domingo, 13 de março de 2011

Trema

Estou “trema de medo” é uma expressão da nossa gente rural.

Santa felicidade desse povo, que só tem trema diante de uma fantasia cultural!

Sofrem de trema pelo aparecimento da mula sem cabeça, do pé de garrafa, do saci pererê, das almas do outro mundo, e por aí vai.

Nada que uma paciente explicação não resolva para o portador do trema inexistente - ensinada pelos adultos para fazer criança dormir.

Temos outro trema, que foi banido da ortografia portuguesa quando um célebre escritor da Academia Brasileira de Letras ocupou a Presidência do Brasil.

Nos grotões deste país, o pessoal ficou trema de surpresa quando souberam que um marimbondo de fogo iria comandar esta nação.

Dizem, até hoje, que o Rei da inflação chegou ao Planalto porque fizeram coisa ruim para o povo brasileiro.

Daí para frente o povo passou a ter trema - em época de posses dos nossos presidentes.

O presidente que assumiu o poder, favorecido por coisa feita, passou para a nossa história como o Rei da inflação, o que causou muito trema no brasileiro.

Aconselhado por um mineiro, resolveu também deixar um legado de âmbito internacional.

Decidiu unificar o idioma dos países de língua portuguesa.

Após inúmeras reuniões, com excelentes resultados práticos, e reflexo imediato no nosso ensino, foi assinado o protocolo de intenções, para que dentro de dois anos estejamos com a mesma ortografia.

A primeira vítima dessa inovadora e corajosa reforma, foi a extinção, para nós, do trema - aqueles dois simpáticos pontinhos que decoravam o nosso feio u.

Sem trema, houve uma melhora acentuada do nosso ensino, cuja comprovação ficou por conta dos excelentes resultados do ENEM.

Cedemos o nosso ingênuo e sábio trema, em benefício da unificação dos povos de idioma português.

O diabo será explicar à nossa gente rural, que trema agora só significa medo, e não mais dois pontinhos em cima de uma letra.

Gabriel Novis Neves

07-03-2011

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