domingo, 31 de março de 2013

Memórias


O cérebro é o grande armazenador de todos os tipos de memória, seja a visual, a olfativa, a auditiva, a gustativa, a tátil.
Todos nós temos, por assim dizer, um órgão de choque preferencial, responsável por reações psicossomáticas decorrentes de estímulos externos negativos, uma memória mais marcante e que se sobrepõe a todas as outras.
No meu caso, por exemplo, é a auditiva. O simples timbre de voz do portador funciona de uma maneira definitiva, ainda que os traços fisionômicos tenham sido apagados pelo tempo.
Graças a alguns acordes, frequentemente revivemos momentos importantes de nossas vidas, algumas vezes até com uma intensidade acima da desejada.
Cientes desse fato, alguns representantes bem conhecidos da música popular brasileira fizeram disso a sua grande alavanca promocional.
Quem nunca teve na vida uma experiência afetiva ligada a uma dessas músicas premeditadamente feitas com essa finalidade específica? Sem falar que esses mesmos sons poderão sempre desencadear reflexos condicionados prazerosos em outras experiências.
As várias mídias usam em suas propagandas estímulos visuais geralmente ligados ao erotismo, com a pura finalidade de aumentar suas vendas.
As drogas ditas legais, por exemplo, usam e abusam dessa fórmula quando vinculam cervejas às mulheres devassas ou os cigarros às experiências turísticas de grande impacto.
Ao final, somos bombardeados de todas as maneiras por propagandas subliminares que, de alguma maneira, falam à nossa libido.
Há que reconhecer a grande habilidade do setor de propagandas. Por isso, os grandes marqueteiros e publicitários são muito bem remunerados.
A memória olfativa - há muito explorada pela indústria dos perfumes - é considerada uma das mais fortes.
Substâncias por nós fabricadas, os chamados feromônios, responsáveis pela atração sexual, conseguem impregnar de tal maneira o nosso cérebro que, segundo estudos, poderíamos passar anos sem ver uma pessoa outrora importante na nossa vida afetivo sexual, que a reconheceríamos na multidão, em qualquer época.
Está superprovado que existe uma especificidade química entre as pessoas e isto seria um dos componentes do chamado AMOR.
Essa seria uma das explicações para as paixões duradoras que atravessam a vida de algumas pessoas.
Cada vez mais a neurociência vem contribuindo para a compreensão de nossas emoções e nossos sentimentos e, principalmente, de que maneira eles podem alterar os nossos comportamentos.
Com o passar dos anos fatos de menor importância em nossas vidas vão sendo deletados e substituídos por outros mais recentes e mais prazerosos. Essa substituição é saudável e denota capacidade de renovação. Passamos a memorizar sempre o que mais nos agrada e interessa, em detrimento do que nos causaria apatia e desencanto.
A chamada memória retrógrada, ou seja, para os fatos mais antigos da vida, é um franco sinal de esgotamento do capital vital.
Preocupação com o novo é sempre uma grande dica, seja através de uma viagem, de um novo interesse científico ou artístico, do aprendizado de uma nova língua ou, quem sabe, até de um novo amor.
Por que não?

Gabriel Novis Neves
21-03-2013

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