quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A lei

Aos amigos, tudo. Aos inimigos, o rigor da lei. Este parece ser o princípio básico da nossa Constituição. Ladrão de galinha - prisão perpétua. Ladrão dos bilhões dos cofres públicos - comendas e condecorações. Esta é a nossa lei, feita pelos nossos representantes.

Um amigo jornalista há anos vem denunciando, através de seu veículo de trabalho, o perigo que representa o tráfego de caminhões, fugitivos das balanças de pesagem, pela rodovia que dá acesso à Chapada dos Guimarães. Entre eles, destaque para os caminhões que transportam parte da nossa produção agrícola. Forçosamente esses caminhões passam por um dos nossos cartões postais – o Portão do Inferno.

Professores peritos em Geologia da nossa Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) condenaram o transporte pesado naquela região tão bonita.

O terreno que dá sustentação ao chamado Portão do Inferno é arenoso, e não rochoso, como pensavam alguns. Até mesmo o tráfego contínuo de carros pequenos pode ser uma ameaça ao terreno, caso não se tome medidas preventivas urgentes para se evitar o pior - especialmente agora que estamos na gestação do maior evento esportivo do mundo.

Parece-me que existe uma Resolução do Conselho Estadual do Meio-Ambiente (CONSEMA) disciplinando essa questão do tráfego dos bi e tritrem de carga por essa estrada. Quem passar com o bitrem produzindo danos ao meio ambiente, transtornos aos moradores da Chapada e aos turistas, estará cometendo crime qualificado. A lei tem que ser empregada com rigor.

Vi um enorme bitrem tomando conta da pequena pista de mão dupla, interrompendo totalmente a ligação entre as duas centenárias cidades. Pasmem, senhores! Esse acontecimento não foi notícia na mídia de Cuiabá - com uma única exceção.

Qualquer batida de bicicleta por aqui tem uma imensa repercussão. Por que acontecem essas coisas no meu Estado?

Devem existir motivos inconfessáveis para tanto desinteresse. Enfim, corremos o risco de perder um dos nossos símbolos de beleza natural, com o desabamento das encostas arenosas do nosso Portão do Inferno.

Será que a ganância do lucro é maior que a preservação do nosso meio ambiente?

Não nos recuperamos ainda do trauma da motoserra e já entramos na fase do bitrem.

Tá de bom tamanho a humilhação que sofremos diante do mundo civilizado, assim como os inúmeros troféus que essa pequena máquina de cortar árvores nos concedeu. Chegamos, inclusive, ao troféu de ouro, fornecido por uma ONG internacional.

Chegaremos ao infrator da lei? Tenho o leve pressentimento de que a culpa toda recairá no pobre motorista do caminhão que, para manter a sua família, trabalha honestamente, obedece a quem lhe paga, e, muitas vezes, nem sabe que está cometendo uma infração.

A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), responsável pela fiscalização da resolução que o seu conselho criou, foi toda desmontada, e não punirá ninguém do agronegócio e similares.

Esta cena do bitrem, fato de domínio público, pois que foi publicada com detalhes, justificativas e foto, incomodará a SEMA?

Será que alguma sindicância será aberta, nem que seja bem amena, e somente para dar satisfação ao pagador de impostos, ou o fato cairá no imenso depósito do esquecimento?

Não sei não. Espero pelo pior - nada de providências, muito menos sindicâncias. Houve apenas um probleminha pontual e tudo bem, parece-me ser a justificativa das nossas autoridades.

É mais fácil desmoronar a encosta arenosa do Portão do Inferno - e o motorista do bitrem pegar prisão perpétua - do que o Estado chegar a punir os verdadeiros responsáveis.

Assim caminha o nosso Estado - de bitrem.


Gabriel Novis Neves

06-01-2011

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