O
meu neto de onze anos é doente por futebol. Acompanha os principais campeonatos
europeus e o nacional. Seus times brasileiros são o Flamengo no Rio, e Santos
em São Paulo.
Diante
de certos resultados extravagantes, que é a paixão do futebol, costuma comentar
comigo: “que situação, vô!”.
Futebol
é assim, respondo. No fundo mesmo gostaria de explicar a ele que não são apenas
alguns resultados do futebol que nos surpreende.
Leio
uma manchete de um jornal e, a notícia é o que, em futebol, chamamos de zebra.
“90%
dos magistrados de MT ganham acima do teto.”
A
folha salarial de abril divulgada na Internet mostra que, de um total de 370
magistrados ativos e inativos, inclusive pensionistas, 322 receberam valores
acima do teto constitucional, que é de R$ 26,7mil, o equivalente ao que ganha
um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Os
valores variaram de R$ 27 mil a 68 mil, recebido por um desembargador.
Ora,
quem faz as leis é o legislativo. O judiciário acompanha e fiscaliza o seu
cumprimento. Se existe funcionário recebendo acima do teto dito constitucional,
é por que a lei consente.
É
notório que existe muito casuísmo na elaboração das leis, criando um verdadeiro
garimpo de riquezas para advogados estudiosos.
Que
o diga o nosso antigo ministro da Justiça, o professor Márcio Tomaz, advogado
das causas perdidas.
Se
em todo o Brasil os magistrados recebem salários até vinte vezes superiores ao
teto, é por que a lei permite, e eles conhecem a fraqueza da nossa legislação.
Diante
dos salários dos professores universitários, que estão em greve há mais de dois
meses e há três anos estão sem reajustes, a lei é inflexível, e que se dane a
educação.
A
justiça e o legislativo têm poder de negociação com o executivo, que faz de
tudo para tê-los como aliados.
Os
funcionários públicos, nenhum.
As
consequências desse modelo refletem nos nossos índices de desenvolvimento,
enquanto nação civilizada e democrática.
Agora,
o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), diante de tais publicações, rejeitou
esses valores e baixou nova resolução a ser cumprida por todos os Tribunais de
Justiça do Brasil.
Que
situação! Um dia o meu neto irá entender este período da história do Brasil.
Gabriel Novis Neves
02-08-2012
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