terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

CARNAVAL DOS IDOSOS


Li uma matéria oficial, com abundâncias de fotos, sobre o Baile de Carnaval para Idosos organizado pela prefeitura de Cuiabá. O evento foi realizado no ginásio do bairro Dom Aquino e reuniu os integrantes dos quatro Centros de Convivência para Idosos da capital.
Segundo a matéria, o pessoal da terceira idade - ou da melhor idade – (como os órgãos públicos costumam classificar os idosos), se divertiu muito, compareceu à caráter e dançou a tarde toda. Para os organizadores essa festa promoveu alegria e fez com que os idosos esquecessem-se dos seus problemas.
Pois bem. Quero abordar dois pontos com relação a este evento.
Primeiro: a Organização Mundial de Saúde (OMS) não adota os termos “terceira idade” ou “melhor idade” quando se refere aos idosos. Isto é uma invenção genuinamente brasileira.
De acordo com a OMS, esta etapa da vida – que começa aos 65 anos de idade – é chamada de velhice. E seus integrantes são os velhos, ou idosos.
Se analisarmos melhor aqueles termos, facilmente chegaremos à conclusão que se trata de um eufemismo. Ninguém rotula com eufemismo algo ou alguém que seja bom. Só o que é ruim merece um título delicado.
Sempre lutei contra qualquer tipo de discriminação. A expectativa de vida aumentou no planeta. Hoje é frequente encontrar profissionais liberais, empresários, políticos, escritores, artistas e jornalistas, em plena atividade produtiva após os oitenta anos.
Alguns países aumentaram a idade de aposentadoria para setenta e cinco anos, e o Brasil pensa seriamente nessa solução.
Apesar de a prefeitura ter colocado ônibus à disposição dos idosos, notava-se facilmente, pelo número de cadeiras vazias e alguns pares no salão, o fracasso da empreitada.
Os próprios organizadores do carnaval dos idosos, confessaram a sua surpresa frente à pequena adesão da turma da melhor idade.
Segundo ponto: seria até louvável por parte dos governantes a organização desses eventos para idosos, desde que, paralelamente, as leis existentes em benefício deles fossem rigorosamente cumpridas.
Mas, como os idosos são praticamente esquecidos pelas ações sociais públicas, torna-se vergonhosa essas ações demagógicas.
Ações como: assistência médica, distribuição de medicamentos, asilos ou casas de repouso, programas de lazer com fisioterapia, orientação familiar, nutricional e psicológica, não constam na cartilha do nosso idoso, embora previsto em lei.
Na verdade o idoso só tem direito à própria morte e a essas festinhas pejorativas.
A imagem que me passou dessa festa, que é o símbolo maior da alegria do brasileiro, foi a de um funeral.
Suspeito que os organizadores realizaram esse baile na melhor das intenções. Talvez na crença de que a fantasia do carnaval fizesse a turma da melhor, ou, da terceira idade, esquecer-se dos inúmeros problemas vindos com esta etapa da vida. E, o mais dramático – que se esquecesse dos direitos que lhe é devido.
Idoso é idoso, com as suas peculiaridades e limitações. Não há necessidade de rotulá-los com eufemismos – que nem eles acreditam. O que é necessário fazer é respeitá-los – dando a eles os direitos que a lei lhes concede.
Vamos rever alguns conceitos, começando com o idoso?

Gabriel Novis Neves
18-02-2012

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