Passeando por Cuiabá constatei uma enormidade de ruas que mudaram com o tempo.
Muitas tornaram-se irreconhecíveis.
Onde estão as famílias que moravam nas ruas de Baixo, do Meio, de Cima?
O local onde fui educado não existe mais — e eu perdi minhas raízes emocionais.
Casas vazias, com portas e janelas fechadas. Abandonadas. Demolidas. Muitas funcionam hoje como estacionamento de veículos.
As casas em que nasci e cresci não existem mais. As dos meus avós, também não.
Ruas antes movimentadas, com residências familiares, estão com as portas e janelas cerradas. Sem moradores. Sem cuidadores.
Fico preocupado com as ruas do centro da cidade — onde todos viviam.
Seus antigos moradores buscaram outras áreas para construir suas casas, nos chamados condomínios fechados, bem distantes do nosso Centro Histórico.
Outros se isolaram nos espigões de concreto armado, onde a convivência social ficou muito a dever.
Costumo dizer que a minha cidade passou de vinte e dois mil habitantes em 1935 — ano em que nasci —, para mais de seiscentos mil nos dias atuais. Tornou-se uma cidade sem alma.
Do bairro mais glamoroso, Popular, até a casa da minha filha, em um dos recentes condomínios, levo vinte e cinco minutos de carro, sem trânsito.
Daqui há dez anos, não sei como serão as ruas onde fui criado.
Daquela cidade pacata e nostálgica — das serenatas e das músicas chorosas tocadas nas rádios...
Dessa minha cidade conto histórias aos meus bisnetos.
Eles têm dificuldades em compreender tamanha transformação neste mundo globalizado.
Até a menorzinha, com pouco mais de um ano, já está visitando Roma — e deu seus primeiros passinhos lá.
Cuiabá virou uma cidade sem esquinas, onde sempre se encontrava um conhecido para uma boa conversa.
As praças outrora lugares de recreação e distração, transformaram-se em espaços perigosos, ocupados por criminosos e malfeitores.
Da ‘minha terra agarrativa e linda’, como diziam os poetas cuiabanos, restou o texto no Instituto Histórico de Mato Grosso.
Gabriel Novis Neves
25-07-2025
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