O melhor meio para não se esquecer de algo que presenciamos é escrevendo.
Por mais que sejamos atentos e espertos para memorizar os fatos, com o tempo acabamos esquecendo.
Imagine alguém com noventa anos e excelente memória: quanta coisa o tempo levou para o esquecimento?
Sou um armazém repleto de lembranças, mesmo sabendo dos inúmeros fatos que já esqueci.
Meu fraco são os nomes — esqueço-os com facilidade.
Mas qual a vantagem de lembrar tudo o que vivemos?
Mesmo os momentos alegres não permanecem para sempre, e os desagradáveis, quando esquecidos, funcionam como remédios — curam a alma.
Desde criança aprendi com os adultos a escrever sobre os principais acontecimentos do dia num caderno da capa dura, chamado ‘escrivães’.
Esses cadernos eram guardados ano após ano em imensos armários e consultados em ocasiões especiais.
Anos depois, eram queimados pelos herdeiros, como se o conteúdo interessasse apenas a quem os escreveu.
Uma pena! Parte da história da cidade se perdia em nome da modernidade.
Presenciei, com dor no coração, a fogueira das anotações do diário do meu avô.
Sinto falta dessas memórias.
Seriam de grande valor nas crônicas do cotidiano que publico no blog Bar do Bugre.
Quantos fatos importantes se perderam com a mudança dos costumes!
Participei dessa transformação em que o antigo passou a não ter valor.
Bibliotecas importantes de Cuiabá foram queimadas por herdeiros, inclusive as de órgãos públicos.
Os Anais Históricos de Cuiabá, verdadeiro atestado de nascimento da nossa cidade, só foram salvos das traças, graças à visão histórica do Padre Wanir Delphino César, da Academia Mato-Grossense de Letras.
Em 1968 ele mandou restaurá-los na Casa da Moeda, no Rio de Janeiro.
A professora Marília Cecília, microfilmou em Portugal e na Espanha, documentos fundamentais para a história da nossa terra, a serviço da Universidade Federal de Mato Grosso.
Com o advento das novas tecnologias e da internet, ficou mais fácil preservar nossa história — e o que escrevemos.
Gabriel Novis Neves
08-07-2025