domingo, 23 de janeiro de 2011

PROCURA

Vivo à procura de um conceito para alguns dos sentimentos humanos. E ninguém melhor do que os poetas para falar dos sentimentos.

Encontrei, no poeta da Portela, uma definição para um sentimento hoje tão difundido no século XXI: a solidão. Já repararam em como se fala de solidão?

Segundo Paulinho da Viola: “Solidão é lava que cobre tudo, amargura em minha boca, palavra cavada no coração, resignado e mudo no compasso da desilusão.” Triste né?

Mas quase tudo que leio sobre solidão é assim – triste. Felizmente não padeço, por enquanto, deste mal, mas sei que transmito para muitos o sentimento de solidão.

Questão de projeção com transferência afetiva.

Sempre fui um obreiro, e caseiro por opção. Abafa-me a solidão na multidão. Um amigo certa vez cantou, dedilhando no seu violão: “Pra meu consolo tenho as estrelinhas do céu, tenho o livro e o violão, para o meu pobre coração.”

Só não tenho o violão. As estrelinhas do céu e livros eu tenho aos montes, mas, acima de tudo, tenho a mim mesmo, e não sinto pobre meu coração.

Minha numerosa família seguiu o ritmo natural da biologia. Da minha primeira geração - pais, avós e tios em número de vinte e três -, não sobrou ninguém.

Constituí uma família. Minha companheira cumpriu sua tarefa aqui na terra e prematuramente foi premiada com uma vida melhor.

Meus três filhos constituíram novas famílias, o mesmo acontecendo com os meus oito irmãos.

Resumindo: fiquei só!

É exatamente por este 'ficar só' que muitos conhecidos me rotulam como um solitário.

Grande equívoco! Não me sinto solitário. Posso até ser um solitário no sentido literal da palavra – não ter companhia em casa.

E para por aí. Executo tantas atividades que não sobra tempo, nem espaço, para a solidão.

Concordo neste sentido com Voltaire, que uma vez disse: “A mais feliz das vidas é uma solidão atarefada.”

Sinto-me tão protegido desse mal que às vezes saio de casa para compromissos sociais apenas para provar que estou vivo.


Gabriel Novis Neves

01-08-2010

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