terça-feira, 12 de maio de 2015

U.T.I.


Assisti nos anos cinquenta ao nascimento das primeiras Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) nos hospitais do Rio de Janeiro.
O seu desenvolvimento foi um subproduto das primeiras viagens espaciais feitas pelos astronautas russos e americanos.
Essa conquista da ciência astronáutica trouxe um extraordinário avanço na medicina tradicional de então.
Nos últimos sessenta anos as UTIs foram transformadas em um espaço da mais alta tecnologia para o atendimento de pacientes graves.
Salva preciosas vidas, mas, na maioria das vezes, prolonga-as inutilmente, aumentando o sofrimento dos seus familiares e amigos.
A sua utilização ficou tão popular que se tornou quase que obrigatória a passagem de pacientes terminais por esses centros antes de encerrarem os seus ciclos vitais.
Trabalhar nesses locais como médico é um ofício, mas um médico visitar um amigo na UTI tem outro significado filosófico.
Passei por essa experiência recentemente e me assustei com as singelas placas de identificação dos internos colocados na cabeceira dos leitos, onde nome e idade são obrigatórios.
Deixei a unidade hospitalar com a sensação que uma pessoa com saúde não tem o mínimo direito de se aborrecer com pequenas mazelas do nosso dia a dia.
Nada de depressão, “farol baixo emocional” ou preocupações exageradas com o natural declínio das nossas funções fisiológicas oriundas da idade avançada.
Foi uma verdadeira aula de humildade essa visita, que servirá de referência neste meu ciclo vital atual.
Jamais lamentarei das minhas deficiências ou limitações próprias da longevidade.
A retirada do jaleco foi uma verdadeira reflexão sobre humanismo e valorização da saúde.

Gabriel Novis Neves
13-04-2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.