quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Profissões rendosas

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está há meses trabalhando no Censo 2010. Não sei se o trabalho está concluído, mas alguns resultados estão sendo divulgados.

Pela primeira vez fui entrevistado pelo recenseador do IBGE. Imaginava responder a perguntas importantes como a minha profissão, estado civil, número de filhos e outras mais, pensadas por um leigo em estatística. Qual nada! Recordo de uma pergunta que me surpreendeu. Queria saber - o questionário lido pelo recenseador - o número de banheiros existentes em meu apartamento, não demonstrando, entretanto, o mínimo interesse no seu uso. Que pena! Se o IBGE soubesse que metade deste valioso patrimônio doméstico é utilizada por mim para guardar livros, quadros, documentos...

De estatística só sei o que me foi ensinado pelo embaixador, ex-ministro do Planejamento do Brasil, economista e livramentense Roberto de Oliveira Campos: “Estatística é igual biquíni. Mostra tudo e esconde o essencial.”

Ouço pelo rádio do meu carro uma informação repassada pelo IBGE sobre as profissões mais rendosas no Brasil - todas com carteira assinada no Ministério do Trabalho.

Disparada, em primeiríssimo lugar, a profissão de deputado, senador, governador e os numerosos afins. Nenhuma surpresa. Para essa conclusão não precisaríamos nem dos serviços científicos do IBGE! Todo o Brasil sabe que esse povo é supervalorizado no mercado internacional. Nossos deputados e senadores são os mais bem-remunerados do mundo. Mais um título mundial para o Brasil.

A zebra apareceu na quarta colocação. Considerando que o estudo foi realizado, repito, com dados fornecidos pelo Ministério do Trabalho, a quarta profissão mais rendosa deste país ficou com os profissionais do sexo.

O Brasil possui, registrados com carteirinha assinada no Ministério do Trabalho, mais profissionais do sexo do que filósofos.

Na clandestinidade acho que está a mais rendosa das profissões. É fácil identificar os profissionais desse grupo social. Geralmente são pessoas que trabalham virtualmente, mas têm muito talento para bons negócios. Frequentam os lugares da moda, contam vantagens e estão sempre viajando para descansar. São autoritários e adoram ser bajulados. Existe até um curso de curta duração para ensinar como tratar um vencedor que construiu uma fortuna em pouco tempo, sem qualificação e trabalho.

Voltando ao rendimento do profissional do sexo: quem irá solicitar recibo a esses profissionais de profissão reconhecida? Qual a lei que o Congresso Nacional faria para estabelecer um teto constitucional para essa categoria?

Esses profissionais não têm nada a ver com o temível Leão da Receita Federal. O pagamento dos seus salários não é via holerites ou moeda brasileira. Também os seus valores não são depositados em bancos e, sim, nos laranjais do Caribe. Esses truques foram ensinados, aos colocados em quarto lugar, pelos do primeiro.

Finalmente, esses portadores de profissões rendosas precisam de um título. Nada impossível de se conseguir. Títulos e medalhas são fartamente distribuídos pelos diversos ministérios do governo, em uma data comemorativa, ou em uma motivada Casa do Povo.

E pensar que os nossos avós só desejavam para seus filhos uma dessas quatro profissões: carreira militar, religiosa, profissional liberal e funcionário do Banco do Brasil.

Hoje são as profissões menos rendosas - pelo censo do IBGE.


Gabriel Novis Neves

27-12-2010

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