sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O avião invisível


Durante a última campanha presidencial a candidata da continuidade falou muito sobre o avião invisível para a solução do tráfico de drogas.
Disse que o Brasil já tinha adquirido essa maravilha tecnológica dos israelenses e que logo entraria em ação.
Isso foi exaustivamente repetido nos programas gratuitos do Tribunal Regional Eleitoral e em todos os inúmeros debates pela televisão.
O nosso Estado, que possui uma fronteira enorme com um dos países produtores e exportadores de drogas, a notícia era alvissareira, se não fosse mentira para enganar o eleitor.
Assim mesmo a candidata dos aviões invisíveis perdeu por aqui, no primeiro e segundo turnos.
Passados dois anos dessa promessa, uma revista de circulação nacional informa que, no momento, o Brasil só tem um desses aviões, recolhido em um hangar no Paraná.
Os seus equipamentos foram encaixotados após a festa da sua chegada, e estão assim até hoje.
O outro comprado pelo governo brasileiro, ainda encontra-se em Israel.
O programa encomendado é da aquisição de catorze vans, por R$ 655 milhões, segundo o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. 
O governo já gastou R$ 73 milhões nesse projeto, cujo único avião é visível em um hangar.
Essa máquina voadora é tão perfeita, que é capaz de filmar e fotografar a placa de um carro ou o rosto de um traficante, a nove quilômetros de altura.
Enquanto o governo brasileiro não decide com quem ficará o avião cego no organograma do poder, toneladas de cocaína atravessam as nossas fronteiras para abastecer o mercado interno e externo, e o bolso dos barões do tráfico.
A violência tomou conta de Cuiabá, uma das rotas preferidas pelo tráfico. Crianças de quinze anos são assassinadas, outras são queimadas vivas no ponto de venda da droga.
Na tenebrosa história da guerra do tráfico existe uma pedra no caminho, tão poderosa que amarra um avião num hangar.

Gabriel Novis Neves
20-08-2012

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

COERÊNCIA


O que mata a crença do brasileiro em dias melhores prometidos pelos políticos, é a velha história do “um peso, duas medidas.”
O brasileiro se transformou em um cético em relação aos programas e compromissos sociais anunciados pelos nossos governantes.
A presidente, durante nove anos, foi do primeiro time do governo anterior. Chegou a ser chamada, pelo técnico da época, da mãe que sabia de tudo e controlava, com uma equipe fantástica, os principais projetos do governo federal.
Dias atrás, como técnica do time do governo, foi visitar uma das prioridades do governo passado: a transposição das águas do Rio São Francisco.
Muitas informações foram escondidas da Mãe do PAC - de saudosa memória para nós cuiabanos – mas, o que ela viu foi o suficiente para a sua profunda irritação, sem motivos para mim.
Afinal, não era ela a responsável pela fiscalização dessas obras? Não posso admitir que estejam querendo desconstruir a imagem da eficiente gerentona deste país.
Cobrou empenho, providências, atitudes e resultados de todo mundo. Mas, e ela? O que fez durante esses últimos anos que não viu que a obra estava na UTI?
Se a presidente visitar todas as obras que constam no seu currículo como realizadas, ficará desanimada. Não aconselho, por exemplo, visitar em Cuiabá as obras sob o seu comando - o PAC I e PAC II.
No ano passado, os bombeiros do Rio de Janeiro invadiram o prédio do Comando Central da corporação, e lá permaneceram amotinados até o final da greve geral por melhores salários.
Um jovem senador carioca, do partido da presidente, apresentou no Congresso Nacional um projeto de lei concedendo anistia, ampla, geral e irrestrita a todos os revoltosos. A presidente sancionou a lei no dia 11/10/2011.
Os soldados da polícia militar da Bahia, depois de esgotados todos os meios legais de negociação, entraram em greve geral, e foram se proteger da repressão na Casa das Leis do Estado.
Atendendo pedido do governador da Bahia, que há tempos apoiara uma greve idêntica, desembarca em Salvador, soldados da Força Nacional, Comando Militar da Região e Serviço de Inteligência para acabar com a greve por melhores salários.
Nesse período, o governador visitava a democrática República Socialista de Cuba, fazendo parte da comitiva presidencial.
Existe no Congresso Nacional, emperrada, uma proposta de Emenda Constitucional, cujo autor é um deputado paulista, propondo a unificação da remuneração das polícias militares de todo o Brasil.
A carreira inicial de um soldado da polícia militar em Brasília é algo superior a quatro mil reais.
O Estado que pior remunera os seus policiais é o Rio Grande do Sul, governado por um ex-ministro da Justiça do Partido dos Trabalhadores, e que conhece muito bem essa situação.
Interessante nessa história, é que o governo federal é quem paga os salários dos policiais de Brasília, portanto, acha justo esse valor - que as outras polícias reinvidicam isonomia.
A presidente é contra a anistia proposta para acabar com a greve dos soldados da Bahia.
No mesmo dia em que a presidente se manifestava contra a anistia, ela empossava uma ministra que, assim como ela - e grande número dos ministros do Brasil - foram beneficiados, em cascata, com a anistia dada pelos militares.
Enquanto prevalecer a justiça do “um peso e duas medidas”, fica tudo como está neste país onde, em se plantando, tudo dá.

Gabriel Novis Neves       
11-08-2012

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Não tem mistério


Para o presidente de uma nação tirar seu país do buraco, basta coragem para acabar com privilégios e, principalmente, dar o exemplo.
O novo presidente da França, em apenas cinquenta e seis dias de governo, colocou em prática medidas simples, mas o suficiente para colocar sua nação nas rédeas.
Algumas ações adotadas por ele chegaram a impressionar as elites, e não as donas de casa, controladoras do apertado orçamento para passar o mês.
Proibiu, por exemplo, os seus ministros e os altos funcionários do governo de utilizarem carros oficiais.
Justificou essa sua atitude dizendo que, se um ministro ou alto burocrata não tem condições de manter um automóvel para ir ao trabalho, não possui competência para exercer cargo público importante.
Com essa medida sobrou dinheiro para construção de inúmeras escolas.
Cortou a farra das viagens desnecessárias. Apareceu dinheiro para a construção de novos postos de saúde.
Percentualmente, diminuiu salário do funcionalismo público, deputados e altos funcionários do governo. Esse dinheiro foi para a Previdência Social. 
Aumentou os impostos dos ricos e milionários e acabou com subsídios políticos.
Com esse dinheiro criou o "bônus-cultura", isentando de impostos aqueles que abrissem uma livraria.
Terminou com a taxa de zelo paga à mídia - publicações do governo em revistas, jornais, rádio e televisão.
Festas e mordomias no palácio, nem pensar. Esse dinheiro foi destinado aos pobres.
Implantou no governo a meritocracia, terminando com o loteamento do poder onde cargos técnicos eram ocupados por desqualificados apadrinhados.
Com esses recursos melhorou o salário dos trabalhadores e a aposentadoria dos idosos.
Outras medidas de economia doméstica foram implantadas e, após cinquenta e seis dias de governo, a França tinha uma nova cara.
Enquanto isso aqui no Brasil, após quase vinte meses de governo, vivemos a greve dos funcionários públicos federais, nunca, jamais visto neste país, produzindo um prejuízo incalculável à nossa economia e paz social.
Todas as universidades públicas estão fechadas há mais de cem dias, e o governo encerrou as negociações para resolver esta situação de verdadeira calamidade com a nossa educação.
Os portos brasileiros mantêm à distância os navios responsáveis pela exportação das nossas riquezas, produzindo prejuízos impensáveis. 
A desordem social é sentida neste instante em que o governo atual demonstra total inabilidade para administrar essa crise, que só não é maior devido ao controle do governo sobre os meios de comunicação.
O noticiário sobre os Jogos Olímpicos ocupou mais tempo na mídia que o escandaloso desvio de verbas públicas, no chamado mensalão em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Esse assalto aos cofres públicos é a verdadeira mula sem cabeça.
O douto e respeitado Procurador-Geral da Justiça decapitou do processo o responsável pela quadrilha.
Julga-se no momento apenas os membros do maior roubo de dinheiro público da história do Brasil (parecer do senhor Procurador-Geral da República).
Pelo andar da carruagem, não há culpados pelos milhões que saíram do Banco Rural para a conta de parlamentares.
Esse dinheiro roubado, que daria para implantar dezenas de UPAS (Unidades de Pronto Atendimento em Saúde), segundo tese do ex-ministro da Justiça, não era para comprar deputados para votar matérias de interesse do governo. Apenas, caixa dois para despesas de campanhas eleitorais.
Todos os indiciados serão absolvidos.
Em nosso Estado a justiça liberou a implantação do VLT, apesar das denúncias de propina a funcionários do governo, para programarem na licitação o consórcio vencedor para fazer este faraônico projeto.
Muitos acreditam que essa dinheirama investida no VLT, tornaria inviável o nosso endividado e rico Estado. 
Chegou o momento de deixarmos as vaidades de lado e copiarmos as coisas simples que sempre deram certo.

Gabriel Novis Neves

22-08-2012

terça-feira, 28 de agosto de 2012

TRATAMENTO DE SAÚDE


Fico envergonhado ao ver uma quantidade enorme de políticos com mandatos legislativos afastados das suas funções alegando motivos de saúde e, na maior cara de pau, perambulando pelos mais remotos grotões do nosso país fazendo campanha política.
Além do mau exemplo que passam à população, ainda oneram os cofres públicos com a posse dos seus suplentes e desmoralizam as instituições a que pertencem.
Muitos desses senhores já exerceram cargos executivos – interessante, se não fosse cômico.
Eram extremamente rigorosos com o afastamento dos pequenos servidores por motivo de saúde e, especialmente intolerantes com as gestantes (período maior de licença). Neste caso não se pode duvidar: são dois pesos e duas medidas.
Estamos no início de uma campanha eleitoral e os ‘doentes’ dos legislativos estão presentes nos arrastões e nas visitas às obras, muitas delas feitas por seus adversários políticos.
Como em política o feio é perder, chutam os escrúpulos para o espaço.
Dentro desse quadro de falta de decoro e vergonha, fica difícil educar uma criança. Devido à grande visibilidade desses atores e dos comentários da mídia, as crianças ficam sem parâmetros para distinguir entre o certo e o errado.

Não à toa que no colégio muitas crianças escondem a atividade do pai quando este é político.

Sabem que ser político não é bem visto pela sociedade e, muitas vezes, com toda a razão.
Escândalos diários envolvem esses cidadãos, que são fartamente divulgados pela televisão, rádios e jornais.
Não contando as conversas que as crianças ouvem em casa.
Escrevo este artigo ao ver pela mídia fotos de parlamentares (federais, estaduais e municipais) ‘visitando’ obras com o seu candidato.
Sinceramente, não imagino um futuro promissor para o nosso país, onde o princípio maior entre os políticos é seguir a Lei de Gerson para levar vantagem em tudo que fazem.

Gabriel Novis Neves
21-08-2012

Cuiabá não merece!


Há dias escrevi um artigo intitulado “Cuidado com o vice”.
É da nossa cultura política analisar o currículo e a vida pregressa apenas do candidato cabeça de chapa em eleições majoritárias.
Ninguém quer saber o nome da carga que o candidato majoritário está carregando.
É um erro gravíssimo que cometemos.
Em nosso Estado é elevado o número de vices que ocuparam o cargo do titular sem serem conhecidos e que não receberam nenhum voto nas urnas.
São verdadeiros parasitas escolhidos, na maioria das vezes, pelo titular, por possuírem interesses comerciais comuns.
E a população despolitizada e com baixo nível de escolaridade, acaba caindo nessa armadilha.
No Congresso Nacional é preocupante o número de  senadores sem votos exercendo seus cargos sem legitimidade.
Aqui na Grande Cuiabá tivemos certa ocasião, o governador do Estado, o prefeito da capital e o de Várzea-Grande, exercendo esses cargos executivos sem terem recebido nenhum voto – eram vices.
O Jornal Circuito de Mato Grosso publicou em sua edição 404, uma matéria sobre a importância de se conhecer bem os vices candidatos à prefeitura de Cuiabá. 
Sandra Carvalho e Mayala Miranda entrevistaram os seis candidatos, e um deles causou estupefação em nossa gente.
Também pudera! Com o currículo apresentado, muitos irão pensar antes de votar no cabeça dessa chapa.
Vou transcrever trechos da entrevista do candidato a vice, que poderá vir a ser prefeito de Cuiabá.
“Faz anão crescer, e brotar dentes de ouro na boca dos fiéis” - (ele se apresenta como Pastor).
“Já teve câncer no cérebro, na bigórnia (não sei onde fica no corpo humano), nos ouvidos, no estômago, na garganta, nos ossos e no sangue.”
“Ficou totalmente curado numa madrugada quando Deus o levou a um galinheiro, usou uma galinha falando em línguas incompreensíveis.”
Um galo interpretou o que dizia a galinha: “Estou te curando de câncer agora. Vou te usar como médico no meio dos doentes. Por onde tu passar curará os enfermos”.
O candidato a vice, além da parte espiritual, cuida também dos seus negócios, segundo a reportagem do Circuito.
Ele vende livros, CDS e DVDS em que aparece pregando, cantando, conversando com a galinha e o galo.
Todas as quartas-feiras ele lança o ‘Kit Milagres’.
Com esse currículo, Cuiabá não merece tamanho castigo.
A excelente jornalista Sandra Carvalho esqueceu-se de perguntar ao candidato se ele possui carteira de habilitação do DETRAN.


Gabriel Novis Neves   
20-08-2012

A PAZ E A UTOPIA


A obsessão pela busca da paz vem perseguindo a humanidade desde sempre.
Em todas as áreas da vida humana se almeja paz: familiar, financeira, religiosa, profissional e, principalmente, no amor.
Hoje em dia, até mesmo a contemplação do céu e das estrelas em noite de lua cheia, não é capaz de nos levar a paz interior.
Seria essa busca permanente uma utopia?
As inúmeras guerras e atrocidades que nos acompanharam através dos séculos, mostram que isso é realmente uma tarefa inglória.
Em nenhum momento da história da humanidade se conseguiu um momento de paz global.
Muito pelo contrário, a ansiedade e o medo estão presentes no nosso cotidiano cada dia com mais força, apesar dos discursos antibelicosos frequentes, mas que nunca são seguidos por uma prática coerente nesse sentido.
Nem a natureza está conseguindo manter-se em paz e harmonia. Os animais estão sempre em atitude de alerta, em constantes movimentos, em função de seus eminentes predadores, cuja cadeia faz parte da própria vida. Ou ainda, desorientados, por estarem perdendo, para o dito progresso, o seu habitat natural.
Sem falar nas mudanças telúricas, cada vez mais frequentes em função do desrespeito ao meio ambiente.
O que nos resta é buscar, de todas as maneiras possíveis, os nossos próprios momentos de paz. Buscá-la nas coisas simples da vida, através do desenvolvimento da nossa sensibilidade. Dessa forma teremos condições de ver e sentir toda a beleza que nos rodeia – apesar dos pesares.
Essa simbiose plena com a natureza não seria a resposta para a nossa busca?

 "A paz é quando o tempo não faz diferença quando passa". - Maria Schell-Austríaca (1926)


Gabriel Novis Neves
20-08-2012

sábado, 25 de agosto de 2012

Futuro de Cuiabá


Fico assustado quando assisto discussões na chamada elite cuiabana e ouço que, se não for implantado os trilhos do aeroporto de Várzea Grande até o CPA - cerca de vinte quilômetros - para a passagem do polêmico VLT, o futuro da ex-Cidade Verde estará comprometido.
Preciso me internar urgentemente em um centro moderno de pensadores para uma reciclagem e atualização sobre desenvolvimento urbano.
Nessas rodas sinto vergonha de trabalhar e acreditar em valores tão antigos e ultrapassados.
Dediquei a minha mocidade a tocar projetos que visassem exatamente o futuro de Cuiabá. Tudo inútil, segundo eles!
O futuro da nossa cidade está no transporte modal com projeto português, segundo a assessoria do governador, que ganhou de presente de um Fundo de Investimento.
Se não sair esse projeto, voltaremos a ser colônia de nem sei de quem.
Pobre cidade onde nasci! Aqui fui educado e dediquei, com sacrifício pessoal e da minha família, toda uma vida à educação.
Pelas histéricas discussões, o VLT destruirá todo o nosso passado e reduzirá o seu futuro aos vinte quilômetros até o CPA.
Que futuro nos aguarda! 
Dizem que esta Copa do Mundo veio para a nossa cidade para deixar um legado de benefícios.
Até agora, o grande legado são os empréstimos bancários gerando juros e dívidas que comprometerão o desenvolvimento do Estado - e sacrifício para várias gerações.
Justiça se faça ao governo Blairo que, durante mais de sete anos, deixou poucas dívidas para o governo da continuidade saldar.
Mas, a vaidade não tem preço nem ética.
Somos um Estado que só consegue empréstimos por cortesia da nossa Assembleia Legislativa, aumentando o nosso teto de endividamento sobre as bênçãos irresponsáveis do governo federal.
Estamos construindo obras para os olhos da população, e não, para o coração.
O coração do povo cuiabano deseja uma cidade humanizada. Uma Arena ou um VLT não conseguirão trazer humanização às camadas mais sofridas da nossa população.
Não pretendo entrar em conflito com os interesseiros das grandes obras.
Mas o futuro de Cuiabá está na dependência de uma boa educação para as suas crianças e gestores públicos honestos.

Gabriel Novis Neves
19-08-2012

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

EBSERH


No dia 15 de dezembro de 2011, quando todo mundo estava de férias aguardando a entrada do Ano Novo, a presidente da República sancionou a lei nº 12.550 criando mais uma empresa estatal - a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), vinculada ao Ministério da Educação.
O seu capital social será integralmente da União.
A competência dessa empresa é administrar unidades hospitalares, bem como prestar serviços de assistência médico-hospitalar, ambulatorial e de apoio diagnóstico e terapêutico à comunidade do SUS.
O seu Estatuto Social foi aprovado após o Natal pelo Decreto nº 7.661 de 28 de dezembro de 2011.
Não irei transcrever esses atos burocráticos por serem longos em demasia e cansativos. Quem estiver interessado em conhecer os detalhes dessa nova empresa consulte a lei e o decreto.
Parece-me que houve má fé do governo ao sancionar e publicar em tempo recorde matéria tão importante, quando todos estavam mais interessados no Papai Noel e nos festejos pela passagem do ano.
Essa lei de final de ano é uma intervenção nos hospitais universitários brasileiros.
O governo gastador montou uma estrutura paralela para administrar os hospitais. Melhor dizendo: para intervir nos hospitais e ferir a autonomia universitária. 
Por outro lado, abriu caminho para as Organizações Sociais de Saúde tomar conta, também, dos hospitais universitários.
A proposta e estrutura da EBSERH é irmã gêmea das OSSs.
As atribuições dessa nova estatal do MEC são tão amplas, que é um aviso do ministério para privatizar os seus hospitais e todo o ensino superior público.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) foi uma das entidades do setor que se posicionou contra a criação da estatal.
"Ela está sendo apresentada como panacéia para resolver problemas de gestão hospitalar, quando os óbices são os recursos humanos. O CFM defende o SUS (Sistema Único de Saúde), seus princípios, enquanto política pública e a gestão dos hospitais", explicou o conselheiro suplente do CFM Waldir Araujo Cardoso.
Já a Associação Nacional dos dirigentes das Instituições Federais do Ensino Superior (Andifes), aliada política do governo federal, preferiu não se manifestar na época.
Diante da reação do CFM, docentes, discentes e opinião pública mudaram de posição, e agora são contra a implantação da nova empresa governamental.
A criação dessa empresa (EBSERH), não irá melhorar em nada a situação dos hospitais universitários, e será um grande passo para a privatização desse setor, afirmam autoridades médicas do Rio de Janeiro. 
Professores e alunos que discutiram essa intenção do governo, como os da Universidade Federal da Bahia, declararam o seu repúdio a essa nova investida do governo, que visa entregar todo o ensino superior público à iniciativa privada.
Como dizia o nosso colega Pignatti em 1982, “Abra o olho companheiro”!
Estamos encaminhando-nos para a privatização de todos os nossos serviços públicos.
Com relação à privatização da nossa educação o desastre será total, e o Brasil voltará à condição de colônia dos países que investiram em educação.
A EBSERH é o braço da privatização nas universidades.

Gabriel Novis Neves
19-08-2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

DÚVIDAS


Dizem que há coisas que só acontecem em Cuiabá.
Fico sem entender, por exemplo, certas homenagens que são prestadas às pessoas que, em vida, foram alvo das mais perversas agressões verbais e humilhações.
Eram, inclusive, apedrejadas, e o carinho da sociedade passava distante delas.
Nunca vi alguém se compadecer dessas infelizes criaturas, carentes de todo tipo de necessidades.
Eram vistas como gente diferente dos considerados normais, e, por isso, sofriam toda espécie de discriminação.
Pessoas como Maria Taquara, General Saco, Guaporé, Antonio Peteté e tantos outros personagens da minha infância.
Maria Taquara andava, muitas vezes, sem roupa no meio da rua e dizendo coisas incompreensíveis, para delírio dos adultos e pavor das crianças.
Nunca vi alguém se aproximar desta pobre mulher para cobrir seu esquelético corpo. Tampouco que a tivessem encaminhado a um médico ou hospital.
As mães mostravam aquela cena aos seus filhos dizendo que, se não fossem obedientes, os entregaria aquela mulher – implantando o medo na imaginação infantil.
Os adultos zombavam e os adolescentes atiravam pedras naquela paciente evadida da sua casa por descuido da sua família. 
Era uma figura muito conhecida das ruas da antiga Cuiabá, e que denunciava a gente desta cidade como seres anestesiados com o sofrimento do próximo.
O General Saco era uma pessoa inofensiva. Sobre seu vestuário exibia inúmeras medalhas que recebia de presente dos desumanos aproveitadores da doença humana.
O General Saco não saía do bar do meu pai, onde não era importunado nos seus discursos intermináveis - sem pé nem cabeça. Um caso digno de tratamento, perambulando pelas nossas ruas como uma alegoria dos considerados saudáveis.
De todos eles, o Antonio Peteté foi o mais humilhado, pois se aproveitavam do seu baixo QI para explorar contos da sua sexualidade.
Guaporé, carregador oficial de água da bica da Prainha para a pensão Pécora, ficou famoso pelo diálogo com a sua madrinha um domingo à tarde.
Todos esses vultos do passado não tiveram da sociedade cuiabana um mínimo de compreensão humanitária.
Após as suas mortes, inventaram que eles faziam parte da nossa cultura e começaram a prestar-lhes homenagens.
Como é cruel a burguesia!
Em vida eles foram as nossas ‘Genis’ do Chico Buarque, desassistidos de tratamento médico e do amor do próximo.
Depois de mortos viraram esculturas e nomes de ruas, e ainda são lembrados como figuras representativas da falida cuiabania.
O legado que deixaram foi o sofrimento das suas doenças desfilando pelas ruas da minha cidade.
Agora, em Várzea Grande, querem homenagear uma senhora que viveu, seus últimos anos até morrer, em um buraco no centro da ex-Cidade Industrial.
Segundo matéria de Luiz Fernando Vieira do jornal “A Gazeta”, vai ser construída uma escultura de três metros de altura no local onde ela escolheu para viver após fugir do Hospital Adauto Botelho.
“As pessoas usavam o nome dela, e o modo como vivia até morrer, para amedrontar as crianças: - você tem que largar a mamadeira, senão vai morar com ‘Nhana Santa’”.
O povo realmente é mau.
A grande Cuiabá nunca foi uma cidade humana!  Continua tratando sem dignidade os seus habitantes, especialmente os seus doentes, e faltando com o respeito aos seus mortos.

Gabriel Novis Neves
14-08-2012

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Enem e as cotas


Fui procurado por um jornalista para conversarmos sobre os dois assuntos do momento: o Enem e as cotas nas universidades.
A grande mídia não tem tido espaço para uma ampla discussão sobre nossos mais sérios problemas educacionais, devido à agenda cada vez mais cheia de escândalos públicos.
Dizem os entendidos que a cada semana um ministro será 'homenageado' pela VEJA.
Como são quase quarenta ministros, temos uma novela de boa duração.

O favorito para uma explicação sobre o que se passa com a educação brasileira, com o ensino superior em greve há mais de noventa dias, o Enem, as cotas e a péssima qualidade da nossa educação pública, é o novo Ministro da Educação.

Com relação ao Enem existe um fator que a nossa cultura popular tem a solução ideal: “Numa casa de caboclo, um é pouco, dois é bom e três é demais.”
Anular três provas sucessivas do Enem é demais! Novos rumos precisam ser tomados. Em um país onde os resultados das eleições para presidente da República são conhecidos após quatro horas do início da apuração, é inaceitável a anulação nacional ou regional, de uma simples prova do Enem.
Não há motivos justificáveis para esse procedimento extremo, a não ser por desconfiança de corrupção. Quando esse mal contamina a educação, o prognóstico de uma sociedade mais justa com oportunidades para todos, fica distante da esperança da nossa gente.
Um bom ensino fundamental e médio, com avaliação feita pela própria escola, automaticamente acabaria com o vestibular ou Enem.
Na universidade, os alunos que não atingissem as metas do conhecimento, seriam eliminados do sistema, e aproveitados, com dignidade, no mercado de trabalho não universitário.
O trajeto educacional seria a educação infantil, ensino fundamental, médio e o ingresso na universidade. Esse modelo um dia já funcionou no Brasil, e foi abandonado por falta de investimentos na educação.
Como consequência, temos professores com excesso de carga horária, desmotivados e com pouca ou nenhuma oportunidade de atualização.
Escolas com espaço físico inadequado ao ensino, onde faltam laboratórios, bibliotecas, museus, auditórios, quadras poliesportivas e locais para atividades de recuperação de aprendizagem.
Como o governo não investe em educação básica e continua priorizando a criação de faculdades de medicina, direito e engenharia, inventaram essas avaliações tipo Enem para acesso na universidade, que é um lugar proibitivo para a maioria dos jovens brasileiros.
E a qualidade do nosso ensino, em todos os níveis, cada vez piora. É uma vergonha a colocação do Brasil no ranking mundial, e o governo na maior cara de pau apresenta números e mais números para esconder o que todos vemos e sentimos.
As cotas nas universidades é o resultado dessa desastrosa política educacional. Se o governo colocar o ensino básico como prioridade nacional e conceder cotas de bolsas, para capacitação dos seus professores, a educação brasileira passa a ser competitiva e podemos até em pensar em um Prêmio Nobel.
O lamentável é o governo fazer tanta marola e enganação, tentando resolver esse sério problema pelo ápice da pirâmide educacional.
Simplicidade e modéstia, gestores oficiais do século XXI! O mundo tem bons exemplos para corrigir essa doença: -  Aluno em tempo integral no ensino básico, com escolas dignas e professores qualificados e bem remunerados.
Não percamos tempo discutindo o ingresso dos alunos na universidade, enveredando pelo caminho da discussão política e esquecendo-se do seu futuro, que hoje desembocam em vistosos diplomas e festas para comemorar o título de analfabetos funcionais.
Diz o ditado popular que o início começa pelo início. Assim é a educação. A boa educação inicia-se pelo início do processo, que é a educação infantil - e oportunidade de estudar para todas as crianças.
Quando a lei não é cumprida, enfrentamos o Enem e cotas, para entrarmos no sistema universitário público, que só abriga 30% dos nossos universitários.

Gabriel Novis Neves 
12-08-2012

terça-feira, 21 de agosto de 2012

LULA ERA DA ARENA


Os mais antigos lembram-se do general Golbery do Couto e Silva. Pertencia à elite intelectual do exército brasileiro e tinha vocação para a política partidária.
Foi homem forte do governo Geisel e Figueiredo. Dizem que foi o ideólogo da ‘abertura política lenta e gradual’, com o fim do bipartidarismo no governo militar.
Coincidentemente nesse período surgia no ABC paulista a figura carismática de Lula, líder metalúrgico.
Com o desaparecimento da ARENA (Aliança Renovadora Nacional) de apoio total e irrestrito ao governo da revolução, e do MDB (Movimento Democrático Nacional) partido de oposição, Golbery estimula a criação de inúmeros partidos políticos.
Para Lula reservou o emblemático Partido dos Trabalhadores, que tinha a simpatia da igreja católica, intelectuais, estudantes, artistas e sindicatos.
A função principal do recém-fundado partido, inspiração do general, era a de impedir a vitória do único líder reconhecido do regime militar como oposição - o engenheiro Leonel de Moura Brizola. Naquela época, a atual presidente do Brasil era do partido do gaúcho.
Golbery negociou com o ‘sapo barbudo’. Alongou por mais um ano o mandato presidencial do último presidente da ARENA, José Sarney, enquanto o PT do Golbery adquiria alguma musculatura.
A estratégia militar deu certo, e Brizola não conseguiu se eleger, perdendo as eleições exatamente para Lula, que perdeu para Collor e depois duas vezes no 1º turno para o FHC.
Com o apoio dos banqueiros, do capital e dos trabalhadores, Lula hospedou-se por oito anos no Palácio do Planalto para concluir o programa neoliberal do seu antecessor e passar o bastão à antiga militante do partido do saudoso Brizola.
Esse pedaço da história do Brasil era contada, parte pelo Golbery, e por importantes personalidades políticas e jornalistas influentes desse período da nossa história.
Certa ocasião ouvi perplexo essa engenharia política, mas reticente em acreditar.
O tempo passou. E hoje não tenho dúvidas de que o Lula era o braço popular da ARENA.
‘Diz-me com quem andas e direi quem és. ’
Vejamos os homens fortes de Lula e suas origens.
José Sarney, ex-todo presidente da ARENA, hoje o político mais forte do sistema Lula.
Paulo Maluf, seu principal aliado em São Paulo.
Governadora Roseana Sarney e todos os seus aliados da extinta Arena.
Delfim Neto, o eterno ministro dos governos da ARENA, hoje o seu principal consultor econômico.
Com esses tops, não há necessidade de citar os do baixo clero espalhados por todos os Estados brasileiros.
Creio ser essa a metamorfose utilizada pelo Lula para explicar a sua trajetória política.
Não esquecendo que os trezentos antigos picaretas existentes no Congresso e denunciados por Lula, são hoje seus amigos e, no seu governo, pertenceram à base de sustentação e participaram do mensalão.
A história tarda, mas esclarece.

Gabriel Novis Neves

08-08-2012

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Greves


Tenho a impressão de que vivemos um momento de inquietação social semelhante ao do início dos anos sessenta.
É difícil saber o órgão público federal que não está em greve.
O pior desta supergreve é que quem está não quer sair e quem não entrou ainda está entrando.
Professores universitários há três meses fecharam as universidades e estão acampados em Brasília sem diálogo com o governo.
Servidores da saúde, da polícia federal, da agricultura e outros que não irei citar para não perder o espaço no meu artigo, mantêm os braços cruzados.
O governo federal, acreditando nas pesquisas pagas por quem de direito para agradar o governo, faz de conta que não está nem aí.
Os funcionários públicos federais nunca foram tão humilhados como agora.
A mesma bravura o governo dos ‘mais fortes’ não demonstra frente ao que acontece no legislativo, no judiciário e no tribunal de contas.
O abastecimento dos constrangedores salários no país que deseja exterminar a miséria sai do mesmo pacote.
O executivo conhece o comprimento do seu rabo e sabe com quem pode mexer. Não convêm contrariar os fazedores de leis (lembremos-nos do Collor), tampouco aqueles que julgam usando togas.
É da tradição humana bater nos mais fracos.
Enquanto servidores públicos estão sendo humilhados e acampados em Brasília, o Brasil assiste estupefato, através da televisão, ao cínico espetáculo encenado nas terras de Cabral.
No Supremo Tribunal Federal sete ministros da corte máxima da justiça brasileira, ouvem em silêncio os melhores, mais famosos e mais bem remunerados advogados deste país.
Tentam provar que tudo o que vimos - malas de dinheiro, dólares presos na cueca, no bolso, em contas bancárias, paraísos fiscais, saques em bancos, enriquecimento do dia para a noite -, simplesmente inexistiram.
Esse dinheirão saiu dos cofres públicos, diz o senhor Procurador Geral da República, que pediu a condenação de todos os envolvidos no processo e sua posterior prisão.
Os maiores Institutos de Pesquisas do Brasil ouviram o povo sobre essa roubalheira.
Quase a unanimidade dos entrevistados respondeu que essa dinheirama que correu para as mãos de alguns existiu, mas não acreditam em condenação.
No momento em que a Procuradoria Geral da República inocentou e tirou do processo o chefe da quadrilha, foi para o lixo a credibilidade do julgamento.
Os bem remunerados advogados dos réus ficaram à vontade para teatralizar o julgamento da ‘mula sem cabeça’.
Só no Brasil que um crime dessa dimensão não tem chefe reconhecido no processo.
Os servidores públicos em greve conhecem muito bem a história desse sequestro de recursos dos cofres públicos e, que agora, fazem falta para atendê-los nas suas mínimas e legais reinvidicações.
A greve continua e o governo da ditadura do mensalão ameaça cortar o salário dos servidores para por fim ao movimento paredista.
Tenho uma preocupação com a autoestima desses servidores e com o desenvolvimento do Brasil.
O que passou não volta mais, embora receie por uma regressão aos anos sessenta.
Este filme eu já vi. É puro terror.

Gabriel Novis Neves
16-08-2012