Ouço
falar, e sinto na pele, que Cuiabá é uma cidade de clima tórrido.
Só
um bom aparelho de ar refrigerado consegue nos dar condições artificiais para o
exercício de qualquer trabalho.
Nasci
nesta cidade e aqui fui educado até os dezessete anos.
Naquela
época não conhecia ainda esta maravilha tecnológica que regula a temperatura
ambiental.
Algumas
residências possuíam pequenos ventiladores, que não refrigeravam, apenas
espalhavam o calor no seu curto raio de ação.
No
entanto, não me recordo de ter sido incomodado por esse calorão de agora, pois
todas as noites dormia coberto com aquele ralo cobertor de lã comprado nas
Casas Pernambucanas.
Naquele
tempo da minha infância, os servidores públicos, homens de negócios, e até
trabalhadores modestos, usavam nas suas atividades diárias terno, gravata e
chapéu.
Guardo
como relíquia uma antiga fotografia em que um carroceiro transportava lenha com
esse traje.
Os
alunos das escolas públicas, desde o primário, usavam uniforme cáqui, com calça
comprida, camisa branca e paletó.
Nos
dias de festa tínhamos um uniforme mais parecido com farda militar, onde eram
acrescentados gravata e boné.
As
salas de aulas eram espaçosas, com pé direito alto e imensas janelas.
Não
me lembro de alguém reclamando do calor ou transpirando em excesso.
Todas
as crianças iam para a escola e voltavam para casa caminhando e brincando, sem
nunca terem se queixado do sol escaldante de Cuiabá.
Os
anos se passaram e, mesmo para os nativos a nossa ex-Cidade Verde, ela tornou-se
sinônimo de cidade quente, inadequada a uma vida saudável.
Somos
reconhecidos até internacionalmente como uma cidade de calor escaldante.
Tanto
é assim, que durante os jogos da Copa do Mundo na Arena Pantanal, o horário dos
nossos jogos era diferenciado do de outras Arenas.
As
seleções da nossa chave temiam mais o nosso clima que os adversários.
O
que aconteceu com a nossa cidade que mudou para pior com relação ao nosso
clima?
Por
acaso, o sol se aproximou mais de nós?
Nada
disso, fomos nós os causadores desta catástrofe ambiental.
A
falta de uma visão moderna do nosso futuro, onde deveríamos crescer respeitando
o meio-ambiente, foi vencida pela ganância da expansão imobiliária sem
planejamento, acabando com a nossa gostosa Cuiabá.
Pagamos
um preço altíssimo pelo “progresso” da cidade.
Hoje
não somos nem uma cidade histórica, muito menos moderna.
Abrigamos
a volúpia da riqueza e procuramos mentir a nós mesmos.
De
Cidade Verde à Cidade da Mentira, ficamos com o legado do calor insuportável
produzido por nós.
Gabriel
Novis Neves
29-12-2014
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