Leandro
Narloch nos diz que, “durante os três primeiros séculos da conquista
portuguesa, nenhuma família teve mais poder na vila, que deu origem a Niterói,
no Rio de Janeiro, quanto os Souza”.
O
interessante é que os membros da família Souza, não eram descendentes de nenhum
poderoso fidalgo português.
O
homem que criou a dinastia dos Souza de Niterói chamava-se Araribóia. Era o
cacique dos índios temiminós, que ajudou os portugueses a expulsar os franceses
e os tupinambás do Rio de Janeiro.
Com
a guerra vencida, muitos temiminós e tupiniquins foram batizados, e adotaram um
sobrenome português.
Araribóia
virou Martim Afonso de Souza (em homenagem ao primeiro colonizador do Brasil) e
ganhou a sesmaria de Niterói, onde alojou a sua tribo.
Menos
de cem anos depois, seus descendentes já não se viam como índios: eram os Souza,
e faziam parte da sociedade brasileira. Talvez eles se identifiquem até hoje
dessa forma.
Muitos
historiadores mostram números desoladores sobre o genocídio que os índios
sofreram depois da conquista portuguesa.
Dizem
que a população nativa diminuiu dez, vinte vezes. As tribos passaram por um
esvaziamento, mas não só por causa de doenças e ataques.
Costuma-se
deixar de fora da conta do índio colonial, aquele que largou a tribo, adotou um
nome português e foi compor a conhecida miscigenação brasileira, ao lado de
brancos, negros e mestiços - e cujos filhos, pouco tempo depois, já não se
identificavam como índios.
Por
todo o Brasil, índios foram para as cidades e passaram a trabalhar na
construção de pontes e de estradas, como pedreiros, carpinteiros, músicos,
vendendo chapéus, plantando hortaliças e cortando árvores - e até caçando
negros fugitivos.
Em
2006, o historiador Márcio Marchioro achou documentos com nome, cargo, idade,
profissão e número de filhos dos chefes indígenas na virada do século XVIII
para o século XIX.
São
todos nomes portugueses, antecedidos da palavra “índio”. A escravidão indígena
tinha sido proibida pelo rei D.Pedro II de Portugal em 1680.
Com
a expulsão dos jesuítas do Brasil - 1750 - Portugal resolveu transformar as
aldeias indígenas em vilas e freguesias. Com isso acabou a proibição de brancos
nas aldeias.
Na
Amazônia, quem visita a região se espanta ao conhecer pessoas com cara de índio
que ficam contrariadas ao serem chamadas de índio - 25% da população indígena
da Amazônia já moram em cidades.
Em
2000, a Universidade Federal de Minas Gerais, mostrou que 33% dos brasileiros
que se consideram brancos, têm DNA vindo de mães índias.
Em
outras palavras: embora desde 1500, o número de nativos no Brasil tenha se
reduzido a 10% do original (de cerca de 3.5 milhões para 325 mil), o número de
pessoas com o DNA ameríndio aumentou mais de 10 vezes - escreveu o geneticista
Sérgio Danilo Pena no livro Retrato Molecular do Brasil.
Estes
números sugerem que muitos índios largaram as aldeias e passaram a se
considerar brasileiros.
Hoje,
seus descendentes vão ao cinema, andam de avião, escrevem livros e, como seus
antepassados, tomam banho todos os dias.
Gabriel
Novis Neves
20-12-2011
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