domingo, 1 de maio de 2011

QUEM FOI

Pela manhã assisti a entrevista de uma historiada sobre um interessantíssimo tema: memória fotográfica de Cuiabá. É a sua tese de doutorado. Aborda a Cuiabá do bonde puxado por animal - o burro de preferência – que fazia o trajeto do centro da cidade ao bairro do Porto.

Essa linha do bonde passava pela Rua de Cima, na porta do bar do Bugre, e ia até a agência Migueis, quase na beira do rio Cuiabá.

Era um passeio maravilhoso, embora bem lento, mas vivíamos em uma época em que todo mundo tinha tempo.

Depois surgiram as jardineiras, com as suas laterais abertas e movidas por um motor de baixa potência.

A professora-historiadora apresentou inúmeras imagens fotográficas que ilustram muito bem aquela época. Diz ela que levou anos pesquisando as imagens.

Fiquei surpreso quando ela esclareceu que quase toda a nossa memória visual não se encontra em Mato Grosso. Estão em bibliotecas e órgãos de pesquisas históricas longe daqui, e em posse de colecionadores, especialmente no Rio de Janeiro.

As imagens da velha capital são emocionalmente fortes. A nossa velha Catedral - com sua única torre -, o córrego da prainha que eu tanto amava, com a sua feiúra-bela.

Os bois transportando lenha para ser vendida nas melhores residências de Cuiabá. A esquina da Praça Alencastro com a Praça da República, sede do bar do Bugre. Ruas e becos, paixões do Rubens de Mendonça que inclusive publicou um livro com esse título – “Ruas e Becos de Cuiabá”.

Não senti saudades daquilo que perdemos, e sim um forte nó na garganta, pela certeza que o nosso passado foi saqueado, e o presente construído sem base, prevendo um futuro sem horizonte.

Como era linda a minha Cuiabá! As novas gerações jamais irão reverenciar os construtores daquela civilização. Eles já passaram. Entretanto a riqueza dos seus trabalhos bem que poderiam estar presentes entre nós, caso tivéssemos aprendido a valorizar um pouco mais as coisas do passado, e a preservá-las.

O tempo e a nossa incompetência levaram tudo, inclusive o exemplo de ética dos primeiros moradores desta terra, que tem como padroeiro o Senhor Bom Jesus de Cuiabá e, por adoção, São Benedito.

Vou deixar uma pergunta para os meus amigos:

- Quem foi o primeiro bacharel mato- grossense?

Segundo S. Blake e E. Mendonça -

“Foi elle o DR. Prudêncio Giraldes Tavares da Veiga Cabral, nascido em Cuyabá, a 22 de Abril de 1800 e formado em direito na Universidade de Coimbra, no anno de 1822, tendo sido reconhecido Doutor por decreto de 16 de Setembro de 1834”.

“Há que se reconhecer, desta maneira, até prova em contrário, o direito de ter tido, na ordem chronologica, como o primeiro bacharel mattogrossense”.

Existe alguma marca histórica neste Estado marcando esta conquista? Não. O que mais vemos hoje em dia são homenagens a aventureiros, oportunistas, bicheiros e outros desconhecidos.

“Os vivos necessitam de solidariedade, mortos de homenagens.”

Parabéns professora! Parabéns e obrigado por ter resgatado parte do histórico visual da nossa ex Cidade Verde!

Gabriel Novis Neves

26-04-2011

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