quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Clima de Cuiabá


Ouço falar, e sinto na pele, que Cuiabá é uma cidade de clima tórrido.
Só um bom aparelho de ar refrigerado consegue nos dar condições artificiais para o exercício de qualquer trabalho.
Nasci nesta cidade e aqui fui educado até os dezessete anos.
Naquela época não conhecia ainda esta maravilha tecnológica que regula a temperatura ambiental.
Algumas residências possuíam pequenos ventiladores, que não refrigeravam, apenas espalhavam o calor no seu curto raio de ação.
No entanto, não me recordo de ter sido incomodado por esse calorão de agora, pois todas as noites dormia coberto com aquele ralo cobertor de lã comprado nas Casas Pernambucanas.
Naquele tempo da minha infância, os servidores públicos, homens de negócios, e até trabalhadores modestos, usavam nas suas atividades diárias terno, gravata e chapéu.
Guardo como relíquia uma antiga fotografia em que um carroceiro transportava lenha com esse traje.
Os alunos das escolas públicas, desde o primário, usavam uniforme cáqui, com calça comprida, camisa branca e paletó.
Nos dias de festa tínhamos um uniforme mais parecido com farda militar, onde eram acrescentados gravata e boné.
As salas de aulas eram espaçosas, com pé direito alto e imensas janelas.
Não me lembro de alguém reclamando do calor ou transpirando em excesso.
Todas as crianças iam para a escola e voltavam para casa caminhando e brincando, sem nunca terem se queixado do sol escaldante de Cuiabá.
Os anos se passaram e, mesmo para os nativos a nossa ex-Cidade Verde, ela tornou-se sinônimo de cidade quente, inadequada a uma vida saudável.
Somos reconhecidos até internacionalmente como uma cidade de calor escaldante.
Tanto é assim, que durante os jogos da Copa do Mundo na Arena Pantanal, o horário dos nossos jogos era diferenciado do de outras Arenas.
As seleções da nossa chave temiam mais o nosso clima que os adversários.
O que aconteceu com a nossa cidade que mudou para pior com relação ao nosso clima?
Por acaso, o sol se aproximou mais de nós?
Nada disso, fomos nós os causadores desta catástrofe ambiental.
A falta de uma visão moderna do nosso futuro, onde deveríamos crescer respeitando o meio-ambiente, foi vencida pela ganância da expansão imobiliária sem planejamento, acabando com a nossa gostosa Cuiabá.
Pagamos um preço altíssimo pelo “progresso” da cidade.
Hoje não somos nem uma cidade histórica, muito menos moderna.
Abrigamos a volúpia da riqueza e procuramos mentir a nós mesmos.
De Cidade Verde à Cidade da Mentira, ficamos com o legado do calor insuportável produzido por nós.

Gabriel Novis Neves
29-12-2014

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