terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Cortes de gastos


Mais uma herança recebida pelo governo da continuidade - um Estado inchado, com previsão orçamentária para este ano superestimada.
O papel sempre aceitou tudo, causando sérios aborrecimentos aos dedicados planejadores, crentes das informações contidas na celulose, especialmente quando oficiais.
Tancredo Neves, que jamais falou ao telefone, mesmo com o orçamento para o seu primeiro ano de governo nas mãos, deu a famosa ordem aos seus ministros -“É proibido gastar.” Ele sabia das coisas.
A fatalidade nos jogou no colo do gastador sucessor, recordista em inflação na história do Brasil - o adorável presidente do overnight. Ninguém trabalhou durante os seus cinco anos de reinado. O melhor negócio era ganhar dinheiro com a inflação.
A realidade do nosso Estado é difícil, pois a arrecadação está abaixo daquela publicada no Diário Oficial. Falta transparência no governo, que deveria deixar clara à população a real situação herdada.
Somos surpreendidos por fontes oficiais, que com essa arrecadação, a única saída para a governabilidade será um sangrento corte de gastos no próprio corpo.
Como sempre, a navalha da moralização financeira atinge pequenos funcionários e os serviços essenciais. São sempre os mesmos que pagam o pato - saúde, educação, segurança, servidor público.
Para quem desconhece que o nosso Estado arrecada abaixo do que gasta e que está longe de atender às nossas principais necessidades, nem desconfia desse descalabro.
É empréstimo de mais de um bilhão de reais para o modal de transporte do Aeroporto ao CPA. Pagamento mensal da nossa dívida com o governo federal e bancos. Mais dívidas autorizadas pela nossa Casa de Leis para as despesas com a Copa, e agora, a criação de novos órgãos, como a bi-falecida LEMAT.
Se a loteria do Estado de Mato Grosso foi fechada por dois governos, é que aí tem. Vi nascer a primeira casa de jogo de azar na minha cidade e depois morrer.
Contrariando Estevão de Mendonça, anos após ela renasce. Morre novamente. Duas experiências respeitáveis no seu curto período de vida, merecedoras de um cuidado especial nessa terceira tentativa em ressuscitá-la.
Dizem que a LEMAT, que é uma casa lotérica, faleceu de causa ignorada em laudo elegante. Entretanto, todos sabem que as causas foram menos nobres...
Gostaria de saber quem vendeu essa velha e fracassada exploração de jogos de azar ao nosso governador.
Com certeza o convencimento veio com os famosos gráficos projetados pelo datashow, mostrando lucros fabulosos para investimento na carente área social.
Milhões de reais para o hospital do Câncer, abrigos de idosos, dependentes químicos, ressocialização do menor infrator, atenção aos moradores de ruas, e tantas outras campanhas educativas somos obrigados a engolir.
Para conseguir essa nova fonte de recursos, o Estado nomeará o presidente da lotérica e um extenso quadro de diretores adjuntos e funcionários comissionados.
Não sou da área de cálculos, mas acredito que essa criação foi mais para atender os correligionários. Será que o lucro do jogo cobrirá as despesas e contará com a credibilidade do consumidor?
Não sei não, mas não querendo ser pessimista, acho difícil esse modelo, que não vingou na baixada cuiabana, ser transformado em sucesso.
Acredito que o governo está comprando mais uma dor de cabeça com esse elefantinho.
Corte de gastos não é por aí - criando despesas -, e sim, acabando com as mordomias e artifícios da governabilidade.

Gabriel Novis Neves
05-02-2012 

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