quinta-feira, 3 de julho de 2025

FILHOS DO GABRIEL


Estou prestes a entrar na casa dos noventa.

 

Recebi dos meus filhos — Monica, Ricardo e Fernando — uma carta lamentando minha decisão de não comemorar, com festas, essa data tão importante.

 

Publicarei o manifesto deles, para registrar os seus sentimentos.

 

O ANIVERSÁRIO QUE MEU PAI NÃO QUER:

 

Com os noventa anos chegando, achamos — nós, os filhos — que era hora de preparar uma festa.

 

Não uma festa qualquer. Uma celebração à altura da vida extraordinária do nosso pai.

 

Mas, para nossa surpresa, ele recusou. Disse que não quer festa. Que prefere o silêncio. Que não tem saúde para isso.

 

Tentamos argumentar:

 

“Pai, noventa anos não se fazem todos os dias! ”

 

“Vai ser algo simples, só os íntimos! ”

 

“Nem discurso precisa fazer! ”

 

Ele sorri, desvia o olhar e volta ao escritório.

 

Às vezes escreve crônicas sobre esse dilema. Outras vezes apenas fica ali, em silêncio, com o tempo.

 

Ficamos divididos. De um lado, o desejo de comemorar sua vida com abraços, histórias, bisnetos correndo, risadas soltas.

 

De outro, o respeito profundo por esse homem que sempre soube o que queria — e agora quer paz.

 

Não é birra. É escolha. Uma escolha madura, lúcida, silenciosa — como um ponto final bem colocado.

 

Mas e nós, os filhos? O que fazer com a alegria que transborda? O que fazer com os amigos que perguntam onde será a festa?

 

Pensamos, então, em transformar a festa em outra coisa:

 

Uma carta coletiva, talvez. Um café da manhã com poucos. Um livro de homenagens. Uma serenata na porta — baixinha, respeitando o repouso.

 

Se ele permitir, será bonito.

 

Se não permitir, também será.

 

Porque aprendemos com ele que a vida precisa de tempo.

 

E que o verdadeiro presente é respeitar o ritmo de quem amamos”.

 

Filhos de Gabriel

29 de junho de 2025




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.