sexta-feira, 31 de julho de 2015

Papa Francisco


Em sua peregrinação pelo Equador, Bolívia e Paraguai o Papa Francisco mais uma vez surpreendeu o mundo ao discursar no “Encontro dos Movimentos Sociais”.
Com a sua franqueza habitual, sabedoria e muita diplomacia, deixou o seu recado em uma importante reunião de líderes e dirigentes sociais latino-americanos. 
A impressionante ressonância mundial foi imediata. Vozes discordantes apareceram advertindo que suas palavras não deviam ser levadas a sério.
Tudo isso porque o Papa disse que “o capitalismo é um sistema esgotado, que já não se sustenta, que os ajustes sempre são feitos à custa dos pobres, que não existe tal coisa como o derrame da riqueza das taças dos ricos, que destrói a casa do comum e condena a Mãe Terra”.
O Papa revolucionário também condenou os monopólios como uma grande desgraça, disse que o capital é o “estrume do dinheiro”, que se deve cuidar do futuro da Pátria Grande e estar em guarda frente às novas formas de colonialismo.
Com suas palavras, Francisco abriu um espaço enorme para avançar no sentido de neutralizar a ideologia dominante, que difunde que o capitalismo é a única forma sensata – e possível – de organização econômica e social.
O histórico discurso do Papa na Bolívia instalou no imaginário público a ideia de que “o capitalismo é um sistema desumano, injusto, predatório, que deve ser superado mediante uma mudança estrutural”.
Graças às suas palavras estamos em melhores condições para vencer a batalha de ideias de forma a convencer todas as classes oprimidas, as principais vítimas do sistema, de que é preciso acabar com o capitalismo, antes que esse infame sistema acabe com a humanidade e com o planeta, no dizer do sociólogo argentino Atílio Boron.
O Papa Francisco tem como prioridade a defesa dos três T: Terra, Teto e Trabalho.
Com relação ao problema grego, ele alerta ao mundo para as novas formas de neocolonialismo que recrudescem no mundo.
Mais do que o representante máximo da religião católica, Francisco vem se tornando um dos maiores símbolos, não de religião, mas de algo muito mais difícil de ser praticada, a religiosidade.

Gabriel Novis Neves
17-07-2015

quinta-feira, 30 de julho de 2015

NOSTALGIA


Há alguns dias, no Rio de Janeiro, voltando do teatro, onde assisti a uma peça de forte apelo especulativo existencial, fui arrebatado pela saudade do passado.
Ainda embalado pelo clima  de grande prazer, em que todo o sistema emocional, assim como todo corpo, recebeu  doses generosas de serotonina e de endorfina,  me senti estonteado diante de uma noite cálida e estrelada.
Após um jantar que  aguçou todos os meus sentidos, a volta para casa, sempre beirando as praias cariocas deslumbrantes, fui tomado  por uma imensa nostalgia ao lembrar daquele lugar mágico em que eu vivi durante doze anos da minha juventude.
Em nada se assemelhava à cidade que pulsava dia e noite e que me fazia vibrar.
Figuras típicas das noites cariocas, tais como, vendedores de flores, boêmios em seus bares famosos, pequenos redutos de encontro  de artistas e poetas, boates  de fracas luzes  em que pianos discretos embalavam  casais de namorados num abraço sem fim, socialites  famosas  marcando presença  em restaurantes  da moda, enfim, tudo isso é coisa do passado.
Os altos custos dos alugueis e manutenção dos espaços de entretenimento, aliados à violência crescente nos últimos vinte anos, afugentaram os empresários da noite e ela foi se esvaindo ou migrando para áreas da periferia de mais baixo poder aquisitivo.
Surgiram os bailes funk, coqueluche da garotada dessas regiões.
Ao contrário, na zona sul, encontro ruas desertas, mesmos as principais com uns poucos carros e uns poucos corajosos que se arvoram a desafiá-las, já que a violência atingiu níveis insuportáveis.
Mesmo assim, assola-me um desejo abrupto de sair a esmo passeando de carro, o que há vinte anos era uma rotina.
Desestimulado por meus acompanhantes, todos cariocas, logo me apercebo que o mundo mudou e que a hora é de voltar para o meu casulo  onde, certamente, me sentirei mais protegido.
Afinal, para que servem as grandes e belas cidades  se nem mais conseguem acolher os seus visitantes e moradores?
Cidade como o Rio de Janeiro que, tal como Nova York, era tida como a cidade que nunca dormia, não mais dispõe  de ambientes para bebericar, ouvir um bom piano, dançar  ao som de bom cantor/a que tentava a fama  , enfim, espaços em que a noite parecia não ter fim.
Triste constatar que tudo isso acabou e o que vemos é uma cidade fria, distante de sua população antes tão alegre e divertida e, agora, sufocada pelo medo e pela apatia.

Gabriel Novis Neves
15-07-2015

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Estresse


A saúde de uma pessoa é o resultado do perfeito equilíbrio entre a sua parte física e a psíquica, componentes que, trabalhando em conjunto, compõem a estrutura humana.
Quando, por múltiplos fatores, isso é rompido, temos o aparecimento das doenças - que podem, de emocionais inicialmente, ser transformadas em sérias patologias orgânicas.
O estresse excessivo constante do mundo moderno é uma das grandes causas de inúmeras doenças, cada vez mais presentes em nossas vidas.
Direcionados por todas as propagandas alimentares e para práticas de exercícios físicos, aliás, todas visando obter, fundamentalmente, lucros comerciais, cada vez aumentamos mais os nossos níveis de estresse, seja através do crescimento absurdo da violência, seja através do aumento da competitividade, em que o ser humano se torna mais valorizado pelo que ele tem, e não, pelo que ele é como pessoa.
O ócio criativo, fundamental para o exercício da criatividade, foi abolido pelas leis do mercado. O homem máquina deve funcionar até o final de seus dias, quando então será, definitivamente, descartado, não só pela sociedade, mas também por seus familiares.
Por todos esses fatores, o que notamos no mundo é uma explosão assustadora da ansiedade e da depressão.
Com a evolução do sofrimento produzido por alterações no nosso psiquismo, descarregamos esse desconforto em um órgão, chamado de choque.
Os livros médicos relatam com perfeição, por exemplo, lesões de mucosa gástrica que até podem perfurar.  É a conhecida úlcera por estresse. Nos casos mais brandos, os consultórios dos gastroenterologistas estão lotados de pacientes com “gastrite nervosa”.
Esse desequilíbrio leva os pacientes a se tornarem hipocondríacos, consumindo excesso de medicamentos, agredindo mais a impactada mucosa gástrica, vítima do excesso de produção do ácido clorídrico e do suco gástrico.
Muitos diagnósticos de gastrite medicamentosa têm também essa origem, agravada por hábitos alimentares errados e a ingestão desmesurada de bebida alcoólica.
Nesse mecanismo posso incluir certas hipertensões arteriais, diabetes, bronquite asmática e doenças da pele, entre outras.
São também rotuladas de doenças decorrentes desse estresse prolongado para o qual o nosso organismo não foi programado.
Existe entre os populares um clichê dizendo: “para fugir da loucura o melhor é escolher uma doença orgânica”.
O mesmo se aplica em sentido contrário. Claro que essa afirmação não tem credibilidade científica e lembra uma velha teoria do Freud sobre a evolução da personalidade, hoje totalmente abandonada e criticada.
Era a teoria do Épsilon, que na adolescência aparecia em personalidades mal estruturadas. 
Na época do pai da psicanálise, o homossexualismo era considerado uma doença e quem fazia essa opção era sadio organicamente, mas com problemas psíquicos.
A verdade é que ainda não conhecemos os segredos do cérebro humano.
Até recentemente se acreditava que o cérebro era o único órgão importante do nosso corpo, sem vasos linfáticos e por isso, separado do sistema imunológico.
As imagens dos livros de anatomia geralmente mostram a formação de nódulos e vasos linfáticos como uma complexa tela em todo o corpo com relação ao cérebro.
Pesquisadores da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, descobriram um sistema de vasos que liga o sistema nervoso central aos nódulos linfáticos.
Atualmente sabemos que o cérebro está diretamente ligado ao sistema imunológico.
Isso vem provar que as agressões ao nosso emocional fragilizam todas as nossas defesas imunológicas.
Alguns chegam até a afirmar, baseados em estatísticas, que o câncer é mais frequente em pessoas que sofreram forte impacto emocional, e por períodos prolongados.
Fica claro que quem comanda nossa saúde física e mental é o ainda desconhecido cérebro.
Cuidemos, pois, das nossas emoções, para evitarmos as doenças orgânicas e a loucura.

Gabriel Novis Neves
14-07-2015

terça-feira, 28 de julho de 2015

BNDES


O mês de agosto é temido por todos os supersticiosos, especialmente os políticos.
Foi em um já distante agosto de 1954 que o presidente Getúlio Vargas, não suportando a traição do seu pessoal de copa e mesa, na solidão dos seus aposentos do Palácio do Catete, com um certeiro tiro no coração, entrava para a história.
Faltando alguns dias para o mês fatídico, é grande a crise entre o Congresso Nacional e o Executivo.
Tudo se agravou quando policiais federais, com mandados de busca e apreensão assinados por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), invadiram residências e escritórios de, entre outros políticos, três senadores e um deputado federal.
Afinal, ameaçar castas é inédito, e muito menos aceitável pelos que se consideram acima do bem e do mal.
Essa ação foi decorrente de informações colhidas a partir da Operação Lava Jato.
Conceituados e independentes analistas políticos diagnosticam que a investigação no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é muito mais grave que a da Lava Jato.
Ficaremos sabendo sobre o destino de bilhões de dólares que o Brasil talvez tenha desviado da merenda escolar, creches, medicamentos básicos, escolas para o ensino fundamental, postos de saúde, pronto atendimentos, obras de infraestrutura e inovações tecnológicas, para doar aos seus amigos bolivarianos e representantes de países de ditaduras africanas.
Claro que os generosos doadores aos povos oprimidos receberam polpudas propinas de consultorias e conferências por este assalto aos nossos cofres públicos!
Do chefe, ao capitão do grupo do poder de então, todos estão envolvidos neste megaescândalo, tanto tempo postergado para que não se tornasse de domínio público.
Com a briga do Presidente da Câmara dos Deputados, que se julga perseguido com as investigações que lhe são imputadas, este resolveu, em represália, implantar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e, de contrapartida, outra para investigar supostas irregularidades nos Fundos de Pensão.
É ou não para se temer o mês de agosto?
O chumbo é grosso e o telhado das nossas instituições de vidro.
Manifestações de rua estão programadas para dar o tom da nossa indignação.
É o agosto...

Gabriel Novis Neves

18-07-2015

segunda-feira, 27 de julho de 2015

PARA QUEM TEM PRESSA


Li recentemente um livro da escritora Emma Marriott - “A história do mundo para quem tem pressa”.
Em apenas duzentas páginas ela conseguiu resumir, brilhantemente, mais de cinco mil anos de história. Discorreu sobre os acontecimentos mais importantes da humanidade.
Desde as mais antigas civilizações (Suméria, Egito e Babilônia, por exemplo) até o final da Segunda Guerra Mundial, tudo é abordado com elegância e precisão.
Este livro permite que o leitor compreenda porque o mundo moderno mudou tão pouco em termos de comportamento humano, apesar do altíssimo desenvolvimento tecnológico.
Fiz a primeira leitura em diagonal e agora estou saboreando com calma as nossas origens.
A conclusão a que cheguei é que os ensinamentos que nos foram repassados não conferem com a verdade científica.
Não irei comentar o surgimento das religiões por motivos óbvios. Causaria muita polêmica, e quem se interessar pelo assunto consulte o livro citado.
Ficarei com breves linhas da história das conquistas do poder através dos séculos.
Nada mudou desde que o homem é homem. Guerras, crueldades, maus-tratos à mulher, velhos e crianças foi o alicerce da nossa civilização.
O homem nasceu para conquistar territórios e poder e, nesta ânsia de acúmulo de bens materiais, milhões de inocentes foram sacrificados.
Recentemente o mundo ficou perplexo ao assistir em tempo real pela televisão a derrubada das Torres Gêmeas em Nova York, a destruição do Iraque - berço da civilização asiática - e o fim do Afeganistão, com milhares de vítimas inocentes.
Tudo pelo poder propiciado pelo ouro negro e crenças religiosas.
A Palestina, séculos após a crucificação de Jesus, foi totalmente arrasada, dificultando pesquisas sobre a existência do Cristo Jesus, filho de Deus.
Voltando aos nossos dias. Todas as barbáries cometidas pelos povos antigos, como as loucuras de Nero incendiando Roma ou matando os cristãos, continuam acontecendo, mas, com novas maquiagens.
No México, na época pré-colombiana, convocavam-se voluntários para serem sacrificados em homenagem aos deuses.
Hoje, quantos são mortos por motivos religiosos?
Se o mundo evoluiu em conhecimento, qualidade de vida e tecnologia, continuamos a praticar as mesmas barbáries do início da nossa civilização de forma bem mais sofisticada.
Como se mata hoje em dia por nada!
O ser humano é realmente inviável!

Gabriel Novis Neves
15-07-2015

Desabafo de um cão livre


Não sei se fui abandonado ou se me perdi do meu dono um dia desses nas areias do Arpoador.
Estava bem cuidado e não apresentava sinais de maus tratos nem de traumas emocionais.
Encontrado quando perambulava desarvoradamente pela praia, fui levado por um simpático dono de quiosque, logo atraído pela minha beleza de mestiço grifado de Weimaraner com alguma tentadora afrodescendente local.
Minha estirpe alemã, considerada uma das mais inteligentes no mundo canino, mistura meus olhos verdes com um altíssimo QI. Isso explica porque fomos tão usados na Segunda Guerra Mundial.
O ajudante desse pequeno empresário, um morador de rua, o João, hippie dos anos 60 e muito benquisto naquelas paragens, logo se apaixonou por mim, tratando-me como seu melhor amigo.
Dormimos aconchegados na Kombi que abastece o quiosque e vivemos da simpatia dos frequentadores do Posto 9 que nos abastecem com alimentação farta e muito carinho.
Eu, por minha vez, logo virei a atração de todos aqueles que frequentam esse pedaço de paraíso carioca, sejam eles, jogadores de vôlei, crianças, pessoas das mais diversas faixas etárias e sociais, enfim, os amantes da natureza.
Há alguns dias, uma simpática senhora, também preocupada com o meu bem estar, levou-me a um posto de vacinação antirrábica e retornei quites com a minha carteirinha de saúde.
Até namorada e muitos amiguinhos já arranjaram para mim.
Rapidamente me afeiçoei a todos que me acariciam e, dessa forma, tornei-me o animal mais charmoso da praia!
E olha que aquele reduto é conhecido por ser frequentado pelos corpos mais esculturais de Ipanema.
Minhas amigas compraram para mim uma bela coleira e uma corrente, permitindo que eu possa fazer grandes passeios sem risco de atropelamento.
Uma delas, uma bela jogadora de vôlei de praia, a Milla, esbelta loura de 1.72 m de puro charme, é a maior de todas.
Já fui até conhecer sua mãe que, tal como a filha, ficou encantada comigo!
Enfim, com esta vida de liberdade e amor devo estar despertando inveja em muitos humanos.

Gabriel Novis Neves
30-06-2015

IMITAR


Um antigo ditado popular que ouvi muito na minha infância era responder com um “não sei, não vi, não ouvi, não levo ninguém para a cadeia”.
Quando algum segredo era revelado a uma pessoa de extrema confiança, logo os curiosos e bisbilhoteiros da vida alheia procuravam o detentor da confissão da verdade para saber detalhes sobre o acontecido.
A resposta era invariavelmente aquelas palavras que se consagraram em ditado popular.
Durante muito tempo isso parecia perdido no tempo. Para minha surpresa não é que ressurgiu  com toda força nos tempos atuais?
Começou no escândalo do “mensalão” e agora no descalabro do “lava-jato”.
Milhões de reais foram desviados dos cofres públicos em uma complexa operação envolvendo agentes públicos, políticos e empresários de firmas de grande porte.
Quando descoberta a falcatrua, ninguém viu, ouviu dizer e  nada sabe. 
Os acusados juram de pés juntos inocência. O certo é que o dinheiro sumiu das outrora respeitadas estatais e as mesmas entraram em estado de alerta máximo para não fecharem as suas portas.
Empresários poderosos presos aprenderam a lição de não esconder a verdade para a justiça, com as penas impostas aos operadores do mensalão.
Resolveram, então, pedir a delação premiada, que consiste em informar com precisão todos os meandros utilizados para a ação criminosa.
Se corretos, ajudando a justiça a desvendar as fraudes, terão suas condenações suavizadas.
Tudo que é confessado à Justiça Federal em segredo, de repente, como num passe de mágica, é divulgado pela grande imprensa. São relatos impressionantes sobre o profissionalismo na arte de roubar.
São executadas manobras contábeis, bancárias e jurídicas complicadíssimas para esconder o produto do assalto aos cofres públicos, transformando dinheiro podre em bom. É a famosa lavagem, tão em moda atualmente.
Como o crime nunca é perfeito, aliado ao uso de tecnologias de ponta pelos investigadores, foi possível desvendar  todo o mistério dos crimes contra o Tesouro Nacional que abalaram e continuam abalando este país.
Agora, a luta é jurídica para encerrar o rumoroso caso apelidado de “lava-jato”, corrupção jamais vista em nossa nação.
Mais uma vez é o presente imitando com perfeição o passado no seu ditado popular.

Gabriel Novis Neves
02-07-2015

Sabedoria


Certa ocasião, perguntei a um colega que não encontrava há muitos anos, se ele ainda atendia no consultório.
Respondeu-me que, apesar de pacientes não lhe faltarem, notou que depois de realizados a anamnese e o exame físico, no momento de prescrever a medicação, por alguns intermináveis segundos a memória se ausentava e não se lembrava do nome do medicamento.
Isso lhe causava imenso desconforto diante do paciente. A repetição desse episódio fez com que ele encerrasse as suas atividades médicas no consultório.
Atualmente, leva uma vida tranquila, normal, sem angústias, usufruindo de tudo que plantou por mais de meio século em sua atividade hipocratiana.
Surgiu então o escritor, que acaba de publicar, com sucesso, o seu segundo livro de assuntos não médicos.
A vida nos coloca frente a variadas situações. Quando enfrentadas com naturalidade e sabedoria, com certeza, nos levam a caminhos inimagináveis. 
Daquele lapso de memória comum aos idosos, nasceu um escritor premiado pela Academia Brasileira de Escritores Médicos!
Quando de um limão fazemos uma limonada, a vida torna-se mais suave e bela, levando-nos a rumos nunca antes sonhados.
As dificuldades existem para serem ultrapassadas, de uma maneira ou de outra, ao sabor da nossa intuição.
Temos tantas possibilidades de substituições, algumas vezes surpreendentes até para nós mesmos.
A história da humanidade está repleta de exemplos de superação que nos emocionam.
Zeca Pagodinho, o filósofo do samba, acertou em cheio quando emoldurou a letra de um de seus maiores sucessos com a frase: “deixa a vida me levar”.
Sem destino, muitas vezes encontramos uma grande felicidade.
A sabedoria em entender a vida, cheia de altos e baixos, como as ondas do mar, nos deixará em nosso definitivo lugar.
O segredo é entender que a vida não é, e nunca será, certinha, como desejam muitos perfeccionistas.
Como escreveu Guimarães Rosa, “o importante é a travessia”.
A vida só não pode ser banal, fútil, idiota, para quem tenta apequená-la, pois ela é grande demais para ser vivida no curto espaço de tempo em que por aqui permanecemos.

Gabriel Novis Neves
30-06-2015

quinta-feira, 23 de julho de 2015

CUIDADOS PALIATIVOS


Há dias assisti a uma palestra proferida pelo professor-doutor, médico, José Pedro Gonçalves, no Hospital do Câncer de Cuiabá sobre cuidados paliativos para os doentes em estado terminal.
De maneira sucinta e didática transmitiu informações sobre essa nova especialidade médica que surgiu nas últimas décadas com a intenção de alertar aos profissionais de saúde, principalmente médicos, sobre a limitação da ciência médica.
Algumas vezes podemos  oferecer curas, outras vezes alívio e, não raramente, nem isso.
O importante é que as pessoas cheguem ao final do seu ciclo vital com boa qualidade de existência e com o mínimo de sofrimento possível.
Apreendemos em criança que deveríamos sempre vencer as limitações encontradas pelo caminho.
Entretanto, com o passar do tempo, observei e aprendi a aceitar os limites que a idade nos impõe.
Não é fácil determinar o momento de parar de enfrentar os limites impostos pela vida e, ao mesmo tempo, tirarmos o melhor proveito dela.
Às vezes, o custo em desafiá-la extrapola os benefícios.
Ajudar alguém a lidar com a dificuldade de definir esse momento é um dos prêmios mais dolorosos e privilegiados na vida de uma pessoa.
Entender que a vida é curta demais, e que o lugar de cada um de nós no mundo é pequeno, parece uma tarefa simples, porém, na realidade, é uma das mais complexas encruzilhadas vivenciais - tão bem estudadas por Atul Gawande, médico americano filho de indiano.
O homem é o único ser que sabe que vai morrer, mas ignora essa dádiva. Dádiva que nos permite, entre muitas outras coisas, externar nossos últimos desejos e orientar nossa família.
Hoje já existe um entendimento mais racional sobre a nossa finitude, momento derradeiro de uma vida repleta de perseverança, aceitação dos limites e últimos desejos.
Pertencemos a uma cultura que não aprendeu a lidar com a morte e, portanto, fingimos que ela não existe.
Somente nos últimos anos começaram a aparecer os especialistas em cuidados paliativos, que são os verdadeiros zeladores da maneira mais suave de encarar os momentos finais de nossa bela viagem pelo planeta Terra.
Assim como a vida, o poder do médico também é finito, e isso tem de ser entendido de uma maneira tranquila.

Gabriel Novis Neves
30-06-2015

quarta-feira, 22 de julho de 2015

A pérola da América do Sul


Fiz uma recente viagem ao Chile. Voltei absolutamente encantado por aquele pequeno país da nossa América do Sul.
Os últimos (ou primeiros) vinte cinco minutos de um voo de quatro horas e meia são os momentos mais deslumbrantes da viagem. É quando sobrevoamos a imensa Cordilheira dos Andes. Um impacto inesquecível - fascinante e ao mesmo tempo uma aterradora visão.
Num raro dia de visibilidade total, a vasta cobertura de neve nas montanhas  de diferentes alturas e formatos, dá a  real dimensão do quanto somos pequenos no universo.
Impossível não lembrar imediatamente do acidente aéreo ali ocorrido há alguns anos em que uns poucos sobreviventes tiveram que praticar o canibalismo.
Aliás, difícil imaginar alguém sobreviver em condições tão desfavoráveis.
Desde o pouso, logo em seguida, Santiago se mostrou uma cidade moderna, muito bem cuidada e com um povo extremamente educado e receptivo.
Cercada pela Cordilheira, encontra-se num vale a quinhentos e quarenta metros de altitude e com uma população de seis milhões de habitantes. No total, o país conta com vinte e seis milhões de habitantes.
Logo nos fascinam os inúmeros prédios modernos ao longo da cidade, todos construídos segundo as normas tecnológicas vigentes à prova de abalos sísmicos.
Chama também a atenção a extrema limpeza das ruas e avenidas, todas muito arborizadas e com um calçamento impecável.
Sua polícia montada, superelegante, é considerada a terceira mais eficiente do mundo e é vista com frequência nos lugares mais movimentados.
Crianças de rua, nem pensar! E, mesmo nos bairros mais pobres, pessoas decentemente vestidas, agasalhadas para o frio local de sete graus centígrados nessa época do ano.
Incrível como um povo tão ameaçado pela inospitalidade da natureza comporta-se com tanta tranquilidade!
O Chile é considerado o segundo país com o maior número de terremotos e de vulcões do planeta, apenas suplantado pela Indonésia.
Para minha surpresa, uma gastronomia de alto nível, graças à excepcional qualidade de seus frutos do mar representados pela centolla (caranguejo gigante que também existe no Alasca) e seus moluscos típicos de águas geladas tais como, “los locos”, “las machas” e “los ostiones”, todos alucinantes para as papilas gustativas mais exigentes.
Como se não bastasse, aquelas iguarias vinham acompanhadas por vinhos considerados de excepcional qualidade, reconhecidos internacionalmente.
Num dos hotéis mais luxuosos da cidade encontra-se a maior adega da América do Sul e que decora a fachada do hall de entrada do hotel. Lá existe uma imensa boutique de vinhos onde podem ser adquiridos, inclusive, os de safra rara.
Como nem tudo é perfeito, também nesse pequeno reduto de organização,  há escândalos  no  ar sobre corrupção da governança atual, tudo sendo averiguado.
Enfim, tristeza na hora de voltar desse país modelo de organização, uma verdadeira pérola na América do Sul e, principalmente, voltar para a nossa triste e deprimente realidade socioeconômica, apesar de uma natureza tão acolhedora e rica.
Será que merecemos mesmo todo esse desprezo e toda essa apatia dos nossos governantes aos quais temos sido submetidos nesses mais de quinhentos anos de existência?
Como diz a música, “quem paga para que fiquemos assim”?
Já é hora do Brasil “mostrar a sua cara”.

Gabriel Novis Neves
15-06-2015

terça-feira, 21 de julho de 2015

SOZINHO


A solidão é a grande inimiga dos seres humanos por seus efeitos deletérios, e atinge severamente o idoso.
A falta de alguém com quem possa compartilhar suas ideias e sentimentos, assim como, lhe ajudar nas decisões do dia a dia, afeta profundamente a qualidade de vida das pessoas mais velhas.
Sabemos perfeitamente que somos seres finitos e esse encerramento inevitável nos libera de todos os deveres e dissabores da vida moderna.
Assim mesmo, o solitário não consegue, muitas vezes, metabolizar minúsculas preocupações comuns ao cotidiano.
A fixação nesse foco patológico é traduzida em dias mal resolvidos e noites com um sono de péssima qualidade.
Não acredito em fármacos para esses “distúrbios” que, no geral, tem pouca importância se vistos de fora.
Até porque, carecemos de uma sociedade que valorize aqueles que já deram a cota devida de seu trabalho e já deveriam merecer atenções especiais dos respectivos governos.
Ao contrário, o que se vê é o mais profundo desprezo, facilmente constatado nas grandes filas bancárias de princípio de mês.
O que vemos aí é um espetáculo deprimente, em que idosos em condições físicas precárias, se arrastam em busca de seus minguados salários.
As rápidas mudanças no modelo da nossa sociedade, onde valores duvidosos são priorizados em detrimento dos verdadeiros, talvez seja a causa maior.
A tranquilidade poderá ser reconquistada com políticas que devolvam aos velhos a dignidade merecida.
A ausência física daqueles que nos são caros, mas que estão limitados por distância geográfica, além da nossa menor capacidade de locomoção, são agentes propícios ao desencadeamento desta “síndrome” que afeta os solitários.
Terceirizar essa situação com terapêutica médica não me parece também uma solução inteligente.
Mais complicado é que, em certas situações, nem a profilaxia pode ser feita, já que a organização econômica financeira interfere nos nossos destinos e não pode ser abandonada.
Procuro sempre ajudar as pessoas solitárias, pois estudei muito seus comportamentos e finalizações.
Em um mundo egoísta, onde cada um está mais preocupado com o seu umbigo e a solidariedade não prolifera, esse desejo torna-se uma tarefa quase inalcançável.
Somos seres gregários por natureza, e a tentativa de quebrar as regras naturais é causa de grande infelicidade para pessoas que, já no ocaso da vida, ficam extremamente suscetíveis à falta de atenção e de carinho dos circunstantes.

Gabriel Novis Neves
11-07-2015

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Regras para o parto


De há muito o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), estimulam o aumento do número de partos normais.
Para tanto, cobram das autoridades governamentais maior atenção aos principais problemas que afetam a assistência obstétrica na saúde suplementar.
Há de existir equilíbrio nas relações entre operadoras e médicos, assim como garantia de ampla cobertura hospitalar às gestantes pelos planos de saúde.
O Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciaram novas regras para a realização do parto cesáreo através da contratação de planos de saúde.
Solicitaram às operadoras dos planos os percentuais de cesarianas e de partos normais realizados por estabelecimento de saúde e por médico credenciado.
O Presidente do CFM entende que essas decisões não consideraram aspectos cruciais como a autonomia das pacientes
Esquece-se que durante anos foi incutida toda uma cultura de não valorização e incentivo ao parto normal.
Impossível avaliar números sem considerar se o hospital, e também o médico, são referências nos procedimentos de alto risco.
“Isso pode causar discriminação e estigma contra alguns profissionais expondo-os a julgamentos sem conhecer os motivos de suas escolhas, estritamente médicas em casos de gestação de alto risco, por exemplo,” alerta o Presidente do CFM.
Outro ponto polêmico é a liberação do pagamento pela operadora de saúde mediante as anotações referentes à evolução do parto, em documento chamado de partograma.
A FEBRASGO considera mais importante registrar o acompanhamento do parto de acordo com o que é preconizado.
O engessamento da inserção dos dados em um documento de formato específico (partograma) pode atrapalhar a execução dos procedimentos segundo as boas práticas recomendadas pelos especialistas.
Para reduzir o número de cesarianas no Brasil o caminho passa, sobretudo, pelo aperfeiçoamento do serviço de pré-natal e garantia de leitos nos hospitais privados, com equipes completas em regime de plantão.
As exigências da ANS não são medidas que podem desencadear uma mudança de comportamento nos hospitais de maneira abrupta e com data marcada.
Impõe-se, inclusive, uma nova cultura, não somente para os médicos, mas, principalmente, para as parturientes já acostumadas às suas decisões pessoais no momento de parirem os seus rebentos.

Gabriel Novis Neves
21-06-2015

MULHER SAPIENS


Nossa Presidente vem dando verdadeiras aulas de conhecimentos gerais em seus últimos pronunciamentos. 
Como poucos, ela valorizou a tão esquecida cultura da mandioca, raiz símbolo da nossa identidade histórica, na visão dela.
Antes do passeio pelas terras do poderoso “anticomunista” Barack Obama, a presidente se referiu às “mulheres sapiens”, criando, a partir de então, uma nova espécie evolutiva.
A declaração foi dada no Palácio do Planalto (ela não pode colocar os pés na rua), antes dos Jogos Indígenas, cuja abertura oficial ocorreu no Mané Garrincha e o restante da competição disputada no Estado de Tocantins.
Como ela não é cientista, muito menos Deus, embora se considere como tal, a definição está mais para a coleção dos inúmeros equívocos praticados pela ex-gerentona do seu inventor, o antigo operário metalúrgico do ABC paulista, hoje conferencista dos mais bem pagos do planeta Terra.
Para não ser injusto, é possível que a ainda mandatária desta Nação - pois daqui a três anos e pouco teremos eleições - quisesse, nesse mar de lama em que vive o país, traduzido pela espetacular desaprovação ao seu governo, fazer graça durante seu discurso. 
Com a Internet e redes sociais bombando, logo esta revolucionária declaração ganhou o noticiário nacional e internacional, oferecendo ao mundo a compreensão do porque que nunca termos sido agraciados com um prêmio Nobel da Academia da Suécia, e aferição perfeita da Pátria Educadora.
Lutamos contra a corrupção endêmica, contaminando todo o sistema público e a sociedade brasileira. A ausência de credibilidade de um governo que não tem nem o apoio integral de seu principal mentor.
Seus antigos companheiros e companheiras estão, com muita antecedência, pulando fora do barco do poder que está totalmente desgovernado e afundando.
Todos os dias um novo escândalo explode nesse país da oitava economia do mundo, cuja qualidade de vida de seu povo não corresponde à nossa vitalidade de produção.
Nossos “modernos” políticos conseguiram criar um país para poucos, cheio de preconceitos entre pobres e ricos com um fosso de desigualdade social absurda.
E haja leis para “corrigir” tantas injustiças!
Somos assim mesmo, o único país no mundo de “homo sapiens” e “mulheres sapiens”.

Gabriel Novis Neves
09-07-2015

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Julho


Mês do equilíbrio entre o início e fim do ano!
Acredito que este fato, de um modo geral, influencia o caráter das pessoas nascidas neste período de trinta e um dias seguidos. 
Essa observação não é científica. Apenas uma percepção minha. Como canceriano, noto que a minha característica marcante é, e sempre foi, o comedimento nas decisões.
O equilíbrio na vida exige decisões racionais que, tomadas em determinado momento, parecem ser as melhores.
Na prática isso nem sempre acontece.  Como tudo na vida, para pessoas não imbecilizadas, acertamos e erramos.
Os nascidos no mês sete não são aventureiros em suas opções. O fracasso os faz sofrer com lentes de aumento.
Dificilmente serão empreendedores ou se arriscarão a ficarem ricos investindo nas bolsas de valores, ou aplicações financeiras de risco.
O chamado “tino comercial” não me parece patrimônio desses nativos, que sempre optam por construções consideradas sólidas, sacrificando muitas vezes seu lado afetivo e o lazer.
Preferem “um pássaro na mão que dois voando”, segundo a sabedoria popular.
Chegam a beirar a mediocridade existencial em troca de um enganador equilíbrio de uma noite bem dormida.
Com exceções, são péssimos negociantes, com visão mais telúrica e voltada às belezas imateriais.
Podemos chamá-los de sonhadores com afinadas ambições na aquisição de conhecimentos, encantamento com a natureza e o belo.
Na prática, são rotulados como desinteressados e pouco afeitos às coisas do mundo moderno.
Não escolhemos o mês do nosso nascimento, mas a influência que ele poderá exercer sobre as pessoas é facilmente observada em famílias numerosas, onde cada irmão festeja o seu aniversário em um período específico dos doze meses do ano.
Se o portador do equilíbrio deseja não sofrer solavancos dos altos e baixos que a vida nos propicia, a linearidade sonhada é meio caminho para a mediocridade.
Assim analiso empiricamente julho, que marca o final das festas juninas e apresenta, no seu primeiro domingo, a homenagem a São Benedito - santo predileto dos cuiabanos.

Gabriel Novis Neves
02-07-2015

ENVELHECER


Só os velhos sabem que o envelhecer é uma arte para poucos.
Em uma existência longa, com muitas etapas vencidas, usufruir o fim dessa luta como uma vitória a ser comemorada exige muito controle emocional.
Saber a hora de parar, e ocupar o que resta do tempo disponível, em boas condições de saúde e vitalidade, para usufruir o que esse final de vida pode apresentar de melhor, é uma tarefa mais complicada do que possa parecer.
Temos de fechar as cortinas antes que elas nos expulsem do palco da vida.
Muitos fazem opção errônea e procuram a reclusão que, certamente, levará à solidão, sempre péssima companheira.
A não obrigatoriedade de nada fazer é um perigoso instrumento à nossa disposição.
Quando em pleno processo de produtividade esperávamos por este momento, ignorávamos como seria difícil enfrentá-lo.
O direcionamento de toda uma vida voltada ao trabalho produtivo que “dignifica o homem”, segundo o que desde cedo nos foi ensinado, cria dificuldades para viver sem pensar na labuta. E sua ausência nos causa um profundo sentimento de culpa.
Sei que este “fenômeno” não se aplica a todos os seres humanos que, automaticamente e lentamente, vão fazendo as necessárias substituições vitais para uma velhice tranquila.
Estes vivem satisfeitos sem compromissos que lembrem obrigação, como trabalho e horário, descobrindo, inclusive, novos interesses, que só o devaneio pode proporcionar.
Fatores educacionais, religiosos e sociais, entre outros, interferem no comportamento não aceitável do momento de parar com as nossas atividades laborais.
A moral estabelecida penaliza o lazer. O resultado disso é, para alguns, uma sensação de culpa e, até mesmo, de apatia.
Criamos o reflexo condicionado do “trabalho produtivo”. O seu descondicionamento depende de ajuda médica, cujos resultados aparecem em longo prazo, e nem sempre satisfatórios.
Guimarães Rosa dizia: “se nascer é difícil, viver é muito mais”.
Saber viver, e bem, em todos os ciclos da vida, é um privilégio para poucos!

Gabriel Novis Neves
08-07-2015