Logo que me casei eram os filhos que faziam a bagunça em minha casa. Depois vieram os netos. Agora são os bisnetos que alegram o ambiente quando aparecem por aqui.
Na fase dos filhos, a bagunça era permanente. Com os netos, acontecia nos fins de semana.
Com os bisnetos, apenas de vez em quando.
A alegria de uma casa vem da presença das crianças — e como é bom senti-la!
Casa sem criança é casa sem vida.
Passei a maior parte da minha vida em lares animados pela desordem feliz dos pequenos.
Na velhice, precisei me reinventar para me acostumar com o silêncio —companheiro constante onde antes reinava a algazarra.
Hoje, os sons que ouço vêm das ruas.
Pela manhã são os cantos dos pássaros, os latidos dos cães e os ruídos dos veículos que passam.
Às vezes, chega aos meus ouvidos a melodia distante de uma moda caipira.
E isso me leva a uma tristeza de dar dó!
Lembro-me dos tempos em que todos tínhamos rádios, que espalhavam essas melodias pela casa.
Meu pai possuía uma enorme eletrola no bar, onde giravam os discos de vinil em 78 rotações por minuto —lado A e lado B.
A música de maior sucesso ficava no lado A; a outra, no B, apenas completava o disco.
Em casa nos reuníamos para escutar a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, com seus programas inesquecíveis: informativos, novelas, auditórios animados e transmissões de futebol.
Os ouvintes criavam, em sua imaginação, os cenários daquilo que escutavam. E o rádio preenchia de vida a bagunça dos lares.
Ouvíamos os cantores do rádio com seus reis, rainhas e princesas.
Saudosos tempos em que a imaginação nos conduzia à alegria e ao bem-estar.
Com a televisão, caímos na realidade. A beleza passou a habitar estúdios distantes da nossa cidade.
Os artistas do rádio, que nos faziam fantasiar a vida, desapareceram com o advento da imagem.
E as românticas serenatas que nos acordavam para sonhar...sumiram com a chegada da cidade grande.
Gabriel Novis Neves
20-07-2025
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