Estou
fazendo um curso de educação continuada em informática. Sou da geração do
lápis, borracha, caderno de caligrafia, caneta tinteiro em formato de pena -
bem depois é que surgiram as canetas esferográficas.
Também
sou do tempo da máquina simples de escrever, máquinas elétricas e mimeógrafos.
Dos telefones de manivela - ligados a uma central telefônica responsável pela
ligação - e que eram enormes equipamentos pregados nas paredes das casas.
Percorremos
com tremendo atraso tecnológico a longa estrada que nos levou ao computador.
Em
Cuiabá ganhamos um aparelho antigo, que durante anos serviu à PUC do Rio. Foi
instalado na UFMT. Houve necessidade de se construir uma sala especial para a
instalação do computador, com enorme pé direito e uma refrigeração baixíssima
durante as vinte e quatro horas do dia.
No
Natal ganhei dos meus filhos um iPhone que faz de tudo um pouco: é telefone,
computador, máquina fotográfica, calendário, relógio e até ensina a dar nó em
gravata. Todo esse equipamento cabe em um pequeno bolso de uma camisa, e ainda
sobra muito espaço.
Os
avanços da tecnologia são tão impressionantes que o meu novo aparelho já está
obsoleto. Ouvi pelo rádio a informação de uma especialista no setor que disse
que, no verão, os americanos irão lançar o que há de mais espetacular em
conquistas tecnológicas nessa área.
Se
eu fosse uma pessoa bem informada, jamais compraria uma nova máquina, pois
ficaria sempre aguardando a última novidade.
A
geração atual não tem a mínima dificuldade em trabalhar com esses aparelhos,
que precisa de muita memorização e destreza manual.
As
minhas netas pegam esses pequenos aparelhos e, com os dedinhos das duas mãos em
velocidade impossível para mim, mandam e respondem torpedos sem necessidade de
revisão.
Para
mandar uma mensagem pelo iPhone tive que comprar uma fina caneta com borracha
na ponta.
Quando
disse às gurias que a ponta dos meus dedos pegava várias teclas ao mesmo tempo,
elas morreram de rir.
- Vô, o problema é jeito – disseram. - E você não tem o mínimo de noção de como
bater certo na tecla.
- Gurias, vocês têm toda a razão. Não esqueçam, porém, que aprender exige
muito sacrifício e dedicação, além da motivação.
Continuei
explicando a elas que eu, apesar de possuir todos aqueles pré-requisitos, já
perdi inúmeros neurônios – muitos dos quais irrecuperáveis. Esta perda
dificulta a prontidão na ação de certos movimentos.
Dedilhar
com precisão naquelas minúsculas teclas do meu iPhone, por exemplo, é uma
dificuldade. Não sei ao certo se elas entenderam a minha explicação, pois me
olharam com ar espantado e incrédulo. É que, para esta geração informática e
velhice são dois ingredientes que não se misturam, como água e óleo.
Puro
preconceito! Mas que fazer? Eu, por mim estou estudando com afinco. Afinal,
preconceito existe para ser desmitificado.
Descobri
na padaria um jovem advogado da geração da informática.
Pelo
menos três vezes por semana eu passo pela padaria para rever os amigos e bater
um rápido papinho. E, “coincidentemente”, meu iPhone sempre apresenta um
probleminha nesses dias – exatamente quando chego à padaria.
Aproveito
então a presença do jovem advogado e peço alguns esclarecimentos sobre o
complexo aparelhinho.
Aprendi
tanta coisa nesses últimos dias! Estou um verdadeiro craque no manuseio desse
complicado meio de comunicação. E o meu “professor” nem percebeu - ou percebeu?
- que eu estou explorando-o em um curso de informática.
Grande
professor de idosos! Para isso sim, é necessária muita paciência, dedicação e
certa dose de sacrifício.
Além
da satisfação do aprendizado – “somos eternos aprendizes” -, eu posso agora me
comunicar com o mundo pela tecnologia da informática.
Ah,
sim! Minha memória melhorou muito. Estou em plena reposição de neurônios.
Mas,
ainda não consigo dispensar a caneta com ponta de borracha.
Gabriel
Novis Neves
13-04-2012
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