segunda-feira, 1 de junho de 2015

O mundo nas costas


Há indivíduos que padecem de um terrível mal - o de ser receptível à transferência de sofrimentos alheios.
Diante da observação de um grande aborrecimento em pessoas do seu núcleo emocional, ou fora dele, muitas vezes aqueles indivíduos assumem a responsabilidade do fato, mesmo não tendo a mínima participação no ocorrido.
Chegam a sofrer mais que a vítima dos acidentes que a vida nos reserva.
Isso costuma ocorrer em pessoas que desde criança foram condicionadas a um excesso de responsabilidade, tornando-as culpadas de todo o ocorrido à sua volta.
Tenho procurado através dos estudos, encontrar métodos terapêuticos para evitar esse transtorno de absorção de sofrimentos, que é uma disfunção da personalidade.
Diferente da solidariedade, que é o sentido moral de vínculo e ajuda mútua.
Geralmente atinge pessoas tidas como de bom caráter que gostariam que o mundo fosse igual para todos, sem maldades e tristezas.
O choro incontido diante de um mundo hostil, ainda que próximo, é o extravasamento de alguém que pretensamente leva o mundo nas costas.
É comum que esses pacientes apresentem simultaneamente um quadro de dores nos ombros em função desse enorme peso que supõem carregar.
Agregue-se a isso a formação familiar muito rígida, geralmente acompanhada de culpas religiosas.
Mesmo conhecendo o seu mecanismo, que é neurótico, esse é um processo de difícil tratamento pelos métodos psicoterápicos vigentes no mundo ocidental.
Esta doença vai se infiltrando em nosso ser a partir do nascimento e age como defesa, agredida por errôneos processos educacionais.
Em condições ambientais favoráveis ela fica latente, dando a impressão de cura.
Bastou um tropeço de percurso nesta estrada da vida para o vitimado, por mais resistente que seja, desabe num sofrimento intenso não justificável, mesmo em se tratando de pessoas especiais e muito queridas.
A medicina evoluiu muito tecnologicamente, mas continua como nos primórdios da civilização quando o assunto é a emoção.
Apenas a reflexologia, prática psiquiátrica não muito comum entre nós, consegue bons resultados, fazendo o descondicionamento desses reflexos patológicos.
A transferência de sofrimento é bastante frequente e afeta milhões de pessoas no cotidiano.
O cérebro humano, essa caixa preta que vem sendo desvendada muito vagarosamente, com as suas bilhões de conexões nervosas, liberação de substâncias conhecidas, e outras nem tanto, e com seus neurotransmissores, ainda trará muitas surpresas nesse campo.
Confio na ciência e em seus estudiosos pesquisadores, e creio que estamos próximos da compreensão funcional cerebral, que irá possibilitar a paz entre os homens.

Gabriel Novis Neves
05-05-2015

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