quinta-feira, 5 de maio de 2011

MARECHAL SERTANISTA

O primeiro projeto cultural implantado na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) - no campus do Coxipó da Ponte -, foi o Museu Rondon.

Foi uma homenagem da Universidade da Selva ao Marechal Sertanista. Cândido Mariano, como era conhecido e tratado pelos cuiabanos, nasceu no dia 5 de maio de 1865 no distrito de Mimoso (MT). Seu pai era descendente de portugueses e sua mãe de índios bororos. Ficou órfão de pai aos dois anos de idade.

A UFMT, que nasceu para completar o trabalho de Rondon, adotou a sua célebre frase ao penetrar na floresta e chegar ao Salto de Dardanelos em Aripuanã: “Morrer, se preciso for; matar, nunca”.

Não sei o que escrever sobre Rondon, considerado um dos cinco maiores andarilhos da humanidade.

Enalteço as qualidades daquele menino da roça que um dia foi lembrado para receber o Prêmio Nobel da Paz? Do orgulho que sinto em ter nascido no mesmo Estado do mimoseando, que completou a obra do descobrimento do Brasil?

Ou ainda, do grande pacificador dos índios, título reconhecido pelas academias européias? Ou então, do grande estudioso da nossa flora e fauna, considerado o único brasileiro capaz de, cientificamente, participar da expedição do ex-presidente americano Roosevelt em 1913?

É difícil escrever tanto em poucas linhas. Rondon recebeu do governo brasileiro sempre missões impossíveis, e cumpriu todas.

Implantou linhas telegráficas unindo Cuiabá à Manaus, e fez a pé este trabalho. Na ida, instalava postes e linhas, na volta, fazia a revisão.

Foi inspetor das fronteiras do Brasil de 1927-1930, do Oiapoque até a divisa da Argentina com o Uruguai.

Essa inspeção era feita a pé e por canoas. Hoje temos o avião invisível.

A sua história de vida foi uma das referências marcantes para o meu aprendizado e crescimento. Tive a oportunidade de homenageá-lo com o Museu Rondon e com os Amigos de Rondon, colocamos sua modesta estátua na entrada do nosso campus universitário.

A UFMT cuidou dos seus índios e dos seus seguidores, contratando-os como colaboradores de ensino.

Conheci o Marechal na Rua do Campo. Ele estava sentado em uma cadeira de balanço, numa roda de bate-papo, em frente à casa do seu anfitrião Tico Duarte, que vinha a ser meu parente e vizinho. Eu tinha então 10 anos.

Voltava da escola e reconheci o mito. Rondon, na época, já estava na casa dos oitenta, cego, cabeça totalmente branca, pele morena e roupa branca. Parecia uma imagem divina!

Lembro-me que fiquei estático, sem saber o que fazer. Minha prima-irmã percebeu minha emoção e me chamou para cumprimentá-LO.

Fiquei extasiado ao apertar a mão do mito! Queria ter tido a coragem de me sentar ao seu lado e perguntar tudo sobre sua vida. Mas, não tive. Estava encabulado demais.

Ele disse algumas gentilezas para mim e pediu para que eu nunca parasse de estudar.

Deixei aquele ambiente mágico - do encontro do menino com o seu herói -, e fui para casa. Relatei o fato aos meus pais - conheci um mito! Contei para todo mundo esse meu encontro.

Certa ocasião, indaguei porque a rua, que o homenageia, é chamada de Cândido Mariano, com crédito de Marechal Sertanista. Rubens de Mendonça me respondeu que o mimoseando não gostava de ser chamado pelo sobrenome, e o termo sertanista era para diferenciá-lo do Marechal de pijama.

Rondon desafiou a própria vida e foi um exemplo de superação. Venceu a pobreza, o analfabetismo, as centenas de malárias, a vida conturbada em uma cidade grande. Tornou-se uma das principais figuras da história da humanidade.

A vida só o derrotou uma vez: quando nos deixou. Faleceu no dia 19 de janeiro de 1958 no Rio de Janeiro, aos 93 anos de idade, para entrar para a história do Brasil como um dos seus principais heróis.

Rondon deixou-nos um grande legado: “Nada é impossível que não seja derrotado pelo amor e trabalho.”

Gabriel Novis Neves

01-05-2011

Um comentário:

  1. Fiquei sensibilizada. A prima que o chamou para conhecer RONDON era a minha avó NAIR; Tico Duarte, como vc o chamou carinhosamente, era o meu avô Álvaro Duarte Monteiro, amigo íntimo e discípulo de RONDON, o primeiro chefe do SPI - Serviço de Proteção aos Índios em Mato Grosso. Muito leal dedicado, meu avô se entregou a 5 causas: 1. a família; 2. RONDON e os Índios; 3. a Faculdade de Direito de Cuiabá e a UFMT; 4. o Ministério do Trabbalho e por fim 5. Aos amigos que conservou até a morte.

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.