quarta-feira, 15 de julho de 2015

INDIGNAÇÃO


Estamos num momento político social caracterizado por extrema indignação. Pela impossibilidade de ser extravasada, tende a se transformar em uma intensa crise depressiva generalizada.
Não sei se consigo me lembrar - e olha que nesses oitenta anos vi e vivi muitos momentos difíceis – de uma fase em que um número tão grande de pessoas no Brasil estivesse se sentindo tão injustiçada.
Em parte, por uma maior conscientização promovida pelos modernos meios de comunicação, mas, principalmente, pelos vários e seguidos equívocos políticos e econômicos de que temos sido vítimas nas últimas décadas.
Nunca tantas pessoas de classes sociais tão diversas se sentiram tão atingidas!
A desigualdade social atingiu níveis insuportáveis e a carneirada começa a dar sinais de cansaço.
Falávamos em cidade partida, em luta de classes, em injustiça social, mas tudo isso nos parecia distante, incapaz de promover qualquer tipo de confronto.
Falávamos que os morros um dia poderiam descer em fúria, e isso virou realidade quando presenciamos morte pelo simples roubo de uma bicicleta.
Por outro lado, vemos uma classe política totalmente desvinculada do bem estar público, absolutamente umbigada aos seus interesses pessoais, cada vez mais distante dos propósitos para os quais foi eleita.
Num momento grave de grande recessão econômica, de desemprego alarmante, de salários aviltantes, o judiciário tem o desplante de, ao apagar das luzes, aumentar em 78% os seus já polpudos soldos.
Como se não bastasse, uma ajudinha adicional para a educação de cada filho, uma merecida bolsa família.
Quando um governo nada mais faz a não ser fatiar o bolo entre seus apaniguados, mantendo e aumentando cargos comissionados, votando reformas que nada reformam, mas, ao contrário, quando atingem com mais força os menos favorecidos através de impostos escorchantes, é porque a vista cansada está se transformando em cegueira galopante.
A falta de sensibilidade do poder é tamanha que, na ânsia de permanecer num navio que ameaça ir a pique, não percebe que também se destruirá com toda a sua tripulação.
É uma nave à deriva, que já nem precisa de uma grande tempestade para ser afundada, bastam os ventos que sopram de todos os lados e que tornam esse mar cada vez mais revolto.
Não entendem que essa indignação vigente é o caldo de cultura que propiciaram as grandes revoluções da humanidade, todas muito sangrentas. Foi assim na França, na Rússia, no México.
Realmente, as manifestações de rua com patricinhas e mauricinhos não amedrontam o poder, apenas sinalizam que os andares de baixo serão atingidos rapidamente.
Até que ponto os seus jatinhos e helicópteros conseguem manter a nuvem de distância que os separa do povo e de seus sofrimentos?
Diante desse quadro caótico de inflação, queda desenfreada de empregos,  queda na indústria, nos serviços,  no consumo, não seria prudente abdicar de alguns anéis ante a possibilidade de perder todos os dedos?

Gabriel Novis Neves
25-06-2015

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