sexta-feira, 10 de junho de 2011

BUROCRACIA

Sempre tive pavor à burocracia, o caminho mais curto
para a mediocridade.

Estou pagando um alto preço por esse meu hobby, agora que fiquei viúvo. Todos os dias, por baixo da porta do meu apartamento, encontro uma pilha de correspondência. Ao me agachar para recolher o material, apenas presto atenção se há alguma correspondência da Polícia Federal, da Receita Federal ou do Ministério Público. Essas, abro imediatamente, pois ninguém desses órgãos vai me encaminhar correspondência para me cumprimentar pela vitória do meu Botafogo. As outras, guardo em uma gaveta para depois, quando puder, abri-las para saber o que tenho que pagar.

Esse trabalho de conferir o que recebi, às vezes, é tão alongado, que tenho tido prejuízos materiais, pagando juros de compromissos vencidos, e, até, morais. Sei que isso é uma neurose, e que, como todas, são adquiridas. Só que, neste caso, não me lembro quando adquiri, e nem tampouco o motivo. Nem a análise me ajudou a descobrir. Acho que está na camada do pré-sal do meu cérebro.

Há dias recebi uma correspondência que, ao abrir, verifiquei que ela já estava com a data do evento vencida. Esse fato me abalou profundamente. Era um convite para a solenidade dos 40 anos do Curso de Ciências Contábeis da nossa UFMT. Sinceramente, gostaria muito de ter ido. Estar presente para homenagear ao meu querido professor Edilson Bezerra e ao padre Raimundo Pombo. Aos professores fundadores e colegas de administração, por ocasião da criação do curso de Ciências Contábeis, a minha solidariedade.

Aos mortos, a minha homenagem. Edilson Bezerra foi muito mais que a cara do curso de Contábeis - professor íntegro e de caráter, que adotou Cuiabá como a sua cidade, e, a UFMT, como casa. Não deu, Edilson! No entanto, estarei sem falta na festa das bodas de ouro do nosso Curso. Obrigado padre Pombo pela sua compreensão como presidente do Conselho Estadual de Educação.

Contei esse caso a minha doméstica, que há mais de quarenta anos está cuidando da minha casa, e, principalmente, de mim. Ela acompanhou toda a história da implantação da nossa universidade. Ela percebeu o quanto fiquei aborrecido por essa falha.

A título de consolo ela me disse: - O senhor não tem que ficar chateado. Sei que o senhor gostava daquele cearense que tomou muito café forte e quente feito por mim. Balancei a cabeça em sinal de concordância. Ela continuou: - O senhor não é nenhuma criancinha para lembrar dia de aniversário dos seus coleguinhas. Este comentário me fez sorrir.

Sutilmente, fui chamado de esclerosado. Vou fingir que nem escutei! Mais tarde, pensando no rápido diálogo com minha empregada, percebi que ela estava certa: os idosos são pessoas limitadas, que sempre precisam de ajuda, especialmente de um telefonema lembrando certas datas, assim como fazem nas eleições dos reitores.


Gabriel Novis Neves

03-06-2011

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