domingo, 3 de março de 2013

À deriva


Num desses momentos de devaneio, me veio à cabeça comparar a velhice a barcos fazendo água.
Nem sempre, eles, como nós, estão prestes a afundar.
Apenas, pela grande quantidade de uso, tem que navegar apenas em águas calmas.
Dada a fragilidade e desgaste de sua utilização, não é prudente que com eles, desafiemos mares tempestuosos.
A obediência a essas regras é o segredo de sua maior durabilidade.
Ao contrário, são feitos para curtos trajetos, com a única finalidade do prazer, a emoção pela emoção.
Atividades pesqueiras, nem pensar, já que para isso são necessárias embarcações de grande porte e de estrutura sólida, cujo acesso já não nos é mais possível.
Entretanto, o simples desfrutar da natureza é o que realmente conta, sendo que no ocaso da vida, os pequenos arroubos têm um significado muito especial, só vivido pelos que chegaram a essa faixa etária.
Tal como marinheiros experimentados, ousamos menos ao visualizar oceanos ameaçadores. Estamos sempre em busca de um porto seguro onde possamos jogar âncoras.
Por outro lado nos deslumbramos ao simples olhar de tudo à volta, com se numa nave à deriva, já tivéssemos certeza da chegada eminente de socorro.
Esse é o olhar que poderá transformar a velhice na chamada melhor idade, apesar das dores articulares generalizadas que por si só, não são suficientes para nublar toda a beleza desse magnífico planeta terra, que se bem cuidado ainda poderá nos acolher por muitos e muitos anos.
Felizes aqueles com coragem para navegar, mesmo que com barcos fazendo alguma água.

Gabriel Novis Neves
23-02-2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.