quarta-feira, 2 de maio de 2012

ESQUISITICE


Na infância eu ouvia sempre de minha mãe inúmeros ditos populares. Um deles, por conter certa dose de condenação, me marcou muito. Quando cometia algum deslize ela dizia: “Seu santinho do pau oco! Jogando botão na hora de fazer a tarefa escolar, né?”
Para mim aquela frase soava como uma sentença! Lembro-me que sentia uma grande vergonha, e pensava: “minha mãe não confia mais em mim.”
Mas isso era bem antigamente. Quando os valores morais e éticos eram respeitados, e ao menor desvio deles, éramos chamados ao caminho reto.
Os dias atuais são outros. Vivemos em um país produtor de ídolos, vencedores, gênios, sortudos, e, por que não? - de moralistas.
A transparência é a bola da vez. Frase favorita  dos nossos modernos gênios.
Bem a propósito. Acabei de ler a Lei Nº 8.966, de 27 de agosto de 2.008 - D.O. 27.08.08.
Essa lei tem como autor: Lideranças Partidárias.

Foi aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso - tendo em vista o que dispõe o art. 42 da Constituição Estadual - e o Governador do Estado sancionou.
A Lei tem 3 artigos, e um parágrafo único. Foi publicada em 27 de agosto de 2008. Assina o Governador do Estado.
Todo cidadão sabe que uma lei precisa ser regulamentada por um decreto.
Essa regulamentação, às vezes, demora anos para sair. Neste caso o processo caminhou acelerado.
No 189º ano da Independência e no 122º da República, mais especificamente, no dia 14 de janeiro de 2010, foi assinado o decreto nº 2.327, de 14 de janeiro de 2009.
Houve uma grosseira alteração do art. 2º da lei. O decreto exorbitou a lei. Isso é ilegal! Ele não pode criar uma situação jurídica nova. Especialmente para favorecer quem assinou o ato jurídico.
Aquele artigo trata da “segurança e apoio pessoal dos governadores que ficaram mais de três anos no cargo” - assim dizia a lei.
Na sua regulamentação, esse art.2º passa a ter a seguinte redação: “O planejamento, a coordenação, o controle e o zelo pela segurança patrimonial e pessoal dos ex-governadores caberão aos integrantes do quadro de pessoal da Casa Militar."
Os custos advindos pela alteração desse artigo serão pagos com os recursos dos impostos - pago pelos bondosos contribuintes.
A minha mãe, diante de um escorregão ético desse tamanho e gravidade, não empregaria jamais a sua inocente frase.
Existem outras melhores no nosso dicionário de abusos do poder. A proteção, não é mais só pessoal como manda a lei - que assim deve ser cumprida.

Gente! Agora ela é também patrimonial!
Consultei a declaração de bens dos nossos políticos, no Tribunal Regional Eleitoral. Felizmente eles possuem pequeno patrimônio.
Já imaginaram um governador abonado em patrimônio? Todo o efetivo da nossa briosa e sacrificada Polícia Militar, não daria conta do recado.
Existem certos empresários políticos e políticos empresários, que diversificaram tanto os seus negócios que operam em todo o território nacional e mundial. Pela regulamentação da lei, eles possuem agora direito à proteção do seu patrimônio - por força de um sórdido artifício.
O Estado tem o dever constitucional também de zelar pela segurança física e patrimonial de todo cidadão brasileiro, o que ignora simplesmente.

Na prática agora veremos o dinheiro dos nossos impostos zelando por fazendas, imóveis, residências e meios de transportes, dos beneficiados pela lei de encomenda, enquanto ficamos à disposição dos bandidos.

Ninguém mais suporta a violência neste Estado!
Não apenas a violência que coloca em risco as nossas vidas, mas a imperdoável violência de ataque aos cofres públicos. O orçamento da saúde pública este ano é praticamente o dobro do dinheiro que o governo irá gastar com propaganda. Mais ou menos o preço oficial da Arena Multiuso para a Copa.
A esquisitice para mim é que o decreto da dita regulamentação, não foi assinado pelo Secretário de Segurança e Justiça, nem pelo Procurador Geral do Estado. Em compensação, assinaram os dois militares - o da Casa Civil e o da Casa Militar, além do secretário de Administração. Claro, acompanhado pela assinatura do Governador.
Tudo muito esquisito! Uma verdadeira esquisitice esses fatos recentes!

Gabriel Novis Neves
13-01-2011

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