sábado, 12 de março de 2011

ACHADO OU PERDIDO

Nas minhas caminhadas diárias pelas ruas e avenidas da ex-Cidade Verde, já encontrei muitos objetos inusitados.

Não sei se foram achados ou perdidos.

A lista dos objetos cada dia aumenta mais, pois a cada manhã é uma nova surpresa.

O último achado que encontrei perdido, merece uma delicada reflexão: um par de tênis.

Encontrei-o junto ao tronco de uma árvore. Pelo tamanho e pelo jeito arrumadinho com que se encontrava no chão, pareceu-me ser feminino.

Como sempre, quando me deparo com esses estranhos objetos encontrados na rua, fico matutando o motivo pelo qual eles foram abandonados.

Já encontrei, entre outras coisas, um pé de sapatinho preto de salto alto, um pé de sandália colorida, um guarda sol quebrado, e outro aberto no meio da calçada, calcinhas, cueca, luvas e um par de bambolês amarrado num coletor de lixo.

Para todos eles fantasiei mil situações para o abandono. É como um jogo de quebra-cabeça: quero encontrar a peça perfeita do encaixe. Mas, claro, não existe. É somente uma mera brincadeira que faço com a minha imaginação.

Mas, aquele par de tênis... É instigante. Ele era quase novo, em perfeitas condições de uso. Ele não se encontrava simplesmente jogado. Ele estava arrumadinho no cantinho da árvore, com jeito de estar esperando seu dono, ou dona, vir buscá-lo.

Estimulado pelo caráter universal do tênis, fui consultar o Oráculo do Porto sobre o misterioso achado. Ele, filosoficamente deu o seu parecer: “Ele estava ali por quê? Porque estava ali”.

Grande ajuda! Mas filósofos são assim mesmo. Ninguém entende muito bem o que eles falam. Aí fui procurar um simples mortal. E a explicação dele me deixou pasmo. Segundo esse meu amigo – que só pensa naquilo – trata-se de uma das estratégias utilizadas para se praticar amor na rua.

Diz ainda, este grande entendido em amor, que ela gosta de ficar descalça, e no dia seguinte retorna para recolher o seu fetiche.

Apesar da atrevida explicação, achei que fazia sentido, no maravilhoso mundo das fantasias. Como velho observador da cultura da nossa gente, fiquei surpreso! Achava que por aqui num tinha disso não.

Mas, o que realmente conta no contexto, é que aprendi que nas ruas não existem perdidos, e sim histórias fantásticas de achados.

Gabriel Novis Neves

02-03-2011

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