quarta-feira, 28 de novembro de 2012

CRISE SEM FIM


Há pelo menos dez anos os jornais de Cuiabá diariamente denunciam a crise na saúde pública.
São macas espalhadas pelos corredores do Pronto Socorro; pacientes graves aguardando cirurgia; apenas vinte vagas na UTI para atender pacientes graves de todo o Estado. E o Poder Público totalmente incompetente para, pelo menos, minorar o sofrimento dos mais pobres.
Em Várzea Grande, onde existe outro Pronto Socorro, os médicos estão em greve há quatro meses. O governo do Estado, alinhado ao Federal, se nega a repassar R$ 1.3 milhões do Hospital Municipal e do Pronto Socorro de Cuiabá. O fluxo dos pacientes do interior, totalmente abandonado pelo Estado, agrava ainda mais a situação de Cuiabá.
Em compensação, após quase quatro anos de mandato convivendo com essa vergonha, o governo espera reverter o quadro da saúde até 2014.
A principal ação para reverter essa desumanidade que nos agride, pois não afeta os fazedores de leis e os poderosos, foi entregar, de porteira fechada, os poucos hospitais estaduais às ilegais Organizações Sociais de Saúde (OSSs).
Foi um verdadeiro tiro no pé, que só funciona bem nas estatísticas feitas pelos técnicos do governo.
Agora, como presente de Natal, é intenção do Estado tomar conta do antigo Hospital Geral de Cuiabá, que tem um contrato de comodato de trinta anos com a Universidade de Cuiabá (UNIC).
Os irresponsáveis gestores pretendem entregar a gestão do Hospital Universitário de uma universidade privada às Organizações Sociais.
Com uma cajadada só matam dois coelhos. Acabam com a boa escola de medicina da UNIC - juntamente com seus cursos da área de saúde - e fecham rapidamente mais um hospital que atende ao Sistema Único de Saúde (SUS).
A informação do governo é que a Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá aumentou o número de leitos para o SUS. A realidade não é bem essa, muito pelo contrário.
Surge novamente a história do falecido Hospital Egas Muniz, que já teve muitos nomes e cujo único mérito foi o de manter sempre suas portas fechadas com apenas um funcionário – o vigia.
Como conversinha de final de ano, o governo garante que esse hospital funcionará normalmente no próximo ano, mas sem correr o risco de especificar o tipo de paciente que irá receber, e que será administrado pelas eficientíssimas Organizações Sociais.
Dá para acreditar?
O novo Hospital Universitário Júlio Muller, da estrada de Santo Antônio, tem tudo para ser o “Hospital do Esqueleto”.
Os recursos para a sua construção serão divididos meio a meio entre o Governo Federal e o Estadual. Dinheiro do Governo Federal... sabemos como é.
Exemplos recentes não nos deixam esquecer as fantásticas obras do PAC I, PAC II, Transposição do Rio Francisco e as obras do nosso novo aeroporto.
O Governo Estadual está capando recursos dos fundos de algumas secretarias para honrar os repasses para a Assembleia Legislativa, Poder Judiciário, Tribunal de Contas e pagamento dos funcionários.
Investimentos “indispensáveis e inadiáveis” só vemos para a construção da Arena Pantanal. As obras do VLT, até agora sem recursos, obrigou o consórcio vencedor a abrir buracos pela cidade para fingir que está trabalhando, e só.
Em todo o Brasil os médicos sabem que os Hospitais Regionais de Mato Grosso que são administrados pelas OSS não pagam salários, e estão retornando às suas cidades de origem.
A produtividade desses hospitais é baixa para poder dar lucro às OSSs.
O recurso anual que o Ministério da Saúde acrescentou este ano para Cuiabá não cobre nem uma medição do Verdão.
Outro presente de Papai Noel: a iniciativa privada (deve ser o pessoal da mineração e agronegócio) irá terminar as obras paralisadas há trinta anos do Hospital Central do Estado, no CPA.  
No momento em que a Presidente Dilma moraliza as emendas parlamentares, a nossa situação piora, pois toda a melhoria da rede pública de Mato Grosso depende, exatamente, dessas tais emendas, consideradas indecentes pela Presidente.
Para conversa de final de ano não é nada animador o que nos espera no próximo ano.

Gabriel Novis Neves
21-11-2012

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