o efeito de fármacos possantes e, ao mesmo tempo, prejudiciais ao organismo, de forma às vezes letal.
Homens inibidos e assustados com essas novas companheiras, tornam-se presas fáceis para relações extraconjugais que, pagas ou não, trazem consigo a ausência de cobranças afetivas sexuais, tão necessárias a um bom desempenho nessa área ainda bastante obscura do comportamento humano.
Cabe aos homens tentar entender essas novas mulheres ávidas por sexo e, principalmente, por exercitar a sua sedução, coisa que a sociedade moderna com suas indústrias da beleza não se cansa de divulgar e valorizar.
Bons momentos de sexo não podem se transformar em obrigação. Devem ocorrer por merecimento de ambas as partes.
Quanto mais nos afastarmos da natureza, maiores serão as nossas dificuldades nesse tópico fundamental da vida, o sexo, que em pleno século XXI ainda é motivo de tantas aflições.

Gabriel Novis Neves
12-05-2015

ISENTO


Houaiss, em seu minidicionário da língua portuguesa, definiu o isento como uma pessoa livre, desobrigada, imparcial, desprovida de qualquer compromisso.
Impossível alguém, ao se deparar com uma determinada situação não trazer a sua história de vida para opinar sobre o assunto em questão.
Seja um parecer sobre política, uma peça de teatro, um filme premiado, um livro best-seller ou assuntos outros.
Tenho receio daqueles que se intitulam isentos para proferir a sua opinião, pois essa possibilidade não existe.
Comentar sobre a situação nacional sem isenção é uma farsa.
Esconder que vivemos em um país corrupto é, na melhor das hipóteses, um ato de irresponsabilidade.
Classificar como pequenos delitos crimes praticados nos grandes arrombamentos do Tesouro Nacional é uma imoralidade.
Infelizmente, falar o que sentimos dentro de um determinado contexto é considerado como forma politicamente errada de se expressar nesta nação democrática.
Desagradar aos poderosos de plantão é quase um ato suicida, mesmo quando analisamos suas ações, e não, o seu caráter.
Ainda assim, continuaremos batendo no peito que vivemos em plena democracia em um Estado de direito.
As desigualdades sociais são tão gritantes entre os cidadãos desta nação, que a vergonha tem de ser colocada debaixo do tapete para não sujar o brilho do autoritarismo, prepotência e vaidade patológica daqueles que, momentaneamente, podem.
A carneirada tem de obedecer em silêncio aos desmandos cometidos contra a cidadania para não ser sacrificada.
A isenção é mais uma figura de ficção utilizada no grande teatro deste país chamado Brasil.

Gabriel Novis Neves
13-05-2015

sexta-feira, 15 de maio de 2015

O difícil momento


Fomos educados para o trabalho como forma digna de vida. “Só o trabalho dignifica o homem”, ouvíamos quando crianças.
O lazer, o descanso e o ócio não eram aceitos, e quando os praticávamos tínhamos a sensação de ter feito algo errado.
O prazer teria de ser punido.
Esse modelo educacional foi o responsável por uma infinidade de neuróticos dessa verdadeira fábrica de pessoas com baixa autoestima.
O trabalho braçal é que caracterizava o trabalho dito aceitável, quando sabemos que o maior de todos é o ato de aprender.
Vivemos em um país de analfabetos exatamente porque é preciso de muita dedicação e horas de estudo para alcançarmos nossos objetivos.
Todo trabalho intelectual, artístico, cultural, científico é visto com ressalvas, só aceito quando o sucesso é o seu resultado.
Entende-se, atualmente, como sucesso, o ganho de muito dinheiro, único indicador de valorização das pessoas - pelos bens materiais capazes que se locupletarem.
O pior, é que os trabalhadores de ofício são tão mal remunerados que os seus salários são inacreditáveis.
Imediatamente vem a estúpida comparação  com os gênios da música, ciência, esportes, artes, que são um ponto na constelação dos bilhões de habitantes do planeta Terra.
Compreender que somos, com o tempo, ultrapassados é o novo desafio para entender a necessidade da aposentadoria como uma dádiva, e não, um castigo após anos de intensa labuta.
Não fomos treinados para viajar, pensar, ficarmos sozinhos, apreciarmos a natureza, ouvir o cântico dos pássaros, o silêncio da noite e até mesmo desfrutar de novos relacionamentos.
O momento de parar de trabalhar é quando temos a oportunidade de cuidarmos de nós mesmos.
É uma decisão inevitável, mas traumática para muitos de gerações passadas.

Gabriel Novis Neves
10-05-2015

quinta-feira, 14 de maio de 2015

ANOMIA


Assim é chamado esse estado em que todos nós mais ou menos nos encontramos.
Em virtude de intensas mudanças no mundo social moderno, experimentamos essa sensação de falta de objetivos e perda de identidade.
Novos valores, no lugar dos anteriormente demolidos, ainda não foram repostos, daí essa sensação de “vazio”, de estarmos “à deriva”.
Na política, isso é mais que evidente. Temos uma dicotomia absolutamente nova.
Vivemos aqui na terrinha um presidencialismo pouco legitimado e, ao mesmo tempo, um parlamentarismo não validado.
As duas casas que deveriam representar a população, mesmo estando na mão de partidos antes aliados ao governo, já não se mostram caminhando na mesma linha.
As dissidências vão surgindo de todos os lados, e o vice-presidente da República é agora deslocado para aparar  todas elas.
Efetivamente, o que vemos é um sistema presidencial isolado de suas bases, sem força política de governança, mas, ao mesmo tempo, incapaz de ser alijado de sua posição hierárquica de poder.
Não fosse o Brasil um país “sui generis”, coisas desse tipo jamais poderiam acontecer. 
Tudo aparentemente pacificado e arrastado através   de jantares, e falsas reuniões sociais amenas, enquanto passam esses novos quatro anos de estrutura montada para continuação de um plano de poder.
Coisas do tropicalismo, e que deixam economias mundiais sérias em absoluto estado de estupefação.
Como investir em países que não respeitam suas metas fiscais e ultrapassam desordenadamente os limites de gastos públicos, e ainda tentam maquiar resultados?
Inclusive os fundos de pensão estatais, até então considerados uma poupança pública, tem sido alvo da cobiça por parte de grupos organizados dentro das empresas.
Vejam por exemplo o Postalis - fundo de pensão dos funcionários dos Correios do Brasil - cujo rombo já começa a aparecer.
Uma pequena parte da população se locupleta através de franca corrupção e de todo esse caos estabelecido como normal.
A população, na sua grande maioria de baixo nível cultural, assiste estupefata ao desmoronamento de seu sonho de um mundo melhor, em que as diferenças sociais viessem a ser menos agressivas.
Diante desse quadro o país inerte agoniza enquanto aguarda medicação capaz de salvá-lo.
Mas, enfim, tudo eram promessas de campanha e a realidade é bem menos colorida.
Como não só aqui, mas pelo mundo afora, as coisas andam muito estranhas, entende-se facilmente como virou best seller um livro lançado apenas para colorir.
Não é de estranhar que precisemos mesmo voltar à infância e passemos a colorir esse mundo, que a cada dia nos parece mais cinzento.
Tudo a ver.

Gabriel Novis Neves
10-05-2015