segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A Águia de Haia

Rui Barbosa por duas vezes pleiteou a presidência do Brasil, e nas duas vezes foi derrotado. Entregou os pontos e jogou a toalha na participação política do seu país - “de tanto ver triunfar as nulidades.”

Exerceu com raro talento e sabedoria, a sua profissão de jurista, pensador, professor, escritor e jornalista.

Com tristeza encontro o nosso Estado coberto de toalhas jogadas pelos homens de bem.

Nada é respeitado, a não ser a idolatria das nulidades. E como existem nulidades na terra de Dom Aquino Correa!

Os muros da ética e da decência foram todos destruídos pelo deus do mundo do consumo.

Perdemos as nossas referências.

A tão ouvida estória da “terra de ninguém” da minha infância foi transformada em realidade. O pior é que as novas gerações estão sendo educadas dentro desses princípios, em que os meios justificam os fins.

Será que escrevo assim, porque envelheci? Os otimistas me repreendem dizendo que no Brasil, sempre foi assim. Será que a Águia de Haia pensava assim?

Acompanhei muitos homens públicos do meu Estado, até a última morada. Partiram para outra vida, assim como chegaram - com a diferença de terem seus corpos cobertos na viagem da qual não escaparemos.

Fiquei perplexo ao tomar conhecimento das últimas notícias dos homens públicos do meu Estado. Por aqui as leis não são fiscalizadas, e muito menos cumpridas. Muitas vezes são, inclusive, alteradas para beneficiar, não a população pobre, mas sim, aos poderosos. Nos tempos da Águia isso era crime qualificado. Agora, é a Regulamentação da Lei do Gerson, aquela em que o autor da façanha sempre leva vantagem.

Essa prática está mais disseminada no nosso Estado do que o mosquitinho da dengue - aquele que mata.

Caminhando longe do poder, conversando com humildes e graduados servidores públicos concursados, fico sabendo, e lembrando-me, das estórias da minha infância.

A prática da lei do Gerson é a mais utilizada pelo poder, e faz com que as nossas maiores autoridades se tornem verdadeiros reféns de certos grupos. São os chamados funcionários imexíveis dos governos.

Geralmente consideram-se superiores aos demais colegas, e pertencem ao chamado núcleo duro do poder. São aqueles que mandam e desmandam no governo. Alguns os chamam de arquivos, pelas informações que detêm.

Vivem do medo que os poderosos possuem deles. Estes não suportariam serem pilhados em flagrantes nas suas malandragens.

Creio em uma mudança. Os tempos são outros.

“De tanto ver triunfar as nulidades,” é chegado o momento de recolhermos as toalhas jogadas, e mudar este país.


Gabriel Novis Neves

19-01-2011

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