sexta-feira, 5 de julho de 2013

NOVO BRASIL

Menino de treze anos de idade, classe média alta, pais intelectuais, sempre frequentou os melhores colégios particulares da cidade.
Nunca experimentou o transporte coletivo. O danado vai e volta todos os dias da escola de carro importado dirigido pelo motorista da família.
Disse ao pai que iria à manifestação de rua contra o aumento da passagem do ônibus.
Este, perplexo, perguntou-lhe o que iria fazer na passeata de protesto.
Para melhorar o Brasil, ele respondeu.
O pai ainda tentou argumentar dizendo que ele ajuda a melhorar o país se estudar mais.
Sugeriu que poderia começar pela limpeza do jardim de sua bela e confortável mansão.
“Pai, eu quero melhorar o Brasil, não o jardim da minha casa” – falou o menino.
A mãe ficou toda orgulhosa do filho e não conseguiu disfarçar a sua alegria.
O pai, vencido pelo argumento tão seguro de uma criança de apenas treze anos, começou a concordar com a professorinha do colégio.
Ela disse que na essência desse movimento de massas há uma mistura de construtivismo com a Terra do Nunca.
Essa geração que ocupa as ruas do Brasil, não aceita ouvir um “não”.
Imagina a cena: o jovem estudante vai de carro dirigido pelo seu motorista até o centro da cidade para a passeata de trajeto desconhecido. Paga vinte reais de estacionamento.
Lá, encontra centenas de colegas de turma e outros mais adiantados.
Infiltrados na multidão ordeira, alguns baderneiros, impossíveis de evitá-los nessas manifestações, produzindo atos condenáveis por eles e, muitas vezes, punidos na hora. São os vândalos profissionais rejeitados pelos jovens.
Terminada a manifestação pega o carro e retorna feliz para casa, com a sensação do dever cumprido - o exercício da cidadania.
Este é o novo Brasil que nasce pela falência do atual modelo de governar esta nação.
É o país dos protestos sem faixas e bandeiras de partidos políticos.
Agora são cartazes conduzidos pelos manifestantes com frases como esta: “País rico é país sem corrupção”.
Os jovens sempre foram mais sensíveis que os adultos às mudanças sociais.
Estes, mutilados pelos fracassos de vários movimentos de rua, carregam o inútil sentimento da experiência que, na definição do escritor e médico, Pedro Nava, se assemelha aos faróis de um automóvel virados para trás: na escuridão, só ilumina o passado, nos cegando diante do futuro.
Este é o novo Brasil, assustando os detentores do poder.

Gabriel Novis Neves
20-06-2013

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