sexta-feira, 26 de abril de 2024

ESCREVER CRÔNICAS


O difícil em escrever uma crônica é encontrar o assunto. Depois as coisas fluem de acordo com a formação do escritor.


Fico encantado com a erudição dos textos do professor Germano Aleixo Filho, da UFMT.


O último que li sobre Dom Aquino Correa e a Academia de Letras de Mato Grosso, é uma obra de arte.


Preciso, elegante. Nem uma palavra a mais ou a menos.


Discorreu com muita arte e beleza digna dos grandes mestres, que ele é.


Domina o latim e a gramática, seu orgulho profissional.


Aposentado, continua orientando amigos e entidades culturais.


Eu me ‘arrasto’ nas linhas sem nenhum brilhantismo.


Fico até a pensar em continuar a escrever, mas sem publicar os textos por falta de brilhantismo.


Chegando ao envelhecimento temos necessidade em conversar com alguém.


Escrevendo, converso com meus leitores de uma forma agradável e desejável.


Escrever para mim é uma grande terapia e me faz muito bem.


Não sei o que seria de mim, se não tivesse encontrado a escrita.


Vou continuar escrevendo até quando for possível!


Estou neste planeta Terra acima da permanência da maioria da minha faixa etária.


Sou um privilegiado e curto escrever textos bem simples e compartilhar com meus amigos leitores.


Respondo às suas indagações.


Talvez isto seja motivo da minha longevidade, pois todos os dias torço pelo sucesso do próximo.


Assim vou levando a vida até quando Deus permitir, escrevendo textos curtos.


Na época da ‘inteligência artificial’ quanto menores as crônicas melhores, pois, ninguém tem mais tempo a perder com leituras.


A tecnologia e matemática quando acionadas ajudam na feitura das crônicas.


É a ‘inteligência artificial’ tentando substituir a criatura humana!


Gabriel Novis Neves

29-03-2024




quinta-feira, 25 de abril de 2024

TEMPO OCIOSO


Quando jovem não encontrava tempo para curtir o ‘ócio criativo’, como nos ensina o sociólogo italiano Domenico De Masi.


Eu era muito imaturo e entendia que precisava de muito dinheiro para preencher bem o tempo de folga.


‘O ócio é necessário à produção de ideias, e as ideias são necessárias ao desenvolvimento social’.


Com o correr dos anos e a idade avançando, aproveito o tempo, especialmente após o almoço e antes de dormir para pensar e curtir o ócio.


Quantas ideias surgem, que trabalhando não teria acesso a elas!


Resolvi problemas sérios na hora de descansar, telefonando para pessoas certas.


Até no momento de levantar para ir ao banheiro de madrugada, acompanhado da enfermeira, estou me informando sobre os últimos acontecimentos, como os resultados do futebol ou da eleição da reitoria da UFMT.


Quando acordo e abro o celular, leio o número de amigos que me informam sobre o que já sei.


O ócio, longe de ser negativo, é um fator que estimula a criatividade pessoal.


É um conceito dado pelo sociólogo italiano que coloca a plenitude da vida humana na intersecção entre trabalho, estudo e diversão.


É um fenômeno da passagem de uma sociedade industrial para uma pós-industrial, caracterizada pela valorização das atividades criativas.


Estas exigem maior esforço intelectual do que manual, além de não serem repetitivas.


Pequenas pausas no trabalho para o ócio criativo são tão importantes quanto longos momentos de prazer intenso.


O ócio criativo nos ensina a ser mais felizes. Não posterga tarefas para um momento futuro, apenas estabelece pausas estratégicas de relaxamento durante a rotina diária de trabalho.


A ideia é que, com as pausas, a execução das tarefas se torne mais fácil e atinja melhores resultados.


O ócio criativo não é apenas uma pausa das responsabilidades do trabalho, mas sim uma fonte de inspiração e inovação.


De Masi reconhece que o ócio criativo não é acessível a todos.


Defende políticas que promovam a igualdade de oportunidades para todos os membros da sociedade.


O livro ‘O ócio criativo’ foi lançado em 2000 e espalhado pelo mundo civilizado.


Domenico esteve várias vezes no Brasil fazendo palestras, ministrando cursos, sendo entrevistado pela TV.


Tenho um exemplar em minha biblioteca para releitura, sempre durante o ‘ócio criativo’.


Gabriel Novis Neves

03-04-2024




terça-feira, 23 de abril de 2024

O ENVELHECIMENTO NA ERA DIGITAL


Li um artigo em um jornal digital de São Paulo sobre o assunto desta crônica.


Confesso que por diversas vezes fiz a sua releitura pela minha dificuldade de compreensão.


Sou jurássico, pouco entendendo de comunicação digital.


Tive a paciência de anotar o número de palavras incompreensíveis para mim, algumas em inglês.


O autor do artigo possui um belo currículo e pertence a geração de autores modernos, discorrendo muito bem sobre o polêmico assunto do envelhecimento na era digital.


Eu boiei na leitura, tendo anotado vinte e duas palavras que não soube o sentido ou a sua tradução do inglês.


A safra nova de escritores escreve tão difícil e inventam nomes bonitos como — ‘envelhecimento na era digital’!


Ora, envelhecer é quando ficamos idosos e fazemos um balancete em nossa vida.


Tivemos, nesse período de vida vencido, sucesso em nossas atividades privadas e pessoais?


No envelhecimento deveremos estar preparados para o recomeçar, e não apenas observando o tempo passar.


É hora de um novo emprego que lhe faz feliz, ou novo curso superior para novos desafios.


Por que não começar um relacionamento amoroso ou tentar um novo?


Tratar a mulher e filhos com valores diferentes dos seus, pois tudo muda com o ‘andar’ do tempo.


Equilibrar o passado com o presente faz um envelhecer sem traumas.


Aprofundar no estudo de idiomas e internet requer um rico envelhecer.


Na era digital temos que nos preparar e bem, pois os valores humanos mudaram e desde cedo temos que nos preparar para o envelhecimento.


Este não é uma doença, mas poderá nos causar no futuro, aborrecimentos sérios causando-nos a terrível depressão e conflitos familiares.


Gostaria de envelhecer no modo antigo, em casa com toda a família reunida.


A era digital diminuiu a distância entre os de longe e distanciou os de perto.


Gabriel Novis Neves

10-04-2024




DOAÇÃO


Quando alguém manda alguma guloseima para mim, temos o hábito aqui em casa de dizer que ‘chegou doação’.


As ‘funcionárias’ adoram esse termo, e com alegria recebem os presentinhos e trazem ao meu escritório, todas sorridentes dizendo: ‘hoje temos doação’!


Estamos no terceiro dia da semana, e ganhei doação em três dias consecutivos: atas, melancia, bolinho de polvilho e francisquito.


Antes do almoço, ‘provei’ uma fatia gelada de melancia, uma gostosura só.


Após o almoço duas atas comidas com colher de sobremesa.


No lanche da tarde, um francisquito e um bolinho de polvilho.


À tarde está sem espaço para o picolé.


Faço essas ‘estripulias’ consciente da necessidade do controle de peso, especialmente na idade que me encontro.


Muitas dessas reminiscências pertencem a minha infância e juventude.


A sorveteria do bar do meu pai, fabricava inúmeras variedades de picolé, cada qual mais saboroso que o outro, muitos de frutas naturais.


A minha mãe sempre tinha novidade para a merenda escolar, deixando lembranças, o francisquito.


No interior come-se mais que em cidades grandes, quando os quitutes são menos frequentes.


As donas de casa eram educadas para o lar, quando aprendiam a fazer guloseimas que eram distribuídas pela vizinhança que trocavam gentilezas.


Os vizinhos de antigamente eram considerados parentes, e tratados como tal.


Esse hábito de troca de iguarias com a vizinhança terminou com a vida moderna.


Os moradores dos espigões de concreto mal se conhecem entre si, inviabilizando essas delicadezas.


E as doações desapareceram, levando tudo para o lixão do esquecimento.


A enfermeira da noite chegou e foi logo perguntando sobre a origem da doação em cima da mesa, pois o que vem para mim é para todos nós.


Ela foi ‘experimentar’ um bolinho de polvilho e achou ótimo.


O tempo vai passando nos levando sempre ao passado de boas recordações.


As gerações novas não tem a mínima noção do que seja uma ‘doação’ como do relato acima.


Gabriel Novis Neves

20-03-2024






domingo, 21 de abril de 2024

EGO INFLADO


Acordei cedo e, ao ler os comentários dos leitores a minha crônica publicada, fiquei com o meu ‘ego inflado’, por uma arrogância que não tenho de ser um bom escritor!


Tenho afirmado por diversas vezes, que a escrita foi a terapia que descobri com o envelhecer.


Nunca imaginei a publicação das minhas crônicas recebendo aplausos.


Na maioria das vezes versando sobre assuntos do cotidiano tão do meu agrado e dos meus leitores!


Estou competindo com flores, plantas e músicas, e me saindo bem nos comentários.


Fiz ainda recente um curso de gramática portuguesa e acredito ter facilitado a minha comunicação por escrito.


Nem por isso me transformei em um ‘criativo’ escritor, como dizem alguns leitores.


Eles são gentis e amáveis ao comentar os meus textos, fáceis de ler, sem palavras difíceis ou estrangeiras.


Quando uso palavras técnicas prefiro explicar, a deixá-los a ‘quebrar cabeças’, consultando o Google ou dicionários.


A gramática tecnológica é vastíssima, do domínio de técnico especializado por área.


Com o advento da internet as receitas médicas de leituras só compreensíveis por farmacêuticos, foram substituídas pelas digitais.


O objetivo da publicação dos meus textos é de conversar com meus leitores, e também comigo.


Fico um tempo gostoso lendo as respostas recebidas e quantas vezes aprendendo com elas!


Lembro-me daquela célebre frase do educador Paulo Freire: ‘Quem ensina aprende e quem aprende ensina’.


Posso afirmar que ao escrever aprendo a melhorar os meus textos, e tenho o leitor sempre a me ensinar.


Acordar com o ‘ego inflado’, distante de ser atacado pela vaidade, me faz feliz para ‘enfrentar’ mais um dia, cheio de surpresas boas e más.


‘Oxigenado’ pelos aplausos ao meu ‘trabalho literário’, abro o notebook para mais um dia de produção, que estou concluindo agora antes da chegada do fisioterapeuta.


Gabriel Novis Neves

11-04-2024




LONGE DE MIM


De longe vem a música do barzinho para me acalentar nesta sonolenta manhã de domingo.


De mais longe a ‘presença da ausência’ da Regina em formato de saudade.


Como dói a saudade sentida pelos dezoito anos de separação!


Com um ano para completar noventa anos, acho que já cumpri as minhas obrigações aqui na Terra.


Lembro dos meus amigos, contemporâneos e vejo que quase todos eles já pertencem ao plano espiritual.


Parecem me chamar para que juntos continuemos nossos trabalhos.


Deus saberá a hora de nos chamar, e só Ele.


Meu filho caçula veio me visitar.


Mediu a sua pressão arterial por três vezes.


Atualizou seus contatos pelo celular.


Trocamos algumas frases sobre assuntos variados e logo se foi.


Foi almoçar na casa da sogra, fazendo valer aquele provérbio popular: ‘quem casa um filho, perde um filho’.


Vou almoçar na companhia da minha ‘cuidadora’ com o que sobrou do ‘almoço da família no sábado’.


Escolhi uma macarronada que sequer provei. Como reserva para uma emergência — um prato de quibe cru com pão sírio.


Essa iguaria árabe é feita pela avó cuiabana, da viúva de um migrante libanês, marido de uma das minhas bisnetas.


Hoje à tarde não volto mais para o escritório.


Irei assistir pela TV, às decisões dos principais campeonatos regionais: Rio, São Paulo e Minas Gerais.


Meu time do coração — o Botafogo do Rio — ganhou a Taça Rio, que não foi comemorada pelo tamanho do time de Garrinha, Heleno de Freitas, Nilton Santos, Jairzinho, Didi, Amarildo, Gerson, Zagalo e tantos outros campeões do mundo.


O som do barzinho emudeceu, avisando que o cantor foi embora.


A ‘presença da ausência’ permaneceu, não me abandonando nunca.


Assim vivo procurando poetizar todos os momentos da minha vida, mesmo na solidão de um domingo, até não sei quando.


Gabriel Novis Neves

07-04-2024




sexta-feira, 19 de abril de 2024

A CONTAGEM PARA O ALMOÇO FAMILIAR


Uma presença garantida nesses almoços de sábado em meu apartamento, é a minha.


Difícil conseguir reunir filhos, netos, bisnetos, noras e genros.


Minha neta médica tem plantão na maternidade.


A que trabalha com gastronomia fica na empresa, e sempre alguém tem parentes para homenagear.


Não posso esquecer da minha avó Eugênia. Ela foi mãe de dez homens e cinco mulheres.


Seu casarão assobradado foi demolido em 1968, para dar lugar ao início da avenida Presidente Vargas, bem em frente à Praça da República.


Eu me lembro com saudade desse casarão próximo à casa onde nasci.


Diziam os mais antigos que na hora de fechar a casa para dormir, a minha avó contava as crianças que dormiam pelo chão.


Não raro dava por falta de alguém, que a obrigava a percorrer as redondezas, recolhendo quem faltava.


É importante lembrar que naquela época era frequente crianças dormirem na casa dos vizinhos.


Era uma festa para as crianças e até hoje existe esse hábito em menor intensidade.


Como eu gostava de dormir na casa dos vizinhos! Porém, com a permissão da minha mãe.


Era bom ser criança antigamente.


Nos almoços de sábado, chamados da família, estou sempre a contar o número de presentes para distribuir os pratos na mesa.


É quando a algazarra se faz presente com todos falando alto ao mesmo tempo.


A cozinha é reforçada com a presença assídua da cozinheira da minha neta.


Ela recebe encomenda de pratos especiais e sobremesa.


A minha cozinheira ajuda em tudo, não podendo faltar salada verde com castanha do Pará e ovos de codorna, arroz, feijão, picanha, massas, farofas, batata palito, pastel de carne e queijo, coscorão.


A avó do marido de uma neta envia ‘doação’ de comida.


Esfirra, quibe cru, pão sírio, charuto, arroz árabe, salada árabe, macarrão árabe.


De sobremesa salada de frutas, com cereja e açúcar.


Este é o básico com variações no tipo de carnes, indo do filé mignon, carne de porco, carneiro.


Carne branca de peixe, frango assado recheado de farofa.


Mais ou menos é assim que funciona ultimamente o almoço da família.


Gabriel Novis Neves

13-04-2024