Tempos
atrás fui entrevistado por um repórter que queria saber como eu, ainda bem
jovem, havia assumido cargos públicos considerados de encerramento de carreira,
e ter saído com boa avaliação por parte da sociedade, dos órgãos públicos
nacionais e internacionais.
O
curioso é que eu não dominava tecnicamente os cargos que ocupei. A encomenda
saiu melhor que o pedido, como diz o bem humorado cuiabano para explicar esses
casos.
Na
ocasião alertei o jornalista que a minha vida estava sendo escrita toda ao contrário.
Subi
todos os degraus dos meus estudos, do primário ao superior, com muito
sacrifício e renúncias. Fiquei quase cinco anos, depois de concluído o meu
curso superior, no Rio de Janeiro me preparando, única e exclusivamente, para
ser médico do interior. Foram quase doze anos de ausência da minha cidade.
Aqui
chegando recebi, como de praxe, dos meus colegas mais antigos, os chamados
cargos sociais, apelidados de abacaxis, pela dificuldade em exercê-los sem se
machucar com a desvalorização profissional preconceituosa, como eram vistos.
Coube-me
a incumbência de dirigir o então Hospital Colônia de Alienados do Coxipó da
Ponte, mais conhecido como a Chácara dos Loucos.
Dois
anos depois fui convocado para ser o Secretário de Educação do Estado. Tinha
três objetivos: substituir o então professor leigo do ensino primário por
normalistas concursados; implantar modernos Centros Educacionais - cujo ensino
tinha terminalidade; concretizar o sonho dos jovens do Estado continente, que
era Mato Grosso não dividido, com duas universidades. A do norte, com sede em
Cuiabá, e a do Sul, em Campo Grande.
Foi-me
foi perguntado qual a metodologia empregada para executar com sucesso esses
projetos. Respondi que utilizei o envolvimento emocional daqueles que trabalhavam
comigo.
Essas
tarefas, normalmente, são realizadas por técnicos especializados em final de
carreira.
O
que era considerado de ruim e péssimo para um profissional da área educacional
ante tantas dificuldades a enfrentar, para mim foi o sol da minha vida.
Com
tantas novidades passando pela cabeça de um jovem utópico, que apenas desejava
e se preparou academicamente para o exercício da medicina generalista, foi
quase um milagre, passado todas essas fases longas de trabalho macro,
amadurecido, retornar ao consultório, onde permaneço até hoje.
A
minha vida toda foi construída ao contrário. Só os privilegiados entendem essa
dádiva, produto de muita doação de viver uma vida ao avesso.
Gabriel Novis Neves
25-10-2013
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