quarta-feira, 13 de março de 2024

PRONTUÁRIO MÉDICO


Durante o período da minha internação hospitalar, fiz o possível para não deixar de publicar minhas crônicas.  


No que toca à de hoje, já tive o ensejo de escrever duas com essa temática, significativa em minha trajetória.


Problemas é o que não me falta nessas ocasiões, ainda mais por ser o protagonista.


Pensando no pobre do leitor, forçado a degustar verdadeiros ‘prontuários médicos’, decidi parar de escrever por certo tempo. Os achaques teimam em me fazer companhia.


Pelo menos até que esta fase finde, rogando a Deus não seja longa! Assim, meu cérebro terá seu repouso merecido e tranquilizador.


Ficará desligado de certas preocupações que envolvem a cidade, à semelhança do desmoronamento de parte dos paredões do Portão do Inferno, dificultando o trânsito que nos leva a Chapada.


Terei mais tempo para verificar tantas coisas belas que a natureza nos oferece. E até tempo demais para colher dados com vista à declaração anual do meu Imposto de Renda.


O camarada que inventou essa tal cobrança — logo apelidada de ‘Carne Leão’ — caiu em desgraças com o povo, que quer esganá-lo.


Está sempre a ‘garfar’ dos que mais trabalham, os quais encontram, em suas economias, um apoio para amenizar as agruras.


Este ano, o preenchimento do meu imposto de renda, será uma ‘barbada’ para a contadora.


A bem-dizer, não terei nada a acrescentar aos meus proventos que possa ser onerado. E saber que a sede do governo se agiganta, a cada dia mais voraz!


Já ficou longe o tempo de usufruir férias encantadoras, quando recorria a viagens em hotéis estrelados.


O tempo de que disponho — esta a verdade — é para ‘gastar’ em gente que cuide de mim, dado que já não me dou ao luxo de sair de casa.


Ideia é navegar por esse mundo do pensamento pouco conhecido e descobrir lindezas que nos enriqueçam. Riquezas que o Leão não pode ‘morder’.


As borboletas da dúvida voam à minha volta: daí a dificuldade de encerrar esta crônica. 


Preciso me revestir de uma couraça para tomar esta decisão difícil: estou a me privar de um dos prazeres que mais curto: ausentar-me do ato de escrever.


A vida é uma colcha de retalhos, envelopada com as experiências do dia a dia. O que nos está reservado para o dia de amanhã, quem é que sabe, senão Deus?


Vou interromper minhas crônicas por alguns dias.


Pretendo voltar energizado, disposto a lançar luzes sobre este período de reflexão.


Ah, prometo não recorrer ao estilo de ‘prontuário médico’! Agradeço-lhes a compreensão. 


Gabriel Novis Neves

13-3-2024




terça-feira, 12 de março de 2024

FONTE DE INSPIRAÇÃO


De uns tempos para cá, descobri que, deitado na cama, esperando o sono chegar, tenho tido muita ‘disposição’ para escrever.


Tudo que leio, ouço e converso durante o dia, pode me servir de ‘inspiração’.


Ouvindo música pelo ‘youtube’, a cuidadora, sentada no sofá, papeando com alguém ao fone de ouvido, começou a teclar a minha nova criação no iPhone.


Tudo por extrema necessidade de ‘esvaziar’ meus neurônios, cheios de informação.


Não me detenho à pontuação e fico concentrado no tema que elegi para a nova crônica.


Quando sinto que o sono vem, de mansinho, chegando, encerro meu trabalho.


Àa vezes, chego a findar a crônica. Outras, deixo os últimos retoques para a manhã do dia seguinte, tão logo abro o computador.


Faço uma ‘revisão geral’. E outras, mais específicas, para ‘temas especiais’, ao exemplo de psiquiatria, filosofia, teologia e estilística gramatical.


Cada pasta me é muito importante quando acionada, pois não sou um ‘sabe-tudo’, mesmo quando o tema cuida de medicina.


Terminei há pouco a minha gostosa soneca após o almoço. Como choveu esta madrugada, e continua a chover, o sono me foi reparador.


Ao meu lado, o tradicional chá de camomila com erva-doce, que a cuidadora tem o maior zelo de me trazer todas as tardes. 


Dou graças a Deus por me ter ensinado como viver bem o dia. Aliás, nem chego a ver o tempo passar.


Sinto que fui premiado — já lá se vão treze anos — com um jeito digno e especial para o entardecer dos meus dias.


Iniciei a escrever essas peripécias do cotidiano despertado por meu caminhar pelas ruas, avenidas e becos de minha cidade. 


Além desta temática autobiográfica, que agasalha aspectos do meu passado, tento abordar outras matérias com conteúdo variado.


Nesse andar, sem atropelos, espero que, quando a noite chega, possa estar sob o influxo de nova ‘inspiração’.


Assim, a vida caminha de forma serena para mim. Difícil — chego a pensar — de ser entendida por quem não se abeira do meu dia. 


A meu ver, ‘escrever’ é parte, hoje, de minha maturidade. Tenho comigo que, ao mesmo tempo em que isso me realiza, tem o dom de proporcionar a meus leitores um bocadinho de afago.


Só eu sei como me faz bem!


Gabriel Novis Neves

12-3-2024




domingo, 10 de março de 2024

QUE CHUVARADA!


Graças a Deus, nesses últimos dias desabou uma chuvarada daquelas em Cuiabá.


Prefiro que ‘o pé-d’água’ venha durante o dia. Quero sentir o forte vento batendo portas e janelas abertas. E mais: olhar o firmamento cinza-escuro com raios e trovões.


Pena que todo esse ‘escândalo’ foi por um curto tempo! Logo, estou certo disso, ela voltará.


O céu, em toda a extensão, continua chumbo, com a chuva bem distante. Na cobertura, as flores do meu jardim já saltitam de alegria. E agradecem!


As duas trepadeiras que embelezam os balaústres de concreto, se animaram. Tudo fica lindo quando chove por aqui!


Em razão das ‘bocas de lobo’ entupidas — um puro desleixo administrativo —, a sujeira se acumula nas ruas e avenidas, o que embaralha ainda mais o trânsito. Mas que vale a pena chover, ah, isso vale!


De onde moro, tenho ilusão de uma ‘cidade verde’, que um dia Cuiabá foi!


Lembrei-me de minha bela infância e dos brinquedos no ‘córrego da Prainha’, que foi aterrado e transformado em avenida.


Igualmente da ‘garimpagem’ do ouro e do seu comércio na ‘Casa Miraglia’.


Como me esquecer da correnteza das águas que escorriam por nossas ruas! Tudo que encontrava, era levado de roldão. Ah, como era gostoso ouvir o barulho das pedrinhas rolando!


Vem-me à mente o lindo ‘assanhamento’ das nossas aves e pássaros! Fazem uma algazarra só!


O Sol não apareceu ainda. Mais um pouco, todo vestido de ouro, vai se recolher para regressar amanhã. Isso se não chover!


A Lua não está com jeito de sair de casa hoje, espantada pelo mau tempo!


É de dar pena o que as chuvas fizeram na estrada que nos conduz a Chapada dos Guimarães!


Bem no trecho do ‘Portão do Inferno’, houve um sério deslizamento de terras, impedindo até o tráfego de veículos pequenos.


Ainda bem que, na virada do ano-novo, cercado de dificuldades e controle, esse tráfego foi restabelecido.


Mas, mãos aos Céus! Não houve vítimas. Felizmente! E a festa foi linda na ‘Chapada remoçada’! Como sempre!


Que Deus ouça Antônio Carlos Jobim e alongue este período até as ‘águas de março’!


Gabriel Novis Neves

11-3-2024




sábado, 9 de março de 2024

A CONTADORA


Depois que troquei o escritório de contabilidade, nunca mais tive problemas com a minha declaração do imposto de renda.


Minha excelente contadora é graduada em contabilidade por nossa Universidade. 


Este ano conquistei, todo feliz, um recorde: nunca lhe tinha sido o primeiro cliente a fazer a declaração do IR.


O número 1 do pódio sempre coube a uma médica, por sinal minha contemporânea. Ela, a detentora do troféu.


Pessoas de idade provecta são muito ansiosas e não deixam para amanhã o que podem fazer hoje. Querem resolver, de um tapa, todos os problemas que têm pela frente. 


Mesmo que a Receita Federal tenha prorrogado para maio a entrega da declaração, no terceiro dia da abertura do programa fiz questão de entregar a minha.


A próxima preocupação será em julho, quando devo fazer a “prova de vida”, torcendo por que a roda da existência continue a girar.


Descobri, na ida à contadora, um novo site inteligente, capaz de responder a perguntas que jamais supunha atinar.


É competente pra responder a qualquer indagação. Seja exemplo o desejo de escrever uma poesia sobre a cidade de Cuiabá.


Ainda que o Google seja uma marca internacional — muito mais rápido que eu pudesse imaginar —, hoje contamos, para nos auxiliar, com a inteligência artificial!


Pareceu-me ter ficado bem mais simples obter informações e estudar, bastando apenas ter um celular à mão.


Vejam só: descobri que nasceu em Vitória, no Espirito Santo, outro Gabriel Novis Neves. Tinha um ano mais novo que eu. 


Curioso: era médico, formado na mesma universidade onde cursei. Mais: especialista em infectologia e clínica médica. Pena não o tenha conhecido em vida.


O meu irmão Pedro Novis Neves, autor do livro “Raízes do Passado”, esteve pesquisando na Europa em catálogos telefônicos de hotéis, arquivos públicos, cartórios de cidades por onde passava. Intento era encontrar pistas a propósito do sobrenome ‘Novis’.


Agora, com um simples clicar do celular, tenho as mais sofisticadas informações das mais diferentes partes do mundo.


Quantas práticas tecnológicas caíram em desuso nestes últimos quarenta anos! E quantas surgiram e se multiplicaram nos últimos vinte!


Às vezes me pego a matutar com os meus botões: como será a Terra daqui a dez ou vinte anos? Nem é possível imaginar!


Só tenho uma convicção absoluta: o homem é uma criatura findável. Talvez para que o mundo continue a criar outras — e mais outras — mudanças em todos os sentidos.


Gabriel Novis Neves

10-3-2024




sexta-feira, 8 de março de 2024

O PRIVILÉGIO


Aqueles que me seguem pelo Bar do Bugre — blog onde publico minhas crônicas do cotidiano —, capitalizam a meu favor este desejo: continue ‘de bem’ com a vida.


Agrada-me esse carinho. Mas não creio que bate com a verdade: ao longo da minha longa vida, nunca estive ‘de mal’ com ela.


Enfrentei dificuldades no decorrer dos meus dias, mas sempre ‘de bem’. Nem de longe cheguei a pensar em ficar de mal com ela.


Não me era próprio pensar no envelhecer, no adoecer. Nem mesmo no ter os meus movimentos limitados.


Tive medo, sim. Sobretudo o de sofrer humilhações financeiras na última fase da existência.


Quantos casos conheço de pessoas que trabalharam a vida toda e, entradas na aposentadoria, precisaram da ajuda financeira de terceiros para arcar com seus compromissos.


A tanto é que chamo de humilhações financeiras, em especial aos que já navegam a nau dos setenta anos. 


Nessa altura, mesmo uma pessoa saudável tem sua despesa de farmácia elevada. Some-se a ‘extra’ com os cuidadores, que nos atendem vinte e quatro horas ao dia.


Para os longevos, ter um  fisioterapeuta é necessidade que se inicia nas academias. Depois, isso se dá em casa, onde o preço se agiganta.


O velho —  isso parece ser frequente — mora em apartamentos espaçosos com seus filhos. Há dos que continuam a residir em casas amplas. 


Quando o ninho fica vazio — dado o casamento dos filhos —, a solidão abate o velho. É aí que pensa em mudar para um espaço menor. Intento é minimizar os gastos.


Por vezes, nem consegue isso, pois, com o tempo, foi acumulando um mundo de quinquilharias, o que não lhe permite sair de onde está.


Listei alguns fatos que enfrentei — e que ainda enfrento no meu dia a dia —, sempre abraçando o lado bom da vida.


Fui obrigado a pôr, num segundo plano, alguns prazeres que a juventude tem em conta. É o caso das viagens, algo que sempre me fascinou. Como me dói saber que não as aproveitei!


Minha vida laboral acabou por privilegiar atividades associadas à profissão, relegando tudo quanto se referia a projetos pessoais.


Por isso, embora as falas dos amigos me sejam um afago — e quem não gosta duma palavra carinhosa —, chego a me surpreender.


Os que bem me conhecem, não ignoram que jamais deixei de buscar o que me faz bem. Ah, desde que isso não viesse a se opor aos interesses da comunidade onde vivo!


Gabriel Novis Neves

9-3-2024




CASAS VAZIAS


Durante a ausência domiciliar, por força da internação médica, minha casa ficou aos cuidados da cozinheira. 


Quando retornei, ela me disse da ‘tristeza’ que sentiu por ver a casa deserta. Algo meio sem alma, assegurou. 


Afinal, preparava o almoço com carinho, e não tinha a quem servir.


O silêncio invadia as dependências da casa. Sem vida. Como é triste viver só!


A expressão ‘casa vazia’ me fez lembrar do grande poeta português Fernando Pessoa.


Quando retornou à casa dos pais e ingressou o imenso salão, foi tomado de surpresa! Sim, ele havia se ausentado depois do falecimento deles! Voltou por força do inventário!


Seja dita a verdade: não reconheceu sua casa! Os que nela residiam, já tinham feito a lição terrena. E o que ficou, não os representava.


A cadeira de balanço e a máquina de costura, estas nem mais se achavam ali.


Algo à semelhança disso estava sentindo a minha cozinheira quando voltei: feliz por poder conversar e preparar os seus quitutes para mim.


E como é bom saber que minha falta fez tanta falta a ela!


Meu cotidiano forceja por voltar à normalidade, e o faz com muito vagar, em meio aos trancos e solavancos.


Meus exames de análise laboratoriais, bioquímicos e de imagens, tudo nos conformes. Quero voltar a fazer aquilo que fazia, embebido de mais alegria e prazer.


No tentar identificar o motivo do mal-estar que me abate, a enfermeira julga que isso se deve à dose cavalar de antibióticos com que me bombardeei.


Pergunto-me: por que é que a gente adoece, mesmo cuidando — e muito bem — de nossa saúde?


Na verdade, busco driblar esse mal-estar que tanto me atormenta. Saída é escrever este pequeno texto, ao modo de placebo.


Em tempo: jamais havia atravessado por um atalho desses. Quero, rápido, voltar a meus afazeres do dia a dia, pois os serviços teimam em se avolumar.


A meta agora — Deus olhe por mim! — é regressar logo à vida costumeira. Que saudades da casa cheia de gente e barulho! Já estou ansioso. Podem vir!


Gabriel Novis Neves

8-3-2024




quarta-feira, 6 de março de 2024

PROFISSÃO E MÃO DE OBRA ESPECIALIZADA


Aí dois enfoques do trabalho que têm o mesmo fim, ainda que diferentes quando se trata do custo ao consumidor.


O pessoal da mão de obra especializada possui, em sua maioria, ensino fundamental e médio, quando os possui.


Pelo serviço, cobra o que bem lhe apetece.


No que toca aos portadores das mais variadas profissões, exige-se deles o ensino superior em universidades, com registro em seus conselhos. Sem isso, não poderão exercê-las.


Os honorários dependem de tabelas. Fornecem recibo pelo serviço prestado.


Tais diferenças incentivaram o surgimento de ‘profissões invisíveis’, com remuneração bem maior.


Por não possuírem carteira assinada, descontam como autônomos com vista à aposentadoria pelo INSS.


Há bem tempo, elas só vingavam nos grandes centros urbanos, a exemplo de São Paulo e do Rio de Janeiro. Hoje se dissemina pelas capitais dos Estados.


Interessante que, quando precisamos dos serviços de ‘profissionais invisíveis’, a ajuda de intermediários é de lei.


Diferentemente ocorre com os de mão de obra especializada: a indicação é sempre do porteiro do edifício.


Quando se cuida dos profissionais com ensino superior, a gente se socorre sempre de um colega.


Sendo médico, passei pelo estreito e difícil corredor do vestibular, seguido por um curso de seis anos. Depois, frequentei três anos de residência médica. Só aí ingressei no mercado de trabalho, cara a cara com uma competição desumana.


Para ‘sobreviver’, o médico recém-formado é obrigado a atender no SUS, sob o jugo de tabelas ridículas. Adicione a tanto um plano de saúde também com suas tabelas irrisórias.


Ele tem de ir ao encontro de um dilúvio de pacientes por dia! Tão só para ‘sobreviver’.


O médico principiante não dispõe de clínica particular, cada vez mais rarefeita. Só o conseguirá se portar erguida especialização e demonstrar competência, o que implica uns vinte anos de serviços.


Há honrosas exceções.


Ressalte-se que, no caso da mão de obra especializada e das ‘profissões invisíveis’, quanto mais jovens são, mais ganham.


Convoquei um gesseiro para retocar um pedaço da parede do ar-condicionado da copa. O isopor, provisório, se estilhaçou com a ventania última.


A indicação do jovem, quem o fez foi o porteiro. O custo desse trabalho de quase uma manhã beirou a hora da morte. 


Curioso por saber o preço? De longe maior que o de um médico que atende aos pacientes do SUS e de convênios.


Alguém poderia, por favor, me explicar essa diferença de custos por serviços prestados? Com a palavra, os economistas!


Gabriel Novis Neves

7-2-2024