Leandro
Narloch nos relata que "os primeiros sambistas, considerados hoje
pioneiros da nossa cultura popular, tinham formação em música clássica,
plagiavam canções estrangeiras e largaram o samba para montar bandas de
jazz."
Costuma-se
contar a história do nosso samba em dois momentos opostos:
"O
primeiro, quando os sambistas eram perseguidos pela polícia - que reprimia
manifestações culturais dos negros - e obrigados a tocar escondidos, em vielas
dos morros e fundos dos quintais."
"No
segundo momento - acontece o contrário, e o governo passa a incentivar o
carnaval e as músicas populares."
O
antropólogo Hermano Viana revelou que "o samba, em sua origem, tinha muito
pouco do folclórico ou nacionalista."
"A
cara que o samba tem hoje, de símbolo de “autenticidade brasileira” e de
resistência da cultura negra dos morros cariocas, é uma criação mais recente,
que de certa forma abafou a primeira."
Afirma
Viana, em “O Mistério do Samba, que “nunca existiu um samba pronto,
autêntico, depois transformado em música nacional.
"Um
exemplo de que o primeiro samba não tinha nada de folclórico são os dois
primeiros personagens desse estilo musical: Pixinguinha e Donga, que em 1917
registrou o primeiro samba gravado na história."
"Os
dois começaram a tocar juntos na década de 1910, provavelmente na casa da
baiana Hilária Batista da Silva, a tia Ciata, na Praça Onze, centro do Rio de
Janeiro."
"O
quintal dessa casa é apontado frequentemente como “o berço do samba,” o lugar
que abrigou o nascimento mítico desse novo estilo musical."
"Nessa
época “samba” significava um evento, uma festa, e não um tipo de música."
O
novo estilo saiu da criatividade daquele grupo de amigos que, à noite e nos
finais de semana, iam para a casa da tia Ciata.
"O
samba ali produzido lembrava mais o maxixe. “Pelo telefone,” lembra mais o maxixe
que a percussão das escolas de samba." Estourou no carnaval de 1917.
Em
1919, Donga e Pixinguinha criaram a banda os Oito Matutos.
Durante
mais de um ano tocaram em Paris - onde Pixinguinha ganhou um saxofone -, e em
Buenos Aires (1922-1923).
Os
Oitos Batutas ficaram apaixonados pela música internacional, "como o
músico Sinhô, que foi uma espécie de Roberto Carlos da década de 20. Sinhô
tinha o apelido de “o rei do samba.”
Escreveu
o poeta Manuel Bandeira sobre o sambista: “Sinhô encantou o Rio de Janeiro
compondo valsas, maxixes, fox, charliston, toadas, fados, e chegou a gravar
samba com orquestras. Suas marchinhas carnavalescas eram quase cópias de
canções européias.”
Assim
era o samba brasileiro - inspirado nas novidades européias e americanas.
Futuramente
surge o samba nacionalista, onde predominava a patrulha ideológica.
Finalizo
essas breves citações com um rápido, porém delicioso, debate entre Donga - o
rei do primeiro samba - e Ismael Silva, o cofundador do segundo estilo.
- Qual o verdadeiro samba? - Pergunta Ismael
- Ué - responde Donga - samba é isso há muito tempo: “O chefe da polícia, Pelo
telefone, Mandou-me avisar, Que na Carioca, Tem uma roleta para se jogar...”
- Isso é maxixe – contesta Ismael.
- Então o que é samba?
- “Se você jurar, Que me tem amor, Eu posso me regenerar, Mas se é, Para
fingir, mulher, A orgia, assim não vou deixar.” – responde Ismael.
- Isso é marcha! – brada Donga.
Maxixe,
marcha, samba... não importa como eles nomeavam as suas músicas – todas tinham
uma bela musicalidade e letras impecáveis.
Pensar
que o grande sucesso deste carnaval é: “Ai, se eu te pego...”
Gabriel
Novis Neves
17-02-2012
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