segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

DESÂNIMO

Encontro um velho amigo que não via há anos. Pergunto como estão as coisas. “Estou muito desanimado”, responde ele.

Para quem não entende cuiabanês, desânimo não significa a doença do Jeca Tatu. Significa desencanto, desilusão, decepção. Não só o meu amigo sofre atualmente de desânimo; acredito que todo o povo brasileiro. E existe uma causa comum: o exemplo dos nossos homens públicos. Eles são os responsáveis diretos pelos graves problemas sociais que consomem este país.

Desânimo não é uma nova patologia - sempre existiu -, mas ficava restrita a pequenas áreas. Agora, adquiriu a forma de epidemia, colocando em risco o nosso próprio futuro.

Os pobres são as maiores vítimas de tudo que está acontecendo neste país, levando ao desânimo o meu amigo.

Quem lê jornais tem uma fotografia diária do mundo em que vivemos. Existem notícias, verídicas, difíceis de ser entendidas.

O grande filósofo carioca Dricó, em seus sábios ensinamentos, nos diz que somos os culpados pela tristeza do brasileiro. Os políticos são gente fina, nós é que não prestamos.

Tem toda razão o nosso poeta. Se fôssemos do bem, não serviríamos, conscientemente, de escada aos homens do mal. E é isso que, repetidamente, fazemos. Quando colocamos um artista popular - cantor, jogador de futebol ou costureiro - com os nossos predadores, somos censurados.

Os defensores dos grandes interesses privados estão todos entrincheirados nas casas do poder, legislando e defendendo os seus próprios negócios, e os dos seus financiadores.

É desanimador saber que, após ganhar as eleições, muitos vencedores procuram os grandes homens de negócios com cota estipulada, em busca de dinheiro para fechar as contas eleitorais.

Quem não presta somos nós, canta Dricó, que sabe das coisas. O desânimo aumenta quando pensamos que a Constituição Brasileira foi elaborada com base na vontade do povo. O povo – aquele que não presta – a segue. Por outro lado...

É. Nós não prestamos. Não prestamos porque aceitamos e, até certo ponto, glorificamos esse tipo de tratamento que nos é dado.

Vou parar por aqui.

O desânimo também tomou conta de mim.


Gabriel Novis Neves

26-01-2011

domingo, 30 de janeiro de 2011

Madrugadas Cuiabanas

As madrugadas cuiabanas sempre foram consideradas terapêuticas.

Bem antigamente, de madrugada, a família levava as suas crianças, especialmente aquelas com coqueluche, para passeios no bosque.

Para quem não está ligando o nome ao lugar, o velho bosque fica onde hoje está a praça em frente à Igreja Mães dos Homens e toda a região.

Curei a minha coqueluche nas delícias dos passeios nas madrugadas no bosque. Todas as crianças que iam ao bosque eram de Cuiabá.

Ninguém saía de Santo Antônio, de Melgaço, de Livramento, Chapada, etc. para curar coqueluche em Cuiabá.

O tratamento era realizado com sucesso nas suas próprias cidades.

Com o aparecimento das vacinas, praticamente não temos mais esta doença.

A expectativa de vida aumenta e o Dr. Cooper inventa a caminhada.

Hoje as madrugadas cuiabanas funcionam na prevenção das doenças para aqueles que já ultrapassaram o meio dia da vida.

E funciona mesmo esta terapêutica.

Sou testemunha, pois a pratico há muitos anos.

Não encontro ninguém de outros municípios que chega de madrugada para caminhar em Cuiabá e depois retorna às suas cidades.

A clientela é composta por moradores da ex-Cidade Verde. Ultimamente tenho notado um fato relacionado com doença nas madrugadas cuiabanas.

Verdadeiras carreatas de ambulâncias cheias de doentes vindos de todos os municípios de Mato Grosso. De norte a sul, de leste a oeste.

O dia ainda não clareou e lá estão as ambulâncias ocupando as entradas dos nossos principais hospitais e serviços auxiliares.

Incluindo neste pacote de incompetência e desumanidade o nosso tão mal falado e sacrificado Pronto Socorro.

À tarde as ambulâncias retornam, com seus pacientes, para as suas cidades de origem, repetindo a carreata da vergonha nos dias seguintes.

Com isso a hospitaleira Cuiabá e os seus dedicados profissionais de saúde passam a ser tratados pelos irresponsáveis e aproveitadores políticos como verdadeiros criminosos.

“Bom é saber calar, até o tempo de falar.”

Não tenho compromisso com ninguém, apenas com a minha consciência.

O grande culpado por esta situação são os governos que entendem saúde como balcão de negócios geralmente administrado por leigos.

Salvai-nos, São Benedito!


Gabriel Novis Neves

14-01-2011

“JAÚKA”

“Em 1962, Thomaz foi escalado para ser mestre por três anos junto à Missão Anchieta, no internato indígena de Utiariti, no noroeste de Mato Grosso, a 600 km de Cuiabá.

Thomaz e os jesuítas tinham a missão de cristianizar e civilizar. Responsável por 35 meninos de diferentes etnias com idades entre sete e doze anos, distanciados de suas famílias por inúmeras razões, ele observou que aquele modelo de missão estava atualmente equivocado e percebeu que deveriam ter a oportunidade de serem criados e educados de acordo com suas culturas, por suas respectivas famílias e em suas próprias terras.

Mas não havia territórios indígenas demarcados e todos os povos estavam em franco extermínio: em Mato Grosso mais de trinta povos já estavam com as suas populações reduzidas a menos de 200 pessoas.

Thomaz juntou-se a alguns companheiros jesuítas e iniciou - primeiro no interior da ordem - a construir uma nova trajetória de atuação, alternativa ao extermínio físico e cultural que estava imposto aos indígenas no Brasil.

A narrativa histórica dos primeiros contatos com o povo Enawenê-Nawê assume relevâncias, por ser uma iniciativa rara de um contato planejado, cauteloso e vivendo na prática por equipes que sempre se comprometeram com o calendário e a lógica cultural Enawenê.

Em 28 julho de 1974, dia oficial do contato pacífico, 97 pessoas compunham aquela sociedade. Hoje, mantendo espetacularmente sua cultura e dignidade, são 600 Enawenê-Nawê”.

Thomaz de Aquino Lisboa é paulista, foi vice-presidente do CIMI - Conselho Indigenista Missionário.

Atuou junto aos povos Rikebaktsa, Tapayuna, Nambikwara, Irantxe.

Coordenou a equipe da Missão Anchieta que estabeleceu contato com os povos Myky (1971) e Enawenê-Nawê (1974).

Foi professor-colaborador da UFMT, no mandato do 1º Reitor.

Em 1987 casou-se com uma jovem Myky, Njãkau. Tem um casal de filhos e três netos.

Mora na aldeia Japuíra do povo Myky, a 50 km de Brasnorte-Mt.

Fiz esta apresentação do Thomaz, com dados copilados da orelha do seu novo livro (não consta a autoria).

Diário de campo - “JAÚKA” é leitura obrigatória aos estudiosos da ocupação do nosso imenso território.

ENAWENÊ- NAWÊ

PRIMEIROS CONTATOS

Editado por Carlini Caniato.


Gabriel Novis Neves

24-01-2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Contradições

Existem pessoas que exercem cargos importantes e conseguem transformá-los em cargos sem a mínima importância.

Outras transformam cargos sem grande importância em prioritários.

Como exemplo recente, sem medo de errar, eu lembro o Ministério do Meio Ambiente, o mais importante do Brasil, mas sempre ocupado por políticos profissionais.

Era um Ministério ocupado por representantes do loteamento do poder, e o grande responsável pela implicância dos países do primeiro mundo conosco.

Bastou a Marina Silva assumir o ministério para transformá-lo no mais importante do Brasil, respeitado pelo mundo civilizado do planeta, onde Marina é reconhecida e admirada como o próprio meio ambiente.

Deixou o cargo por pressões políticas.

Estava defendendo a natureza, mas prejudicando poderosos empresários do agronegócio.

Os resultados dessa política todos conhecem. São divulgados diariamente pela mídia nacional e internacional, em capítulos de uma novela sem fim.

No Dia Internacional do Meio Ambiente a programação do noticiário televisivo é interrompida e aparece a imagem de uma senhora totalmente desconhecida para a maioria absoluta do povo brasileiro.

Pensei logo em pane na minha televisão. Só fiquei sabendo que era substituta da Marina pela legenda colocada abaixo da sua imagem, e pela leitura da mensagem oficial sobre a data.

Claro que ninguém acreditou no que ouviu da funcionária do poder!

O Ministério sem a Marina ficou quase invisível, só encontrado com lupa e com os escândalos.

Pobre Brasil que não sabe reconhecer os seus próprios filhos!

Onde estudo é considerado coisa de imbecil, e característica de atrasado.

De gente que ainda não percebeu que o mundo agora é dos espertos.

Onde todos querem tirar proveito de tudo, contaminando todos os grupos sociais.

Como reclamam que só apresento propositalmente problema e não solução, eu farei uma concessão neste caso.

A única solução possível para esse quadro será uma bárbara revolução – pela educação.

Não vejo outra saída.

Se as coisas continuarem como estão, os únicos culpados seremos nós, que, consciente ou inconscientemente, esperamos por dias melhores.

Basta de contradições.


Gabriel Novis Neves

06/06/2010

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ROTINA

Cedo o telefone tocou. Atendi. Era um velho amigo. Preocupado, me perguntou se eu já tinha lido a manchete de um grande jornal da cidade, que chamava a atenção dos leitores para a problemática e caótica situação do Portão do Inferno. “Ele vai desmoronar!” – exclamou meu amigo.

Respondi que já tinha lido a notícia e que a minha preocupação era tão grande quanto à dele.

É lamentável! No nosso país as tragédias da natureza são anunciadas, e os órgãos governamentais há anos vêm protelando, de forma irresponsável, a execução de medidas preventivas necessárias para conter a ação destruidora da natureza agredida. E ela é implacável!

Quando a natureza se manifesta contra os seus agressores, pouca coisa se pode fazer. Exemplos não nos faltam. O mais recente, é a tragédia que se abateu sobre o Rio de Janeiro. O que é incompreensível, para não dizer revoltante, é que nessas horas, todos os representantes dos órgãos governamentais rezam a ladainha de sempre: “é preciso investir em prevenção.” Sim. Todos concordam com isso. Mas quando? Quando estes investimentos serão feitos? A resposta, infelizmente eu não sei, e acredito que a grande maioria do povo também não sabe. Só sabemos que, enquanto os nossos políticos estiverem realizando obras de fachada para satisfazer a vaidade do poder, os recursos para a prevenção, irresponsavelmente, vão sendo deixados de lado.

Com a notícia que li sobre o Portão do Inferno, não tenho dúvidas: Cuiabá poderá ser o palco de uma das próximas tragédias a se abater no país. Há anos aquela região vem “falando” que não suporta mais o descaso com que é tratada. O Portão do Inferno deixará de ser Portão, e irá se transformar no maior buraco do Estado.

Quem diz isso, não sou eu. São os geólogos e geógrafos da nossa Universidade Federal de Mato Grosso. É a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, que através do seu Conselho, criou uma Resolução impedindo o tráfico de veículos de cargas pesadas pelo Portão do Inferno. Como não existe fiscalização, eles trafegam tranquilamente pelo local, como se não existisse a portaria proibitiva e preventiva da tragédia.

Há dias um confortável e elegante bitrem, ficou encalhado na curva do Portão, impedindo o trânsito entre as duas cidades. Estou informado inclusive, que uma dessas empresas está trafegando pela estrada proibida graças a uma liminar.

A solução para se preservar o Portão do Inferno, seria uma grande e custosa obra de engenharia no local. Assim estaria garantida a proteção, tanto dessa beleza da natureza, quanto dos usuários da estrada. Mas, em vez disso, o que se vê é a tal da vaidade do poder. A estrada Cuiabá-Chapada dos Guimarães está sendo duplicada, porém, com um pequeno e curioso detalhe: somente até a entrada do luxuoso condomínio do Manso.

A duplicação da estrada até a cidade de Chapada ficará para depois. É a nefasta protelação das medidas de prevenção. Infelizmente o Portão do Inferno está no meio do caminho. “No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho.” E como é caro resolver este problema no meio do caminho!

Nem com reza brava consigo engolir esse sapo! Fico até divagando bobagens quando vejo situações como esta. Por exemplo: Será que o turista europeu que virá assistir à Copa, estará interessadíssimo em conhecer as mansões do lago artificial do manso?

Se até a Copa, o Portão do Inferno ainda existir, com certeza que aqueles turistas irão querer conhecê-lo, assim como a Cachoeira Véu de Noiva, o Complexo da Salgadeira e a encantadora e bucólica cidade da Chapada dos Guimarães.

É triste viver em um país onde a catástrofe virou rotina. Que Nossa Senhora de Santana ilumine a todos nós!


Gabriel Novis Neves

19-01-2011

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Outros tempos

O presidente do Brasil era o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Durante o seu mandato, um grupo de patriotas lutadores pela justiça social no campo, invadiu o seu sítio, no estado de Goiás. Na época as invasões de propriedades privadas ainda eram raras. Em se tratando do presidente da República, o fato foi um prato cheio para a mídia nacional e internacional. As principais redes de televisão nacionais ficaram de plantão, com a sua numerosa equipe, na cancela do sítio presidencial.

Logo apareceram as redes americanas e inglesas. Tinha mais gente do lado de fora que do lado de dentro da casa. A expectativa era de um confronto a qualquer momento entre as forças do exército e as vermelhas da estrelinha. Um mastro fazia a bandeirinha do MST (Movimento dos Sem Terra) tremular ao vento goiano-mineiro.

Várias tendas foram montadas pelos revolucionários da ONG (Organização Não Governamental), para organizar a entrada de jornalistas no interior da casa do sítio do presidente. Gente treinada e habilitada esse pessoal - a maioria com curso no Caribe. Após o credenciamento individual, ou do consórcio de agências de notícias com contrato assinado e pago em moeda estrangeira, os jornalistas recebiam um crachá e uma senha para a entrada no lugar da tão esperada reportagem.

As imagens em tempo real e coloridas que recebíamos em casa eram dignas de um filme de Glauber Rocha. Revolucionários bebendo o vinho predileto do presidente, roupas da professora doutora em Antropologia da USP (Universidade de São Paulo) servindo de tapete e para enxugar pratos na cozinha. Gente dormindo nos sofás e nas camas dos dormitórios. Gente no chão lendo os livros em alemão do presidente professor. Crianças brincando com algumas condecorações, assim como os meninos jogando futebol com bola de meia na imensa biblioteca da casa do sítio. Na verdade essa tomada do sítio do presidente foi planejada com assessoria externa para desestabilizar o regime e o real. No final foi uma tremenda farra, com vantagens comerciais para os revolucionários.

O que fez o presidente FHC? Nada.

As forças armadas não foram incomodadas, e o movimento vitorioso foi esvaziando. A imprensa retirou-se do local e o confronto imaginado por alguns não aconteceu. O presidente FHC ocupou uma cadeia de rádio e televisão e disse que a negociação com os heróis guerrilheiros teria que ser realizado por vias diplomáticas. Tratamento idêntico a qualquer outro conflito semelhante. Esclareceu que, como presidente em exercício do Brasil, tinha direito somente à segurança pessoal. O seu patrimônio, não. Mesmo sendo um sítio, era um patrimônio privado. A lei não concede exceções, nem para o presidente do Brasil.

Por aqui está se discutindo há três anos se os futuros ex-governadores, após deixarem os seus cargos, terão direito à segurança pessoal e patrimonial. O autor intelectual da ideia transformada em lei foi aprovado na Assembleia Legislativa, por TODOS os partidos, sem exceção. Ao sancionar a lei, considerou legítima a sua segurança pessoal e patrimonial. Ainda bem que o seu patrimônio é menor que o sítio do FHC. Se fosse um abonado, teríamos que criar uma Força Nacional de Segurança.

O governador da continuidade, passadas as eleições, achou um absurdo o tal privilégio da segurança patrimonial. Talvez conheça a extensão do patrimônio do seu antecessor, e sentiu que o nosso Estado não teria recursos suficientes para cumprir esse artigo aditivado no decreto que regulamentou a lei. Dez dias antes da sua nova posse (era suplente do que saia com segurança pessoal e patrimonial), anulou o decreto do seu antecessor e publicou outro. Antes, teve o cuidado de retirar a segurança patrimonial e outros penduricalhos.

Como não entendo de leis, gostaria de uma explicação. Cada dia fica mais difícil, para os de outros tempos, entenderem os tempos modernos.


Gabriel Novis Neves

18-01-2010

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

MUDANÇA DE HÁBITOS

As mudanças são inevitáveis, e necessárias, na vida de qualquer ser humano.

Já fiz tantas mudanças na minha vida que até perdi as contas! Umas foram planejadas, outras, inevitáveis. Como digo sempre, ainda me resta um quarto de século para viver.

Enquanto espero aquele dia chegar, sem a mínima pressa, vou valorizando o tempo presente.

Sei que mudanças continuarão a fazer parte da minha vida, mas estou preparado para elas. Mudanças para melhor, é claro.

As mudanças mais fáceis de fazer são as externas. As internas são mais complexas, Mas isto é assunto para outra crônica.

A título de ilustração vou citar algumas mudanças que ocorreram na minha vida. Mudanças simples, que não exigiram grandes esforços, mas mesmo assim, mudanças – e para melhor.

Uma das mais remotas foi a minha magreza. Quando menino era muito enjoado para comer. Verduras?

Só as do carrinho de mão que parava na porta da minha casa. Adorava quando o verdureiro gritava que tinha muita verdura e citava: rapadura, farinha, pote de barro, guaraná ralado, saco para limpeza de chão, pirulito e tantos outros legumes e verduras. Mas, um estágio prolongado no restaurante estudantil no Rio de Janeiro, um período no exército e os plantões hospitalares foram o suficiente para me fazer adquirir novos hábitos alimentares.

Hoje, como tudo o que vem à mesa – até verduras e legumes.

Cheguei a ter o hábito do cigarro.

Quando percebi que estava fumando sessenta cigarros por dia, e após um susto devido a uma arritmia cardíaca, parei de fumar. E lá se vão trinta anos.

O mais recente hábito que abandonei foi o da redondinha e afins - independente de serem destiladas ou não. Quer dizer, parei de beber álcool.

Agora, nas reuniões do “Clube do sábado,” só água e sucos.

Houve um tempo em que apreciava escutar músicas, de qualquer tipo. Hoje já não curto mais.

Estou notando que até o velho hábito de assistir ao futebol está perdendo vitalidade. Não sei nem se este hábito sobreviverá até 2014.

Um querido colega de infância e juventude convidou-me outro dia para um final de semana na sua chácara. Um belo churrasco, regado a muita cerveja e uma pelada entre os amigos.

Lembrou-se que eu gostava disso tudo quando morávamos juntos em uma pensão no Rio.

“Vamos relembrar os velhos tempos” – ele falou. Ficou meio decepcionado quando lhe respondi: “Obrigado, companheiro, pela lembrança, mas os velhos tempos ficaram lá atrás. Hoje não curto mais nada disso.”

Aí veio o fatídico questionamento, que não raro escutamos quando comunicamos este tipo de coisa: “É a idade que está pesando? Agora só quer ficar na vagabundagem?”

Ele falou sem maldade, creio que condicionado por esses chavões horrorosos.

Respondi com toda calma: “Não, meu querido colega. Estou longe da vagabundagem – e que Deus me conserve sempre longe dela.

“Estou como sempre estive, em permanente estado de mudanças de hábitos, exatamente para continuar a ser o mesmo.”

O meu novo hábito agora é escrever. Até quando não sei.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 22)

22-07-2010

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A Águia de Haia

Rui Barbosa por duas vezes pleiteou a presidência do Brasil, e nas duas vezes foi derrotado. Entregou os pontos e jogou a toalha na participação política do seu país - “de tanto ver triunfar as nulidades.”

Exerceu com raro talento e sabedoria, a sua profissão de jurista, pensador, professor, escritor e jornalista.

Com tristeza encontro o nosso Estado coberto de toalhas jogadas pelos homens de bem.

Nada é respeitado, a não ser a idolatria das nulidades. E como existem nulidades na terra de Dom Aquino Correa!

Os muros da ética e da decência foram todos destruídos pelo deus do mundo do consumo.

Perdemos as nossas referências.

A tão ouvida estória da “terra de ninguém” da minha infância foi transformada em realidade. O pior é que as novas gerações estão sendo educadas dentro desses princípios, em que os meios justificam os fins.

Será que escrevo assim, porque envelheci? Os otimistas me repreendem dizendo que no Brasil, sempre foi assim. Será que a Águia de Haia pensava assim?

Acompanhei muitos homens públicos do meu Estado, até a última morada. Partiram para outra vida, assim como chegaram - com a diferença de terem seus corpos cobertos na viagem da qual não escaparemos.

Fiquei perplexo ao tomar conhecimento das últimas notícias dos homens públicos do meu Estado. Por aqui as leis não são fiscalizadas, e muito menos cumpridas. Muitas vezes são, inclusive, alteradas para beneficiar, não a população pobre, mas sim, aos poderosos. Nos tempos da Águia isso era crime qualificado. Agora, é a Regulamentação da Lei do Gerson, aquela em que o autor da façanha sempre leva vantagem.

Essa prática está mais disseminada no nosso Estado do que o mosquitinho da dengue - aquele que mata.

Caminhando longe do poder, conversando com humildes e graduados servidores públicos concursados, fico sabendo, e lembrando-me, das estórias da minha infância.

A prática da lei do Gerson é a mais utilizada pelo poder, e faz com que as nossas maiores autoridades se tornem verdadeiros reféns de certos grupos. São os chamados funcionários imexíveis dos governos.

Geralmente consideram-se superiores aos demais colegas, e pertencem ao chamado núcleo duro do poder. São aqueles que mandam e desmandam no governo. Alguns os chamam de arquivos, pelas informações que detêm.

Vivem do medo que os poderosos possuem deles. Estes não suportariam serem pilhados em flagrantes nas suas malandragens.

Creio em uma mudança. Os tempos são outros.

“De tanto ver triunfar as nulidades,” é chegado o momento de recolhermos as toalhas jogadas, e mudar este país.


Gabriel Novis Neves

19-01-2011

domingo, 23 de janeiro de 2011

PROCURA

Vivo à procura de um conceito para alguns dos sentimentos humanos. E ninguém melhor do que os poetas para falar dos sentimentos.

Encontrei, no poeta da Portela, uma definição para um sentimento hoje tão difundido no século XXI: a solidão. Já repararam em como se fala de solidão?

Segundo Paulinho da Viola: “Solidão é lava que cobre tudo, amargura em minha boca, palavra cavada no coração, resignado e mudo no compasso da desilusão.” Triste né?

Mas quase tudo que leio sobre solidão é assim – triste. Felizmente não padeço, por enquanto, deste mal, mas sei que transmito para muitos o sentimento de solidão.

Questão de projeção com transferência afetiva.

Sempre fui um obreiro, e caseiro por opção. Abafa-me a solidão na multidão. Um amigo certa vez cantou, dedilhando no seu violão: “Pra meu consolo tenho as estrelinhas do céu, tenho o livro e o violão, para o meu pobre coração.”

Só não tenho o violão. As estrelinhas do céu e livros eu tenho aos montes, mas, acima de tudo, tenho a mim mesmo, e não sinto pobre meu coração.

Minha numerosa família seguiu o ritmo natural da biologia. Da minha primeira geração - pais, avós e tios em número de vinte e três -, não sobrou ninguém.

Constituí uma família. Minha companheira cumpriu sua tarefa aqui na terra e prematuramente foi premiada com uma vida melhor.

Meus três filhos constituíram novas famílias, o mesmo acontecendo com os meus oito irmãos.

Resumindo: fiquei só!

É exatamente por este 'ficar só' que muitos conhecidos me rotulam como um solitário.

Grande equívoco! Não me sinto solitário. Posso até ser um solitário no sentido literal da palavra – não ter companhia em casa.

E para por aí. Executo tantas atividades que não sobra tempo, nem espaço, para a solidão.

Concordo neste sentido com Voltaire, que uma vez disse: “A mais feliz das vidas é uma solidão atarefada.”

Sinto-me tão protegido desse mal que às vezes saio de casa para compromissos sociais apenas para provar que estou vivo.


Gabriel Novis Neves

01-08-2010

sábado, 22 de janeiro de 2011

Artista

Atire a primeira pedra quem estiver livre de todo preconceito.

Na verdade todos nós possuímos algum tipo de preconceito: uns são mais aflorados, outros mais contidos e alguns nem sequer percebidos. “... um preconceito desfaz-se - basta a simples reflexão” – assim falava Machado de Assis.

Sem querer parecer presunçoso, acho que ajudei algumas pessoas a descobrir que possuíam certos preconceitos. Preconceitos tão arraigados que essas pessoas nem faziam idéia de que os possuíam.

Há meses escrevi um artigo sobre tatuagem. Tentei descrever a minha emoção diante da visão de uma enorme e bela tatuagem.

Olhando e analisando aquela obra de arte na minha frente, o meu preconceito se desfez – sim, eu era um preconceituoso em relação a esta arte.

Mas, ainda Machado de Assis, bastou uma simples reflexão sobre o assunto e fiquei curado.

Para minha surpresa, recebi vários e-mails em resposta à minha observação da tatuagem. Eu nunca pensei que fosse influenciar no comportamento preconceituoso de alguém com relação a esta expressão de arte.

O tatuado, de modo geral, é visto pela sociedade como um marginal.

São preconceituosamente identificados como viciados em drogas, preguiçosos, dependentes de álcool e sexo casual, destruidores dos nossos valores éticos e culturais.

Para se defender dessa rejeição social, a maioria dos apreciadores da tatuagem coloca pequenos desenhos nos pés, calcanhares, ombros e nuca. Na parte coberta pelo vestuário, também pequenos desenhos.

Na última Copa do Mundo, a atração não foi tanto o futebolzinho apresentado pelos atletas, e sim as suas tatuagens cobrindo-lhes praticamente todo o corpo.

São apreciadores da arte da pintura do corpo, e não artistas com a bola.

Uma leitora me confidenciou que quando viu a sua sobrinha com uma tatuagem nas costas, lembrando uma carta de baralho colorido, começou a chorar. Interrompia o seu choro para balbuciar - até você, minha querida!

Levou a crônica “Tatuagem” para análise de uma artista plástica. Com o laudo afirmando que tatuagem é arte, e também poesia, compreendeu a sua sobrinha e já marcou dia e hora para fazer a sua.

Confessou ser agora uma admiradora da arte da tatuagem!


Gabriel Novis Neves (7.5 + 31)

06-08-2010

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

VERDADE

Cuiabá viveu durante séculos no mais completo isolamento. Ainda na metade do século vinte, os estudantes cuiabanos que conseguiam ir estudar no Rio de Janeiro, só recebiam notícias da terrinha, através das cartas familiares semanais.

Após a conclusão do curso, muitos voltavam para cá. Outros ficavam por lá - atraídos por um bom emprego. Os que por lá ficavam, vez por outra, fortuitamente, encontravam-se com velhos amigos da terrinha. Esses encontros geralmente aconteciam no centro do antigo Rio. Era uma explosão de alegria! E iam tomar um chopinho na Avenida Central.

Entre um chopinho e outro, colocavam as novidades em dia.

Certa ocasião, um filho da terra - que há anos morava no Rio - e que perdera o contato com a sua querida cidade, encontrou um amigo recém chegado à ex-capital maravilhosa do Brasil.

Após os abraços e palavras de praxe, foram tomar o tradicional chopinho.

Nem bem foi servido o primeiro chope, o cuiabano de lá, pediu ao amigo conterrâneo, certos esclarecimentos. Algumas informações que lhe tinham chegado não eram dignas de merecer confiança, tal o inusitado das novidades. Queria saber a verdade.

- Vamos lá então - falou o conterrâneo - pode perguntar o que quiser.

Como o amigo se mostrou bastante solícito, ele iniciou sua bateria de perguntas.

- É verdade que o único médico otorrino de Cuiabá é surdo?

- É.

- E que o dono do Cartório de Registro de Imóveis é cego?

- É.

- E que o Arcebispo da capital é agiota?

- É.

- E que o Presidente da Ação Católica é separado da sua esposa?

- É.

-E que o guaranazinho ralado, típico da cidade de Cuiabá, vem de Manaus?

- É.

- E que a verdura predileta dos cuiabanos é a farinha de mandioca do Mimoso?

- É.

- E que “inauguraram uma placa numa casa do centro da cidade,” quando o presidente Dutra visitou Cuiabá, como sendo a casa onde ele nasceu?

- É.

-E que o mundialmente Rondon, é conhecido em Cuiabá como Cândido Mariano?

- É.

- E que o Rubens de Mendonça conhecia outra história da Guerra do Paraguai?

- É.

- E que os intelectuais da cidade realizavam as sessões da Academia de Letras, no Bar do Bugre?

- É.

Diante de tantas confirmações, o saudoso filho da terra desistiu de fazer outras perguntas, e disse:

-Estou satisfeito. Não vou perguntar mais nada. A amostragem foi muito convincente - e completou suspirando: gostaria que tudo isso fossem apenas “estórias.”

Lembrei-me dessa pequena história do passado porque há poucos dias sofri uma sabatina parecida.

Perguntaram-me se era verdade que o futuro chefe do Escritório de Cuiabá em Brasília sempre morou no interior de Mato Grosso, e se era verdade também que ele representa um governo que não votou na Presidente.

E se a função desse escritório era a de captar recursos com os seus adversários políticos.

O que responder diante dessas perguntas?

Resolvi ser bem objetivo. E respondi:

- É.


Gabriel Novis Neves

Cuiabá, 15-01-2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Investimentos

Sempre, no meu deslocamento para o trabalho, ouço o rádio do carro. Escutei certo dia a entrevista de um burocrata federal comissionado de alta plumagem em Brasília. Falou por longo tempo sobre os investimentos dos governos estadual e federal em Cuiabá.

O que causa espanto nestas entrevistas é que, passados oito anos de uma bela gestão, as autoridades atuais falam sempre utilizando o futuro dos verbos. O verbo da embromação é colocado no futuro, ou como dizia a minha madrinha, no “Dia de São Nunca.”

Farei. Realizarei. Avançarei. Continuarei. Acelerarei. E por aí vai. O investimento está no papel, mas nunca é transformado em obras necessárias à nossa judiada Cuiabá.

Com a desculpa da Copa do Mundo, todas as necessidades da nossa cidade serão atendidas futuramente pelos nossos governantes, principalmente pelo governo federal.

Até agora, a demolição do Verdão é o único sinal material de que a Copa será realizada aqui. Quem passa pelo nosso raquítico aeroporto em Várzea Grande não percebe nenhum movimento de obras, mas está no planejamento. Será totalmente ampliado e modernizado. O programa de mobilidade urbana também consta da programação.

O único investimento importante que o governo realizou nesses últimos anos foi relacionado ao trem do Vuolo, inclusive mudando o seu traçado. Ah, sim! Teve também o corte de recursos para a conclusão do Centro de Hemodiálise do hospital federal da Universidade e o abandono total de repasses de recursos materiais e humanos para o bom funcionamento de um hospital de ensino.

Como são diferentes os administradores de agora! Até há pouco tempo, quando um servidor público terminava o seu mandato, prestava contas sempre utilizando o verbo no tempo passado, traduzindo uma realização.

Fazejamento, de Benedito Pedro Dorileo - obra de uma história de conquistas -, relata muito bem os tempos. Era o tempo das prestações de contas do que se fez, sem restos a pagar! Sou da época de não contar com o ovo que a galinha iria botar. Então os termos, ou melhor, o linguajar, tinha credibilidade.

Os antigos assim se expressavam nas suas falas: Fizemos o Teatro, a Biblioteca, os Museus, o Zoológico, o Ginásio de Esportes, o Campo de Futebol com as Quadras de Esportes, o Parque Aquático. A Orquestra Sinfônica, o Quarteto de Cordas, O Coral. A Banda Universitária e a Escola de Samba Mocidade Independente. Os prédios para alojar os Centros de Ciências da Saúde, Agrárias, Sociais, Tecnológicas, Cursos de Curta Duração, Fazenda Experimental em Santo Antônio. Centros Universitários em Rondonópolis e Pontal do Araguaia. A conquista de Aripuanã, com o seu primeiro campo de pouso autorizado pelo DAC para operar aviões Búfalo. Fizemos e implantamos a pós-graduação, quando participamos de um projeto piloto nacional, dispensando os docentes do interior do Brasil do exame de seleção. Trabalhamos com professores competentes e servidores administrativos excelentes.

Ninguém da minha geração viveu o sonho de um dia, mas a transformação de uma realidade. Deixemos a hipocrisia do vou fazer ilusório, e vamos trabalhar com humildade para realizar. Esta é a obrigação do servidor público, e não vender ilusões e fantasias. Voltemos ao tempo do prestar contas do feito e não daquilo que iremos fazer.

No fazejamento só existe o verbo fazer. Então eu fiz, ou não fiz.

O resto é entrevista de rádio.


Gabriel Novis Neves (7.5+105)

29-10-2010

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

AUTORIDADES!

Um calção básico, tênis comprado no paraguaizinho, camiseta de propaganda e um bonezinho - tudo distribuído pelo governo. Pronto. Depois, só falta vontade para conhecer a nossa realidade social, e, se possível, realizar alguma coisa nessa área tão abandonada!

Cuiabá é o centro de irradiação de problemas sociais e receptadora das misérias sociais do interior do Estado.

Uma simples caminhada pelas nossas ruas e avenidas de manhãzinha - não necessariamente de longo percurso -, sem assessores, seguranças e imprensa, é o que basta para que nossas autoridades tenham uma aula prática de sociologia.

Encontrarão pelas calçadas jovens dominados pelas drogas, especialmente o crack. A turma do pó dorme (!) em casa. Essas crianças jogadas nas ruas têm mãe e pai, e vivem em um país que se intitula socialista e defensor dos pobres. Mas desse jeito? O nosso futuro está morrendo no presente do agora. É triste constatar a morte das novas gerações por descaso do governo com relação às drogas.

As nossas autoridades enfrentam a tragédia com discursos futuristas, quando sabem muito bem quem são os fornecedores de droga no nosso Estado, e por onde ela entra.

Forças poderosas diplomáticas falam mais alto, e qualquer intervenção mais severa no combate à entrada da droga poderá prejudicar a política do MERCOSUL e, principalmente, a doutrina bolivariana.

É triste esse quadro social em que o jovem vive só o “momento”. Triste saber que a nossa sociedade está anestesiada e as nossas autoridades equivocadas com as suas opções de prioridades.

O governo do Estado acaba de demonstrar esse grande equívoco de injustiça social. Criou uma secretaria só para fazer desapropriações para a Copa. Outra secretaria estudará projetos comprados para a tal mobilidade urbana, recentemente publicada pela imprensa. Não contando a criação de uma superautarquia cujos diretores têm até mandato para fazer o que a Secretaria de Infra-Estrutura faz. E esta faz em melhores condições técnicas e com larga experiência na execução de obras. Não esquecendo que o Estado possui também uma Secretaria de Esportes. É muita despesa para um Estado pobre e cheio de problemas mais urgentes e importantes! Não consigo entender esta política social – mas dizem que é.

Lembro às autoridades do meu Estado da necessidade urgente de se criar a “Secretaria de Fabricar Dinheiro” - para suportar, pelo menos, o custeio das novas secretarias. Pelo que fiquei sabendo, só em desapropriações para as obras das avenidas que serão alargadas, das rotatórias e dos elevados, o governo terá que investir muito dinheiro. Nem eles mesmos sabem quanto, agravado com o fato de que eles também não têm a quantia necessária – seja ela qual for.

O novo governo Federal já emitiu sinais de que a prioridade agora é o gigantesco corte no orçamento, nas emendas parlamentares e fechamento do cofre do BNDES.

E também já avançou o seu peão de prioridade: combate total à miséria. Por lá ninguém falou em Copa do Mundo.

Dizem que por aqui a herança é inimaginável. No momento está proibida a sua publicação, assim como quaisquer comentários na mídia. Ao pé do ouvido os comentários estão liberados. Como o ouvido foi feito para ouvir, e não para guardar segredos, já é do domínio público a nossa situação financeira.

Autoridades! A dependência química não é vício ou malandragem! É doença, possível de ser tratada. Que tal criar uma secretaria especial no Estado de combate às drogas? Seria um bom começo, aprendido na caminhada da madrugada. A estrutura seria pequena e não haveria necessidade de grandes recursos financeiros. Há, porém, uma única exigência para o seu sucesso: ela não pode ser loteada. Adeus drogas!

Gabriel Novis Neves

08-01-2011