sexta-feira, 15 de maio de 2015

O difícil momento


Fomos educados para o trabalho como forma digna de vida. “Só o trabalho dignifica o homem”, ouvíamos quando crianças.
O lazer, o descanso e o ócio não eram aceitos, e quando os praticávamos tínhamos a sensação de ter feito algo errado.
O prazer teria de ser punido.
Esse modelo educacional foi o responsável por uma infinidade de neuróticos dessa verdadeira fábrica de pessoas com baixa autoestima.
O trabalho braçal é que caracterizava o trabalho dito aceitável, quando sabemos que o maior de todos é o ato de aprender.
Vivemos em um país de analfabetos exatamente porque é preciso de muita dedicação e horas de estudo para alcançarmos nossos objetivos.
Todo trabalho intelectual, artístico, cultural, científico é visto com ressalvas, só aceito quando o sucesso é o seu resultado.
Entende-se, atualmente, como sucesso, o ganho de muito dinheiro, único indicador de valorização das pessoas - pelos bens materiais capazes que se locupletarem.
O pior, é que os trabalhadores de ofício são tão mal remunerados que os seus salários são inacreditáveis.
Imediatamente vem a estúpida comparação  com os gênios da música, ciência, esportes, artes, que são um ponto na constelação dos bilhões de habitantes do planeta Terra.
Compreender que somos, com o tempo, ultrapassados é o novo desafio para entender a necessidade da aposentadoria como uma dádiva, e não, um castigo após anos de intensa labuta.
Não fomos treinados para viajar, pensar, ficarmos sozinhos, apreciarmos a natureza, ouvir o cântico dos pássaros, o silêncio da noite e até mesmo desfrutar de novos relacionamentos.
O momento de parar de trabalhar é quando temos a oportunidade de cuidarmos de nós mesmos.
É uma decisão inevitável, mas traumática para muitos de gerações passadas.

Gabriel Novis Neves
10-05-2015

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