Certas notícias merecem uma leitura
especial, pois às vezes a verdade está por trás delas.
Leio que o governo federal autorizou a
contratação de trinta e três novos médicos para atuarem no Programa Saúde da
Família (PSF) em Mato Grosso - que possui cento e quarenta e um municípios
carentes desses profissionais.
Claro que fiquei satisfeito por saber
dessa decisão federal!
Entretanto, o depoimento de um dos
novos contratados me deixou preocupado com relação ao futuro desse profissional
e a qualidade dos serviços oferecidos à população pobre.
“Formei-me em medicina no início deste
ano (2013). Fiz a minha inscrição no Programa de Valorização do Profissional de
Atenção Básica e optei por ficar em Cuiabá. Prestarei os meus serviços na
região do Campo Velho.”
A bolsa oferecida pelo Ministério da
Saúde é de oito mil reais em contrato temporário, bem superior ao que recebe um
médico concursado com curso de pós-graduação no serviço público.
O perfil desses médicos
recém-graduados contratados, enquadra-se em um dos maiores problemas da
formação médica no Brasil: a falta de vagas nos cursos de residência médica,
obrigatório nos dias de hoje para assegurar ascensão dos médicos e melhorar a
sua qualificação profissional.
Todos os alunos que terminam a
graduação em medicina disputam vagas nas residências insuficientes.
Os que não conseguem aprovação aceitam
qualquer tipo de trabalho, pois precisam sobreviver, além de ser mão de obra
barata.
Assim que conseguem uma vaga em um
curso de residência médica, abandonam o PSF.
O grande desafio do SUS é ter médicos
bem formados e próximos das populações mais carentes.
Entretanto, estamos na contramão da
formação desses profissionais ao abrirem, politicamente, mais escolas de
medicina.
Atualmente, temos cento e noventa e
oito escolas formando médicos no Brasil, e a meta do governo é chegar em 2014
com mais quarenta e cinco faculdades de medicina.
O correto, e necessário, seria a
ampliação de novas vagas e cursos de residência médica no Brasil.
Por trás da notícia, preocupações. A
mais inquietante, sem dúvida, é a de que, dos 33 novos contratados, 15 ficarão
em Cuiabá.
O interior continuará sem médicos, com
o total apoio do governo federal.
Gabriel
Novis Neves
14-03-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.