segunda-feira, 14 de maio de 2012

RECEITA ANTIGA


Na campanha eleitoral de 1920 para a Presidência da República, o candidato Washington Luís usou como lema uma frase que pertence à história: “Governar é abrir estradas.”
O Brasil era então um país essencialmente rural e a abertura de estradas era a oportunidade para a população, que vivia sem expectativa de vida no interior, migrar para os grandes centros, e os ricaços dos grandes centros, explorarem as riquezas do interior.
Isso aconteceu há quase um século, e ficou provado que o doutor, que foi deposto por Getúlio Vargas, pensava para o seu tempo.
Impressionante é que nosso Estado, que já foi portal da Amazônia, maior plantador de soja e agora, de borracha, esse lema de 1920 ainda não foi esquecido pelos homens do poder.
No mundo globalizado, da competição, conhecimento, avanços incríveis da ciência e da tecnologia, muitos governantes ainda acham que governar é abrir estradas.
Talvez para exportar a nossa burrice, o que não é de todo um mau programa de governo.
Faz-se muita confusão entre crescimento econômico e desenvolvimento. Este está diretamente relacionado à inclusão social dos menos favorecidos. O crescimento é estatístico e beneficia-se o capital. Não melhora as condições de vida do povo, maioria neste país.
Expulsos dos campos, facilitado pelas estradas ilusórias da felicidade para a terra prometida, sem nenhuma qualificação urbana, atravessam as cidades amontoando-se em suas periferias.
O campo é ocupado pelas modernas máquinas que os homens de dinheiro compram visando lucros e ocupam o lugar do trabalhador rural.
Construir obras não sociais no interior é adiar o problema do desemprego. Após a construção das megas obras defendidas pelo governo, esse trabalhador fica desempregado e gera problemas sociais - então ruma para as cidades atrás da sua sobrevivência e de seus familiares.
O sonho dos homens do poder agora, é que, governar é construir usinas na nossa floresta para produzir o crescimento do Estado.
De um modo geral, os nossos políticos estão investindo as suas economias nas construções de usinas. O que é bom para quem possui informações privilegiadas é bom para todos.
Não ouvi a universidade, que é a instituição indicada, analisar o impacto da substituição das nossas florestas e a ocupação das super usinas, na saúde do nosso meio ambiente.
Pelo contrário, estou com um primor de conceito ambiental, na contramão dos países que investiram em educação: “O excesso de zelo sob alegações de problemas ambientais, pode levar o país a uma situação difícil por falta de energia elétrica. Não dá para pensar em desenvolvimento, sem energia, estradas e obras.”
Concordo. Mas o pessoal capacitado a realizar essas tarefas, é educado, treinado e com salários dignos, o que não acontece por aqui.
Todas as obras do Estado estão paralisadas por falta de pagamento. Mais de R$ 1 bilhão foi cortado do nosso orçamento, e o esforço que se faz para realizar algumas partidas de futebol aqui, seguramente produzirá um atraso de, no mínimo, vinte anos no desenvolvimento de Mato Grosso, segundo estudos feitos pela Universidade de São Paulo (USP).
Isso sim pode levar, por vaidade, nossa nação a uma situação difícil.

Gabriel Novis Neves
24-01-2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.