Estou prestes a entrar na casa dos noventa.
Recebi dos meus filhos — Monica, Ricardo e Fernando — uma carta lamentando minha decisão de não comemorar, com festas, essa data tão importante.
Publicarei o manifesto deles, para registrar os seus sentimentos.
O ANIVERSÁRIO QUE MEU PAI NÃO QUER:
Com os noventa anos chegando, achamos — nós, os filhos — que era hora de preparar uma festa.
Não uma festa qualquer. Uma celebração à altura da vida extraordinária do nosso pai.
Mas, para nossa surpresa, ele recusou. Disse que não quer festa. Que prefere o silêncio. Que não tem saúde para isso.
Tentamos argumentar:
“Pai, noventa anos não se fazem todos os dias! ”
“Vai ser algo simples, só os íntimos! ”
“Nem discurso precisa fazer! ”
Ele sorri, desvia o olhar e volta ao escritório.
Às vezes escreve crônicas sobre esse dilema. Outras vezes apenas fica ali, em silêncio, com o tempo.
Ficamos divididos. De um lado, o desejo de comemorar sua vida com abraços, histórias, bisnetos correndo, risadas soltas.
De outro, o respeito profundo por esse homem que sempre soube o que queria — e agora quer paz.
Não é birra. É escolha. Uma escolha madura, lúcida, silenciosa — como um ponto final bem colocado.
Mas e nós, os filhos? O que fazer com a alegria que transborda? O que fazer com os amigos que perguntam onde será a festa?
Pensamos, então, em transformar a festa em outra coisa:
Uma carta coletiva, talvez. Um café da manhã com poucos. Um livro de homenagens. Uma serenata na porta — baixinha, respeitando o repouso.
Se ele permitir, será bonito.
Se não permitir, também será.
Porque aprendemos com ele que a vida precisa de tempo.
E que o verdadeiro presente é respeitar o ritmo de quem amamos”.
Filhos de Gabriel
29 de junho de 2025
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