Eram pequenos comerciantes que fazem parte das lembranças da minha infância. Sabiam de tudo sobre a vida dos moradores.
Vendiam pequenos objetos pelas calçadas, quando não de porta em porta. É com saudade que me lembro do tempo em que vendia jornais percorrendo as ruas da cidade.
Com o tempo passei a saber quem os compraria — uns para me ajudar, outros por hábito de leitura.
Fui vendedor ambulante das mangas colhidas no quintal da minha casa, na rua do Campo, assim como dos pastéis feitos pela minha mãe.
Esses vendedores tornavam-se amigos dos fregueses, chegando até a trocar confidências.
A cidade sentia falta e nutria simpatia por aqueles pequenos comerciantes.
Com o crescimento urbano aos poucos eles foram desaparecendo.
O vendedor ambulante caminhava sem ponto fixo — o seu comércio era o movimento.
Hoje ainda encontramos alguns vendedores nas calçadas em pontos fixos, geralmente oferecendo comestíveis: cachorro-quente, churrasquinho, pipoca, caldo de cana, milho assado.
As calçadas passaram a ser território apenas de transeuntes apressados.
O velho guarda na memória um passado saboroso — e que não volta mais.
E a saudade dói.
Sempre que penso na Cuiabá de outrora, sinto tristeza por aquela cidade tão boa para se viver, sem violência ou crimes.
Ela tinha donos: seus moradores, todos amigos entre si.
Era uma cidade acolhedora, que recebeu com carinho seus migrantes — portugueses, espanhóis, italianos, franceses, libaneses, armênios, turcos e japoneses — formando uma única família.
Inicialmente ocuparam todo o nosso Centro Histórico, onde montavam seus comércios e moravam nos fundos das casas.
Depois expandiram-se pela rua 13 de Junho até a 15 de Novembro, no Porto.
Tinham um cuidado especial com a educação dos filhos, não medindo esforços para que concluíssem o ensino superior.
A rede de saúde e os estabelecimentos médicos da cidade hoje estão repletos de descendentes desses migrantes.
Os humildes vendedores ambulantes de antigamente, muito fizeram para o desenvolvimento de Cuiabá.
A eles devemos boa parte da miscigenação do nosso povo e de tantas conquistas sociais.
Gabriel Novis Neves
24-07-2025
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