terça-feira, 15 de julho de 2025

O OFÍCIO DE ESPERAR


Na rotina da minha escrita carrego o ofício de esperar a palavra. É comum que ela escorregue por entre meus dedos repousando na folha em branco do papel.

 

Mas nem sempre se deixa esperar.

 

A espera da palavra nem sempre é um momento agradável.

 

Mil pensamentos percorrem meu cérebro, desviando a atenção daquela que tanto desejo.

 

Esperar a palavra exige paciência — e muito equilíbrio emocional.

 

Hoje estou num desses dias. Olho de lado, sobre minha mesa, e vejo os livros de crônicas que recebi ao completar noventa anos, dias atrás.

 

Neles, as palavras estão lá, arrumadas por especialistas da gramática e do bem escrever.

 

São tantos os assuntos, que estarei entretido por alguns meses. Não são textos curtos como os meus, de trezentas palavras.

 

Confesso que tenho inveja de Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rubem Braga — para lembrar apenas de alguns.

 

Parecem nunca ter ficado à espera da palavra no ofício de escrever.

 

Essa minha paciência de hoje é fruto da força de vontade que conquistei com a maturidade, para suavizar meus dias.

 

Foi o caminho que escolhi para que o tempo passasse sem traumas — e em paz com ele.

 

Esperar, em qualquer contexto, é tarefa para os fortes — seja na caça, nos jogos ou na literatura.

 

O xadrez é exemplo claro: ali, conhecimento e a arte da espera caminham lado a lado.

 

O silêncio também é parte da espera — na caça, no jogo, ou na escrita.

 

Na escrita, lanço mão de estratégias para vencer a demora da palavra necessária.

 

Vou alinhavando palavras, até conseguir construir uma frase.

 

Conecto outras, coerentes, e contemplo o resultado final.

 

Está concluído com êxito o ofício de esperar a palavra — e o texto pronto para ser apreciado.

 

Gabriel Novis Neves

14-07-2025




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