Quem lê os meus textos, sempre emoldurados por uma flor do meu jardim, talvez não imagine que o hábito de cultivar jardins em casa é uma herança do meu bisavô materno — Marechal Américo Rodrigues de Vasconcelos
Foi ele, engenheiro militar, quem, ao final do século XIX, veio do Rio de Janeiro para Cuiabá acompanhado da esposa argentina Leonarda Fernandez e da filha única Eugênia, nascida no Rio de Janeiro.
Sua missão: construir o primeiro jardim público da cidade.
O então presidente da Província de Mato Grosso solicitou ao governo de Deodoro da Fonseca, apoio técnico e financeiro para transformar o largo em frente ao Palácio do Governo, em um belo jardim, conferindo à capital ares de cidade desenvolvida.
Minha avó Eugênia logo se apaixonou por um filho da terra — Gabriel de Souza Neves, e casaram-se.
Dessa união nasceram dez homens e cinco mulheres.
Meu bisavô importou da Europa um coreto e um chafariz.
Trouxe palmeiras imperiais de Petrópolis e árvores floridas da região.
Canteiros repletos de rosas coloridas completavam o cenário.
O entusiasmo tomou conta da cidade. No dia 28 de setembro de 1882, na inauguração, o Presidente Alencastro, batizou o local de Praça Alencastro.
Durante muito tempo os cuiabanos o chamavam simplesmente de Jardim.
Mesmo já médico, em 1960, eu ainda passeava por lá. Até hoje, costumo dizer ‘vou ao Jardim’, em vez de ‘à Praça’.
Era o ponto de encontro da sociedade cuiabana, antes da televisão.
Após o jantar, famílias inteiras iam ao Jardim. Os filhos adolescentes conversavam nos bancos de concreto, enquanto as moças paqueravam entre as alamedas floridas.
Às quintas e domingos, havia retreta no coreto: banda da Polícia Militar em uma noite, do Exército na outra.
As moças do bairro do Porto vinham conversar e namorar.
Muitos casamentos e amizades começaram ali.
Os jardineiros da Prefeitura zelavam com esmero por aquele paraíso urbano.
Nos primeiros tempos, o Jardim era gradeado para impedir a entrada de animais de grande porte.
Meu bisavô ainda deu início a outras obras públicas: a Fábrica de Pólvora no Porto, o calçamento das ruas e o abastecimento de água.
Com a posse de Floriano Peixoto, ele retornou ao Rio de Janeiro com a esposa.
Deixou, como herança esse carinho que até hoje cultivo pelos jardins.
Gabriel Novis Neves
10-07-2025
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