sábado, 30 de novembro de 2013

CLAMOR

Estamos vivendo um momento político importante para a revisão das condutas carcerárias, até então totalmente desprezadas pela sociedade civil.
A prisão de pessoas públicas de vulto no cenário nacional levou a um desdobramento da maior importância – a diferença de tratamento na prisão dos poderosos e a aplicação do sistema penal para os detentos comuns.
Livres para receberem visitas em diferentes horários contrastavam, grosseiramente, com as dificuldades encontradas pelos parentes dos pobres mortais para os mesmos fins.
Em termos reais, esse simples clamor pelo aprimoramento do setor judicial já teria sido relevante.
Algo terá que ser feito quando um dos componentes do Supremo Tribunal Federal (STF) preconiza como válida a fuga de um dos condenados para o exterior, admitindo as péssimas condições do nosso sistema carcerário.
Se não mártires políticos, como se julgam os condenados do chamado mensalão, com certeza, eles terão sido os réus da democracia.
Novos desdobramentos ocorrem com rebeliões em vários presídios do país.
A descrença da população nos partidos políticos, no Congresso Nacional, no Poder Judiciário, no Poder Legislativo e na Polícia é algo  assustador, tendo em vista que estamos a poucos meses de novas eleições.
Com um pouco mais de credibilidade continuam as Forças Armadas e a Igreja.
Pela ausência de alternativas as escolhas são feitas entre as políticas públicas mais eficientes, já que os diversos partidos estão todos incluídos pela população como pertencentes a um mesmo saco de corrupção.
Há de se atentar que o desdobramento dessas crises é sempre preocupante, uma vez que põe à prova o quanto as nossas instituições democráticas podem segurar tantas incongruências.

Gabriel Novis Neves
25-11-2013

Vida de pobre

Tenho uma faxineira que uma vez por semana presta seus serviços profissionais em minha casa.
Há mais de um mês disse-me que o seu pai precisava ser internado com urgência para operar a próstata.
Depois de tentar, e esperar por muito tempo uma consulta pelo SUS, a família, de trabalhadores humildes, fez uma cota para uma consulta particular em hospital comunitário.
Após ser examinado, o médico solicitou exames básicos de sangue e urina e uma ultrassonografia. Outra cota é realizada entre os filhos.
No retorno à consulta, e com o resultado dos exames solicitados, foi indicada internação imediata para o procedimento cirúrgico. Havia a hipótese diagnóstica de câncer da próstata.
A família quis saber o preço do tratamento, já que o pai era um velho trabalhador rural, sem bens e vivia de uma aposentadoria do INSS no valor de um salário mínimo.
A informação recebida era que o pacote do tratamento ficaria em oito mil reais, incluindo: equipe médica, medicamentos e diárias no hospital.
Preço esse bem abaixo do de mercado e semelhante ao dos planos de saúde que, por sua vez, não ficam muito distanciados da tabela do SUS.
Sem condições financeiras, e tendo a matrícula do SUS, a família procurou a Central de Regulação para agendar a consulta com os exames já feitos.
Diariamente, a aflita família procurava informações sobre a data da tão esperada e desejada consulta - que poderia ser o ponto de partida para a recuperação do idoso aposentado.
Esgotadas as desculpas burocráticas dadas por daquele órgão, foi dita a verdade à família do pobre agricultor.
A consulta só seria agendada quando estiver em funcionamento o primitivo hospital neurológico de vida prematura e em vias de transformação para um moderno Hospital de Clínicas.
Seu prédio é privado, e agora alugado à prefeitura de Cuiabá para ampliação do número de leitos de cem para duzentos e cinquenta, contando com os das Unidades de Tratamentos Intensivos (UTIs).
Será um hospital para atendimentos de pacientes de média e alta complexidade - referência no Estado. Sua administração será da recém-criada ECS (Empresa Cuiabana de Saúde).
O governo municipal tinha anunciado para dezembro o seu pleno funcionamento. Mas, pelo fiquei sabendo, se ficar pronto para os jogos da Copa, já está de bom tamanho.
Só Deus sabe quando este necessitado brasileiro será atendido. Essa é a nossa mais pura realidade social, que a poeira da modernização da cidade pretende esconder.
Tenho vários colegas amigos e ex-alunos trabalhando no SUS e sei que gostariam imensamente de atender um pedido do velho parteiro. Entretanto, o sistema não lhes oferece essa oportunidade, pois está totalmente sucateado e sem leitos, especialmente para média e alta complexidade.
Recentemente vivi esse drama com um dos fundadores da UFMT. Mesmo com a solidariedade dos amigos do SUS, esperei seis meses para a sua internação, por ser meu amigo-irmão.
Os próprios dirigentes do SUS procuram sempre hospitais privados quando necessitam de um simples atendimento médico. 
Assim é a vida do pobre, honesto e anônimo construtor das riquezas deste Estado na futura capital do agronegócio.

Gabriel Novis Neves
21-11-2013

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

FALANDO SÉRIO

O professor Vivaldo Lopes, economista da Secretaria de Fazenda do Estado de Mato Grosso, afirmou em recente entrevista que as dívidas do Estado com as obras da Copa aumentaram em um bilhão e oitocentos milhões de reais.
O importante é saber se esses investimentos, tão necessários à cidade de Cuiabá, trarão retornos econômicos e sociais à nossa gente, que está pagando as obras.
Antes da Copa estava fechado para o Estado e município qualquer tipo de empréstimo bancário, respeitando a Lei da Responsabilidade Fiscal.
Com a natural euforia da Copa, e com a possibilidade única de um embelezamento da cidade, a Assembleia Legislativa autorizou mediante leis especiais - e o governo federal aceitou - novos endividamentos.
Essa preocupação que socializo é de toda a nossa população. Ela se cala, pois no Brasil não é permitido discordar do governo. Quem assim procede é chamado de traidor da pátria.
Todos estão satisfeitos com os melhoramentos físicos que farão a modernização da velha capital, cujas obras um dia ficarão prontas, porém, temerosos de se repetir aqui a “tragédia grega” quando, por ocasião das Olimpíadas na Grécia, e, recentemente, com os luxuosos monumentos caríssimos construídos na África do Sul, sede da Copa do Mundo de 2010.
Muitas dessas maravilhas arquitetônicas estão abandonadas, sendo que algumas delas foram demolidas.
As dívidas que o Estado assumiu terão que ser pagas, impossibilitando assim qualquer tipo de investimento pelos próximos anos.
Sabemos que necessitamos de rodovias padrão FIFA para exportar as nossas riquezas do agronegócio e, sem elas, os nossos produtos se tornam pouco competitivos no mercado internacional.
É urgente investir pesadamente na área social, especialmente, educação, saúde e segurança.
Sem recursos financeiros essas conquistas, que melhorariam o nosso índice de desenvolvimento humano (IDH), dificilmente serão viabilizadas, e o Estado continuará à margem do desenvolvimento.
O alerta do professor Vivaldo nos deixou preocupados com relação ao nosso futuro.
A sorte está lançada. Vamos torcer para que esse imenso sacrifício do nosso povo se traduza no tão sonhado retorno social para a nossa capital e Estado.

Gabriel Novis Neves
08-11-2013

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Pão e circo

Circo já temos bastante. As últimas cenas circenses que assistimos foram as prisões dos condenados do mensalão. No entanto, o que nos falta mesmo é pão.
Punições e prisões de figuras exponenciais de todas as grandes nações ocorrem com relativa frequência, mas não exploradas como espetáculos de circo.
Tudo é feito dentro de normas rígidas de preservação da moral e dos bons costumes, sem humilhação ou achincalhe aos, eventualmente, discrepantes.
Dentro desse espírito teatral, fazemos também com que pessoas, ligadas ao poder, sejam ridiculamente blindadas no que tange às suas atividades pouco respeitosas com o erário público.
Câmara e Senado, democraticamente constituídos, lidam com a dificuldade de estabelecer o voto aberto quando na votação de perda de mandatos de seus signatários, numa pura manifestação de corporativismo.
O nosso Shakespeare de plantão, presente no inconsciente coletivo, transforma ocorrências mundiais disseminadas, como no caso das espionagens internacionais, em manchetes catastróficas, como se nós, mero país em desenvolvimento, fôssemos os únicos alvos.
Agora, na prisão dos chamados mensaleiros, o mesmo teatro, a mesma necessidade de show over.
A sociedade deveria estar, isto sim, muito mais preocupada com o ressarcimento das grandes verbas desviadas, segundo o julgamento, do que propriamente ao circo oferecido à população que, aliás, continua duvidando das medidas punitivas adotadas.
Se cada centavo subtraído da coisa pública, tivesse que ser multiplicado, e muito, para ser devolvido, com certeza, pessoas inescrupulosas, que ora permeiam a política, pensariam bem mais antes de se exporem à humilhação, porque isso não lhes afeta, mas sim, a perda de todos os seus bens pessoais e familiares.
No mundo capitalista apenas as dores do bolso são verdadeiramente sentidas como reais.
Muito ao contrário, altas personalidades do poder, ainda procuradas pela Interpol, continuam impunes, exibindo suas riquezas ilícitas nos mais elegantes salões do país.
Deixamos que as nossas fronteiras sejam vulneráveis, não só com relação ao tráfico crescente, mas também para a perpetuação dos “pizzolatas”.
Nossas crianças são abandonadas pelo poder público e nos transformamos numa nação mundialmente conhecida pela conivência com o turismo sexual infantil.
Nossas matas, destruídas ao calar da noite por interesses escusos, sangram sem que nada aconteça. Notícias fortuitas, aqui e acolá, nos dizem que esses índices vêm aumentando.
Profilaxia das inúmeras doenças provocadas pelos esgotos a céu aberto, presentes na periferia de quase todas as cidades, é substituída pelo clamor hipócrita do “Mais Médicos”.
Políticas de segurança equivocadas só fazem aumentar a população carcerária, já considerada uma das maiores do planeta.
Cidades importantes, como o Rio de Janeiro, já convivem com taxas assustadoras de criminalidade, tirando das ruas os seus habitantes, outrora conhecidos como os mais alegres da terra.
Esquecemo-nos que no dia-a-dia somos vandalizados por um Estado ineficiente, que apenas serve para extorquir impostos aviltantes, nada devolvendo em termos de serviços eficientes para a população.
Para quem, e para que, interessa tanto circo?
Por favor, já temos isso demais, o que queremos mesmo é pão, saúde e educação para todos.

Gabriel Novis Neves
17-11-2013

terça-feira, 26 de novembro de 2013

CONSCIÊNCIA NEGRA

O correto seria que no dia 20 de novembro comemorássemos o “Dia da Consciência da Raça Humana”, cuja cor da pele não interfere nos seus valores.
 “Consciência Negra” transmite um preconceito contra brancos, amarelos e indígenas, motivando que pessoas com essas cores de pele reivindiquem, também, uma data para reverenciar os seus heróis.
Acho todo preconceito odioso, e defendo o seu extermínio pela educação.
Dia desses, em um táxi, ouvi no noticiário nacional o resultado de recente pesquisa abrangendo, aproximadamente, duas mil e quinhentas pessoas.
O Instituto merecia a nossa credibilidade. O locutor anunciou que trinta por cento da população consultada sobre a união de pessoas do mesmo sexo tinham declarado que não apoiava e, o restante, que sim.
O sociólogo da emissora entrou no ar para explicar o resultado. Disse que trinta por cento dos entrevistados declararam abertamente o seu voto. Os outros se esconderam no politicamente correto, falsificando o resultado da pesquisa.
Existe sim, um enorme preconceito com relação aos homoafetivos. As estatísticas sobre mortes violentas, assassinatos, humilhações, dificuldades de emprego e outras desgraças, encontramos, sem muito esforço, diariamente nas páginas dos jornais.
Na prática essa é a realidade, contrariando a pesquisa. Há preconceito sexual neste país.
Com o negro acontece algo parecido. Algumas personalidades chegam a declarar que não existe racismo no Brasil.
Não é verdade. Somos ainda extremamente preconceituosos com relação à cor da pele dos nossos irmãos não brancos, embora o fator determinante da raça de um indivíduo seja, única e exclusivamente, o seu DNA.
Está na memória da nossa gente, por ser um fato recente, o fato em que dois garotos gêmeos foram submetidos ao referido teste.
O resultado surpreendeu a população: um era branco e outro negro, embora a cor de suas peles fosse idêntica.
Apesar dos avanços alcançados para eliminarmos de fato com esse fator desagregador, ainda não conseguimos extingui-lo.
Cito como exemplo a adoção de crianças, onde a grande maioria prefere uma criança de pele branca. Isso se reproduz nos salários, natureza dos cargos, violência, onde a população de pele negra é discriminada.
Até o feriado para lembrar a morte de Zumbi dos Palmares só foi adotado por um quinto dos cinco mil e quinhentos municípios brasileiros, assim como menos de um terço dos
Estados brasileiros decretou feriado em seus territórios.
Há racismo no Brasil em pleno século XXI, o que é inaceitável para uma nação civilizada.
Só através da educação poderemos transformar em realidade a luta de Luther King – “Eu tenho o sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor da sua pele”.

Gabriel Novis Neves 
20-11-2013

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Vida ao avesso

Tempos atrás fui entrevistado por um repórter que queria saber como eu, ainda bem jovem, havia assumido cargos públicos considerados de encerramento de carreira, e ter saído com boa avaliação por parte da sociedade, dos órgãos públicos nacionais e internacionais.
O curioso é que eu não dominava tecnicamente os cargos que ocupei. A encomenda saiu melhor que o pedido, como diz o bem humorado cuiabano para explicar esses casos.
Na ocasião alertei o jornalista que a minha vida estava sendo escrita toda ao contrário.
Subi todos os degraus dos meus estudos, do primário ao superior, com muito sacrifício e renúncias. Fiquei quase cinco anos, depois de concluído o meu curso superior, no Rio de Janeiro me preparando, única e exclusivamente, para ser médico do interior. Foram quase doze anos de ausência da minha cidade.
Aqui chegando recebi, como de praxe, dos meus colegas mais antigos, os chamados cargos sociais, apelidados de abacaxis, pela dificuldade em exercê-los sem se machucar com a desvalorização profissional preconceituosa, como eram vistos.
Coube-me a incumbência de dirigir o então Hospital Colônia de Alienados do Coxipó da Ponte, mais conhecido como a Chácara dos Loucos.
Dois anos depois fui convocado para ser o Secretário de Educação do Estado. Tinha três objetivos: substituir o então professor leigo do ensino primário por normalistas concursados; implantar modernos Centros Educacionais - cujo ensino tinha terminalidade; concretizar o sonho dos jovens do Estado continente, que era Mato Grosso não dividido, com duas universidades. A do norte, com sede em Cuiabá, e a do Sul, em Campo Grande.
Foi-me foi perguntado qual a metodologia empregada para executar com sucesso esses projetos. Respondi que utilizei o envolvimento emocional daqueles que trabalhavam comigo.
Essas tarefas, normalmente, são realizadas por técnicos especializados em final de carreira.
O que era considerado de ruim e péssimo para um profissional da área educacional ante tantas dificuldades a enfrentar, para mim foi o sol da minha vida.
Com tantas novidades passando pela cabeça de um jovem utópico, que apenas desejava e se preparou academicamente para o exercício da medicina generalista, foi quase um milagre, passado todas essas fases longas de trabalho macro, amadurecido, retornar ao consultório, onde permaneço até hoje.
A minha vida toda foi construída ao contrário. Só os privilegiados entendem essa dádiva, produto de muita doação de viver uma vida ao avesso.

Gabriel Novis Neves
25-10-2013

sábado, 23 de novembro de 2013

SOLIDARIEDADE

Este sentimento está tão atrofiado em nossa sociedade, que nem mais o identificamos. Muitos já se esqueceram de que as homenagens são para os mortos, e que os vivos necessitam de solidariedade.
Não é que, quando menos esperamos, somos surpreendidos pela presença dela? E que bem faz à saúde!
A solidariedade não tem pátria, e é possível encontrá-la em qualquer lugar, independente da raça, religião, ideologia política e outras invencionices desnecessárias à nossa harmonia e felicidade.
Como nos sentimos acarinhados pela presença dela! É como se tivéssemos recuperado parte do nosso corpo.
Difícil encontrar uma causa do seu desaparecimento, ainda mais quando não deixa saudades.
O egoísmo patológico. O consumismo desenfreado. A loucura da competição sem parâmetros éticos. A luta pelo “ter”, e não, pelo “ser”. A deturpação da educação das crianças pelo “criar”. Esses são alguns dos fatores férteis de desenvolverem em genética predisposta e o ambiente em que vivem os seres não solidários.
O ser humano perdeu importância. Os valores morais e éticos foram substituídos por equívocos fatais de uma sociedade em decomposição onde reina a violência, brutalidade, corrupção, campos impossíveis para a sobrevivência da solidariedade.
A chamada solidariedade humana, atualmente, não resiste ao teste do olho no olho.
Como dizem os sábios populares, falar é fácil, difícil é fazer.
As nossas instituições nunca são solidárias. Inocentes morrem por falta de medicamentos, enquanto centenas de caixas de remédios são jogadas no lixo por terem o seu prazo de validade vencido.
O grande escritor e jornalista Otto Lara Rezende cunhou uma frase que demonstra o que representa a solidariedade: “o mineiro só é solidário no câncer”.
Conceito profundo de um pensador no simbolismo do câncer, que, muitas vezes, é o final da nossa existência.
A solidariedade humana é o verdadeiro oxigênio que irriga os nossos tecidos.
Exterminá-la é viver descerebrado.
Incrível como nesse mundo globalizado, materializado, competitivo, futilizado, isso não incomoda e, muitas vezes, nem é observado.
Existem neste Planeta ilhas resistentes a essa doença mais grave do que todas as guerras, por mais cruéis que sejam.
“Nós estamos aqui na Terra para sermos bons para os outros. Já, porque os outros estão aqui, eu não sei” - (W.H.Auden).

Gabriel Novis Neves
06-06-2013

Difícil

Existem muitas coisas difíceis neste mundo que vivemos. Sempre que deparamo-nos com essas barreiras, já se tornou habitual na nossa cultura, jogar a culpa nos outros. Assim é que funciona o nosso dia-a-dia.
Nesse ambiente que criamos a moeda é a hipocrisia. Estamos tão acostumados a ela que nem notamos.
Já repararam que quando queremos nos desvincular de alguém utilizamos o famoso “amanhã a gente se fala?”
Tanto quem diz, como quem ouve, sabem que aquilo jamais acontecerá. É apenas mais uma mentirinha social.
E os famosos horários? Os casamentos atrasavam tanto, criando desconforto aos convidados e, principalmente, ao celebrante do ato religioso, que a solução encontrada pela igreja foi a de se estabelecer uma tabela de multas para essa falta de respeito e educação.
Não é que o brasileiro arrumou um jeitinho de colocar no convite do evento um horário e marcar com o celebrante outro mais tarde?  É complicado levar uma vida saudável em uma sociedade que acha normal esses deslizes éticos.
O ser humano quando veio ao mundo foi programado para ser feliz. Essa felicidade ele procura desde o seu nascimento. Poucos são os que a encontram.
E, quando a encontram, tudo fica sem graça, e a procura por cenários favoráveis continuam.
Aparece a tristeza, que não é aceita pela nossa sociedade, que rotula essas pessoas como vítimas da depressão, doença que necessita de medicamentos.
O tolerável é a excitação e a exaltação, que nada mais são que a expressão da falsa felicidade.
As coisas por estas bandas estão ficando tão difíceis, que temo um dia que a Terra desapareça.
Os asteroides estão cada dia passando mais próximos da Terra, o que é um dado preocupante.

Gabriel Novis Neves
08-11-2013

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

MÉDICOS E CIENTISTAS

Os médicos estão se confundindo com a medicina científica. Misturam teoria com terapia. A verdade é que não foram formados para serem cientistas.
Não têm instruções para fazer teses e testá-las diante de fatos reais e de pacientes humanos.
Os testes com animais deixaram um vírus reducionista na medicina, que apaga a complexidade do ser humano.
Em geral, as hipóteses sobre o AVC acabam  mostrando-se coerentes.
Por exemplo, o desequilíbrio, às vezes diagnosticado apressadamente como labirintite vascular, na verdade seria uma disputa entre o sistema nervoso central, usando o córtex motor e  o retorno do sistema nervoso autônomo, após a fisioterapia.
O mesmo acontece quando dos empurrões entre os dois sistemas nervosos, gerando insegurança ao caminhar sem confiar nos reflexos do lado mioplégico.
O cansaço muscular pós-reabilitação do andar é tão grande que nos anos 50 era diagnosticado como "Síndrome pós – poliomielite”, quando o paciente não dispõe da metade da energia que tinha antes da doença, o que altera sua personalidade em geral.
Neste momento, o portador de AVC começa a não acreditar em projetos e iniciativas pessoais e, até de espaços, como casas de campo e de praia comprados, às vezes, com grande esforço financeiro, para a sua total reabilitação e reinserção no mundo social e produtivo.
São preocupantes as desistências diante deste quadro de desconforto para o paciente.
Importante apoiar o impulso de fazer que ele se manifeste no campo intelectual, através da elaboração de textos, mesmo que sejam simples, como um artigo ou pequena crônica.
Uma pesquisa pelo Google seria um excelente exercício terapêutico.
No dia a dia, nem sempre as coisas funcionam como apregoam os laboratórios científicos e suas pesquisas.
Tudo isso por que não existem doenças, e sim, doentes individualizados na sua maneira de reagir às diferentes terapias.
Somente uma visão holística conseguirá torná-lo um bom médico, mesmo que ele seja um grande cientista.

Gabriel Novis Neves
08-11-2013

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Simbolismo

Impossível não relacionar a data da decretação da prisão dos chamados “réus do mensalão”, com a nossa data da Proclamação da República.
Estaríamos nós, simbolicamente, marcando, de uma maneira histórica, o início de uma Nova República?
Ordens de prisão foram expedidas pelo STF somente no dia seguinte ao término do processo, por acaso, 15/11/2013, fato já passível de ter algum simbolismo.
Segundo dados divulgados recentemente pela mídia, o presidente do STF estaria se preparando para o início de uma carreira política. Fatos marcantes como esse estariam carreando para ele um grande potencial eleitoral.
O termo “república”, oriundo do latim, significa “coisa pública” e, portanto, a tudo a que a ela se refere.
Todos os signatários de mandatos políticos por nós democraticamente eleitos, teriam como atividade precípua a lisura com o trato da coisa pública.
Infelizmente, não é o que tem se observado em nosso país através dos anos.
O cuidado com o dinheiro arrecadado pelos altos impostos infringidos aos componentes de toda uma nação tem sido relegado a um segundo plano. Somente interesses partidários e pessoais têm mostrado a face cruel do sistema em que vivemos, e que, apesar de dito democrático, privilegia sempre as classes dominantes em detrimento do grande número de injustiçados sociais.
O sistema carcerário tem, predominantemente, um papel ressocializador, o que, infelizmente, não ocorre em nosso país. Muito pelo contrário, representa um verdadeiro caldo de cultura para o desenvolvimento do que há de mais abominável no ser humano.
No caso dos encarcerados, ora em juízo, não é exatamente o que se esperava, já que alguns deles fazem parte de um passado político atuante positivo, em momentos muito sombrios de nossa história.
Imagino que penas para esses casos teriam de ser pesadas, pecuniariamente falando, o que realmente não foi priorizado, sem falar na ausência de quebras de mandatos, com as quais convivemos cinicamente.
Colocamo-nos diante do mundo em posição surreal quando mantemos um deputado federal presidiário de posse de todos os seus direitos parlamentares.
Estamos incorrendo no mesmo erro de um passado próximo, em que um ex-presidente, alijado de seus poderes pela vontade popular, volta depois de uns poucos anos de perda de seus direitos ao cenário político, coberto de glórias e de poder.
Não deveríamos estar financiando a estada em cadeias de pessoas que, a rigor, deveriam estar nos ressarcindo de suas discrepâncias com a coisa pública.
Falta-nos, com certeza, visão filosófica do sentido da justiça.
Precisamos muito mais de seres pensantes, isentos de ódios e de delírios persecutórios, e menos de histéricos revanchistas, que apenas tentam exorcizar nos seus semelhantes as suas profundas incapacidades de repensar o mundo.
Não se trata de defender o indefensável, mas sim, de rever os nossos conceitos arcaicos, inclusive o da justiça.
Por que será que países, como a Suécia, conseguem fechar quatro casas carcerárias numa demonstração de que isso é possível?
Claro, se isso fosse fácil, não teríamos um mundo tão injusto e tão violento.

Gabriel Novis Neves
16-11-2013

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

CANSAÇO

Essa é a tônica no momento - que bem define o estado de espírito de toda a sociedade civil.
Desde a ilusão fantasiosa de uma melhoria dos valores éticos proclamados por alguns otimistas, até o desfecho das manifestações populares iniciadas em junho próximo passado, verificamos que todos se mostram cansados e descrentes com relação a uma necessidade de mudanças profundas pelas classes dominantes.
Os apelos das ruas, apesar de cada vez mais veementes, têm sofrido odesgaste da impotência e se mostram cada dia mais desgastado. A classe média,que deles participava, debandou, acuada pela violência que a eles se agregou.
Nada ocorre de substancial com o propósito de melhorias gerais nas demandas das populações, e isto, inclusive, em todos os lugares do mundo.
O que nos passa é uma grande dissociação entre a atitude dos governantese a devida atenção para os anseios que afligem aqueles que os elegeram.
Temor e pudor já não mais contam e os desmandos e a corrupção feitos à luz do dia, sem maiores preocupações com o que possam provocar nos seus míseros governados.
A grande maioria dos políticos está apenas preocupada com seus próprios umbigos e com as suas respectivas reeleições e, dessa maneira, com a manutenção dessas práticas que privilegiam apenas uns poucos apadrinhados, enquanto uma população é totalmente esmagada pelo descaso e pela injustiça social.
Fazem-me rir e, ao mesmo tempo, chorar, preocupações com o “mais médicos”, quando nada foi feito durante anos e anos com relação aos esgotos a céu aberto , tão comuns na periferia das grandes cidades.
As reformas básicas importantes são sempre postergadas e simplesmente caem no esquecimento, de governo para governo.
Cidades deslumbrantes como o Rio de Janeiro e as que envolvem o Pantanal, como Cuiabá, que poderiam ter uma renda expressiva em função do turismo, são abandonadas à sua própria sorte, tendo índices de criminalidade assustadores que inviabilizam as suas potencialidades.
Se Medellín, outrora a cidade mais violenta do mundo, venceu todas assuas dificuldades e se tornou modelo de organização, o que estará acontecendo conosco que a cada dia  aumentamos  a nossa insegurança?
Nossas praias, de beleza reconhecida mundialmente, são também consideradas as mais poluídas do planeta, sem que sequer algum tipo de solução seja proposta.
Cidades hiperpopulosas, com a diminuição do IPI dos automóveis e a não duplicação de suas vias, apresentam tráfego caótico, à beira da estagnação.Nunca foi pensado o aumento de vias, pelo contrário, até foram destruídas algumas poucas que existiam como no caso do Rio de Janeiro, numa sequência de atos  que inviabilizam  o bem estar de seus habitantes.
Falcatruas políticas graves são questionadas no dia-a-dia pelas diversas mídias e, tal como seres anestesiados, cada vez nos vemos mais impotentes no tocante a qualquer tipo de punição efetiva.
Direitos promulgados pela nossa última Constituição, como direito à saúde e à educação para todos, são desrespeitados sem maiores questionamentos políticos.
Estamos, lamentavelmente, nos acostumando ao caos que nos rodeia.
A sensação geral é a de um imenso cansaço cujo único antídoto é a tenacidade da nossa juventude que ora se vislumbra.
O que nos anima é que o mundo já passou por momentos bem piores e caminha, mesmo a passos de tartaruga, para uma melhor e mais eficiente organização social, aqui e no resto do planeta.
Dizem os estudiosos que estamos num país que ainda não está pronto.
Quando, afinal, estaremos?

Gabriel Novis Neves
13-11-2013

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Violência policial

Lamentavelmente mais  uma manchete negativa para o nosso país: a de ter a polícia  mais violenta do mundo.
Determinados guetos, em várias partes do país, para serem visitados necessitam  de verdadeiras técnicas de guerrilha.
Afinal, através de um aparente estado de direito estaríamos, na verdade, dissimulando uma verdadeira guerra civil?
O número de pessoas mortas é assustador, segundo balanço  de violações dos direitos humanos divulgado pela Anistia Internacional, com investigação em 159 países.
O Brasil foi colocado entre as 112 nações que no ano passado mais torturaram os seus cidadãos. Também está no grupo de cinquenta países onde as forças de segurança cometeram homicídios em tempos de paz.
Historicamente a brutalidade e a força têm marcado as sociedades na tentativa da polícia garantir um controle eficiente da população.
Nos séculos XVII e XVIII, o Estado Francês foi o responsável por manter uma polícia forte e autoritária.
Com o passar dos anos, os países subdesenvolvidos e os em desenvolvimento, por terem menos noção dos direitos civis, passaram a usar esses modelos, já que o poder judiciário nem sempre investiga esses casos de violência policial.
Urge que se faça uma reforma do sistema de segurança.
Não podemos mais conviver com dados comparativos com países desenvolvidos como, por exemplo, os  Estados Unidos que, apesar de terem uma população em torno de trezentos milhões de habitantes, apresentam um índice  de mortos por violência  quatro vezes menor que o nosso. Isso sem falar que temos uma população de duzentos milhões.
Infelizmente, as populações mais carentes são as maiores vítimas de todas essas distorções sociais.
É preciso atentar que todas as técnicas até então usadas têm se mostrado obsoletas, fazendo apenas com que cresçam as estáticas assustadoras.
Apesar do nosso aparente estado de paz, na verdade, estamos diante de uma verdadeira guerrilha urbana, tornando a população cada dia mais acuada.
Que país queremos deixar para os nossos filhos e netos?
Até quando veremos toda uma sociedade aparentemente anestesiada diante de fatos tão graves?

Gabriel Novis Neves
07-11-2013

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

TEORIA X PRÁTICA

Costumamos falar, de uma maneira genérica, que na prática a teoria é outra.
Nada mais certo e mais fácil de ser entendido, uma vez  que somos seres que respondem a reflexos e a condicionamentos desde que nascemos.
Tudo que é adquirido nos primeiros anos de vida nos aprisiona de tal maneira que nos impede de romper essas amarras ditadas pelo meio familiar e ambiental, impedindo que coloquemos em prática os comportamentos que julgamos corretos, adquiridos, posteriormente, por reflexão.
Costuma-se dizer que ninguém muda ninguém.
Apesar de não totalmente verdadeiro, pois acredito na capacidade de transformação do ser humano, nos deparamos frequentemente reagindo de maneira arcaica, apesar da tentativa de sermos coerentes com o nosso discurso.
Isso é muito visível quando, por exemplo, vemos figuras artísticas famosas que se impõem por frases libertárias como, “é proibido proibir”, se desmantelarem nas nossas fantasias quando suas práticas de vida são antagônicas às suas citações.
É que, infelizmente, somos vítimas  dos nossos antigos aprendizados e, dificilmente, pela vida afora nos livramos dessas amarras.
Nas pessoas que se autoavaliam constantemente isso é visto com tristeza, como se um retrocesso  no ser em que pretendemos nos transformar.
O descondicionamento de valores falsos, tal como os reflexos patológicos, é sempre  muito difícil e requer uma atenção permanente, nem sempre bem sucedida sem o auxílio de um terapeuta.
O fato é que o discurso teórico e a prática de vida não costumam andar de mãos dadas.
Algumas pessoas mais reflexivas procuram  ajuda psicoterápica no intuito do autoconhecimento e, portanto, tentando conciliar teoria de vida com prática operante.
 “Teoria é quando se sabe tudo e nada funciona. Prática é quando tudo funciona e ninguém sabe por que”. Cartaz de uma repartição pública em Brasília.
Van de Snepscheut afirmava que “na teoria, não há nenhuma diferença entre teoria e prática. Mas, na prática, há”.

Gabriel Novis Neves
10-11-2013

domingo, 17 de novembro de 2013

Amenidades

Nos últimos anos a violência vem fazendo parte do nosso dia-a-dia.
Os noticiários nos informam diariamente sobre as crueldades praticadas com crianças, idosos e mulheres, malversação com o dinheiro público, quase total abandono da nossa educação e saúde, pessoas assassinadas por bala perdida, guerra entre gangues e a polícia, assaltos, roubos, enfim, um estado de completa selvageria.
Resolvi, pelo menos por um dia, relaxar, e deixar de ler, ver ou ouvir sobre esses crimes desenfreados que estão se tornando em uma triste rotina no Brasil.
Para tanto, nada melhor que uma leitura despretensiosa. Melhor ainda, ler aforismos. Relaciono abaixo alguns que gosto de ler e reler.
- “É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas, que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só e realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas repetitivas que consideramos absolutamente repulsivas”. Walter Willians
- “80% dos homens casados traem suas mulheres nos Estados Unidos. O resto trai na Europa”. Jackie Masson
- “Se grito resolvesse, porco não morria”. Parachoque de caminhão
- “É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e acabar com a dúvida”.Abraham Lincoln
- “Deus cura e o médico manda a conta”. Benjamin Franklin
- “Quando uma garota se casa, troca as atenções de muitos homens pela desatenção de um”. Helen Rowland
- “O silêncio é a gentileza do perdão que se cala e espera o tempo”. Meimei
- “Deus deve amar os homens medíocres. Fez vários deles”.Abraham Lincoln
- “É falta de educação calar um idiota e crueldade deixá-lo”.Benjamin Franklin
- “Só em fila de aeroporto eu assumo que eu passei dos setenta anos”. Tônia Carreiro
- “Mulheres são como traduções. As bonitas não são fieis. E as fieis não são bonitas”. George Bernard Shaw
- “Dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro”. Nelson Rodrigues
- “Todos experimentamos extravios, incertezas, dúvidas. Quem não experimentou? Todos, eu também! Faz parte da fé”. Papa Francisco
- “Não há indivíduo que não encontre algum livro capaz de conversar com as suas intimidades mais profundas”. Luis Augusto Fischer
- “A única solução para o trânsito é o trabalho à distância. Com a internet é possível trabalhar em casa”. Domenico Di Massi
- “Somos uma República de palácios onde se ignora o sentimento ‘da coisa publica’ e da igualdade perante a lei”.Marcos Rolim
- “O Brasil precisa isolar o ódio. E rápido, antes que ele encontre sua alternativa política”. Marcos Rolim
- “Um dos motivos mais poderosos que conduzem o homem em direção à arte e ciência foi o de escapar do cotidiano”.Einstein
- “A leitura deve ser para o espírito, como o alimento para o corpo, moderada, saudável e digerível”. François Fénelon

Gabriel Novis Neves
08-11-2013