Tempos atrás li um livro de Mário Prata. Um livro de crônicas. Continha uma seleção de cem crônicas, que na verdade eram cento e vinte. Foi um dos livros mais vendidos do Brasil.
Lembro-me que fiquei impressionado com a riqueza dos textos e fascinado pela sua fecunda produção literária. É claro que sabia que o autor possuía muito mais do que aquelas cento e vinte crônicas publicadas.
Há cinco anos, por sugestão do meu analista, comecei a escrever. Ele me orientou a colocar no papel tudo o que minha razão e meu coração pedissem. E assim eu fiz.
O início foi bem difícil. O lápis não obedecia aos meus pensamentos – todos se engalfinhavam para ter a prioridade de ser materializado. Aos poucos fui colocando ordem na casa. Hoje eles são mais obedientes, mas de vez em quando se rebelam, e o leitor pode sentir isso.
Até que um dia, um texto meu foi publicado num jornal eletrônico – no site que ninguém lê. Confesso: senti-me emocionado e envaidecido. Estava me sentindo o próprio Mário Prata.
O meu primeiro editor, o meu amigo Villa, foi de uma audácia notável. Sabiamente, para não comprometer a linha editorial do jornal, fui colocado em “Tema Livre”, onde você escreve quando puder e se quiser.
Depois de intensas cobranças, de mim para mim mesmo, comecei a escrever com regularidade e disciplina militar. No ano passado, não falhei nenhum dia. Fui então promovido pelo velho oráculo do Porto, para a capa do seu jornal eletrônico.
Para chegar a esse patamar, contei com o apoio imprescindível do pessoal do Bar do Bugre, além de inúmeros amigos - antigos e novos. Aprendi muito com todos eles. Sei que sou um aluno complicado, mas todos tiveram infinita paciência e bondade para com este velho escriba. E, quero deixar registrado: não posso prescindir da continuidade do apoio deles.
Só sei que, devagar, devagarinho, eu cheguei à publicação do meu artigo cento e cinquenta. Marquei um jantar de confraternização com o meu primeiro editor e a minha sócia do Bar do Bugre.
Fomos a um lugar simples e acolhedor. Era permitido o uso de bermudas e chinelos - exigência do meu editor – e também fumar – exigência da minha sócia. Ficamos horas conversando, bebericando e petiscando. O jantar foi esquecido. Propus então que o jantar seria adiado para a comemoração ao meu artigo de número quinhentos.
Não sei porque, mas os dois riram muito. Até hoje escuto o coro: “ah, ah, ah, olha o cavalo paraguaio aí, gente!!!” Pura provocação! Fiquei quieto, mas convicto de que chegaria lá.
Hoje, com certo orgulho, publico esta crônica – de número quinhentos. Exijo o jantar dos quinhentos, sem mais exigências.
Cá pra nós, quinhentos é uma marca.
Gabriel Novis Neves
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